Os avanços em tecnologia têm sido rápidos em todas as áreas do conhecimento. A terceira era da computação chega ao Brasil com serviços acessados em nuvem ao supercomputador Watson da IBM. A Google associada à Nasa criaram o D.Wave 2x, um computador quântico que processa em 1 segundo o que um desktop convencional levaria 10.000 anos para processar.
Algumas empresas de base florestal já estão incluindo plataformas de inteligência artificial para mensuração, otimização e tratamento de riscos nas operações florestais aliadas à silvicultura de precisão. como ferramentas de competitividade e de sustentabilidade.
Diante de tanta tecnologia e de avanços tão expressivos do conhecimento, como anda a tecnologia de aplicação (TA) de agroquímicos nas áreas de silvicultura? Quando se associa silvicultura de precisão à TA, entram no escopo as ferramentas de georreferenciamento, com mapeamento de áreas que devem ser tratadas e com que quantidade de insumos ou defensivos.
Computadores de bordo capazes de controlar taxas de aplicação nas máquinas operam segundo as recomendações e geram mapas, possibilitando aos gestores verificar a evolução dos trabalhos à distância.
Em termos gerais, a tecnologia de aplicação trata de colocar os produtos químicos em seus alvos, de modo uniforme, contínuo e na quantidade necessária, levando em conta fatores ambientais, como temperatura, umidade relativa do ar, movimentações do ar no ambiente de operação e precipitação, além de aspectos ligados ao alvo, como capacidade de retenção de solução, posicionamento de pragas no dossel, características de relevo e várias outras.
Em geral, os produtos químicos, sejam inseticidas, herbicidas, fungicidas ou nutrientes, são diluídos em veículos como água e óleo, compondo a calda para posterior aplicação. Essa calda pode chegar ao alvo através de imersão de raízes, no solo, nas folhas, nas pragas, etc.
À exceção das iscas formicidas e da imersão de sistemas radiculares, o modo mais usado na aplicação de agroquímicos é a pulverização, que pode ser manual, aérea ou terrestre. A calda passa por circuitos hidráulicos e é projetada para o alvo em forma de gotas. Ao chegarem ao alvo, as gotas precisam se manter nos sítios desejados conforme cada produto; por exemplo, inseticidas que funcionam por ingestão precisam estar onde os insetos irão se alimentar, herbicidas pré-emergentes devem estar na solução do solo.
Desse modo, o processo da aplicação se inicia antes da aplicação, na homogeneização das caldas de aplicação, passando pela geração e pelo comportamento de gotas e na deposição sobre os alvos. Assim, sistemas de silvicultura de precisão e controladores eletrônicos não asseguram os melhores resultados de eficiência e eficácia no campo, e, em contrapartida, operações bem efetuadas podem trazer grandes resultados, mesmo sem sistemas eletrônicos embarcados.
O mercado de agroquímicos aplicados em silvicultura no Brasil gira em torno de US$ 150 milhões, sendo cerca de 70% herbicidas, e os demais 30%, inseticidas e fungicidas. Não é pouco comum encontrar perdas acima de 20% nos sistemas de tecnologia de aplicação adotados no campo. Pode-se dizer que são perdidos de US$ 15 a US$ 20 milhões por ano, com aplicações inadequadas de produtos químicos em áreas florestais no Brasil.
Em trabalhos de campo desenvolvidos no Mato Grosso do Sul, no Paraná e em São Paulo, foi possível verificar problemas sérios de homogeneização de caldas na mistura dos herbicidas. Houve variação de tempo entre 1 e 2,5 horas após o início das aplicações paras as caldas ficarem homogêneas dentro dos depósitos dos pulverizadores; em algumas máquinas, mais da metade do tanque já havia sido aplicada quando a calda ficou uniforme.
Todo produto que sai da máquina e não chega ao alvo pode ser definido por deriva. Desse modo, dependendo de como as gotas são geradas e das condições ambientais e do veículo utilizado nas aplicações, é possível que até 89,1% do produto não cheguem ao alvo em aplicações aéreas.
Aplicações de doses abaixo do recomendado por ineficácia dos sistemas de aplicação e manejo apoiado sempre nos mesmos ingredientes ativos ou modo de ação podem induzir resistência em plantas daninhas, pragas e patógenos, aumentando os problemas de controle no médio e no longo prazo.
A seleção e o dimensionamento dos sistemas de aplicação são, então, fundamentais para assegurar os melhores resultados, mas não são suficientes. As operações no campo são realizadas por pessoas em milhares de ações diárias ao longo do tempo. Um conjunto de normas e procedimentos adequados aos objetivos de cada usuário é necessário, aliado a sistemas de controle de qualidade eficazes.
Outro fator relevante para que as empresas sigam abaixo das possibilidades em TA é a necessidade de quebra de paradigmas. Até poucos anos atrás, o mercado desejava mais moléculas para enfrentar os desafios que vinham surgindo com plantas daninhas, pragas e doenças.
Parte dessas demandas começa a ser atendida: até outubro de 2016, existiam cerca de 91 marcas comerciais registradas para a cultura do eucalipto, segundo a Aenda. Não é possível manter as mesmas ferramentas de aplicação para uma variedade grande de produtos. A evolução precisa ser contínua.
Passos para desenvolvimento da Tecnologia de Aplicação:
1. Diagnóstico:
Identificar o status dos sistemas adotados, próprios ou de terceiros, com uma avaliação criteriosa de pessoas, máquinas, procedimentos e matriz decisória. Priorizar as demandas em função de:
• Produtos utilizados;
• Alvos;
• Colaboradores;
• Comunidade;
• Meio ambiente, e
• Governo.
2. Adequação de processos:
Estabelecer um plano de avanço estratégico e definir os objetivos da TA para a fase do processo, incluindo atividades inesperadas, como ataques de pragas não previstos. Avaliar o nível tecnológico necessário para atender às necessidades identificadas, levando em conta eficiência e simplicidade. De acordo com a escala, as exigências e os riscos, definir os melhores modelos tecnológicos, que podem ser um pulverizador costal ou sistemas de silvicultura de precisão e de inteligência artificial.
3. Adequação de pessoas:
Transformar a força de trabalho, buscando a produtividade pela educação em todos os níveis do processo, de acordo com a tecnologia definida para cada etapa do processo produtivo.
4. Inovação incremental:
Transformar o esforço inovador em rotina. O modelo mental deve estar orientado a confrontar o que está estabelecido. Só assim será possível adotar novas tecnologias, produtos e ferramentas que surgirem no mercado.
Com a velocidade da inovação e do volume de informações disponíveis em tempos de conectividade, é praticamente impossível que o gestor de silvicultura consiga acompanhar, estudar ou simplesmente ler tudo que surge em todas as áreas de conhecimento de suas aplicações.
Diante disso, Adner, professor de estratégia da Tuck College of Business, do Darmouth College, entende que os mercados precisam de colaboração entre participantes para tomar forma. As empresas precisam construir redes de cooperação entre investidores, fornecedores, clientes e negócios complementares, formando, assim, ecossistemas inovadores.
As melhores experiências dependem, então, de iniciativas em quatro áreas: nos colaboradores, na tecnologia que os apoia, na inovação e nas parcerias com a cadeia de fornecimento. Desse modo, será possível reduzir perdas milionárias, produzindo mais florestas, em ambientes mais saudáveis e socialmente mais justos.