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Wendel Magno de Souza

Pesquisador Senior em Matologia Florestal na Suzano

OpCP82

Estratégias de manejo do broto-ladrão no sistema de talhadia do eucalipto
Por que recomeçar se a base já está pronta? O sistema de talhadia, também chamado de condução, em povoamentos de Eucalyptus tem ganhado destaque por sua eficiência. Em vez de eliminar todo o material e reiniciar o ciclo, essa estratégia aproveita o sistema radicular já estabelecido, garantindo estabilidade fisiológica e reduzindo os custos operacionais em até 50%. Entre suas principais vantagens estão: rápido crescimento inicial e maior eficiência no uso dos recursos essenciais (água, nutrientes etc.). 
 
Além de ser uma solução econômica, atende às demandas ambientais usando racionalmente os recursos disponíveis (máquinas, combustíveis, mudas, insumos etc).

Mas aqui vai a provocação: estamos realmente adotando uma estratégia sustentável e inovadora ou apenas encontrando uma forma elegante de cortar custos de formação? O manejo por talhadia apresenta potencial produtivo comparável ou superior à reforma convencional, desde que sejam implementadas práticas rigorosas, fundamentadas em pesquisa, procedimentos silviculturais e pelo planejamento de longo prazo. Afinal, o sistema de talhadia não começa após o corte, mas sim no ciclo anterior, quando a primeira muda é plantada no solo. 

Entretanto, o processo enfrenta desafios, como a sobrevivência das cepas, fortemente influenciada pela qualidade e distribuição dos resíduos de colheita e pela altura do corte, danos por formigas cortadeiras, eficiência dos métodos de desbrota e ocorrência de brotações epicórmicas indesejadas, popularmente conhecidas como brotos-ladrões.

Quando não controlado, essas brotações podem comprometer a uniformidade, reduzir o diâmetro, altura e vigor do fuste selecionado. A definição do momento ideal para seleção do fuste (desbrota), precoce ou tardia, permanece como um dos principais pontos de divergência no setor florestal pois temos diversas variáveis envolvidas, clima, clone, solo etc. No campo, a desbrota precoce, realizada aproximadamente 90 dias após o corte, utilizando a técnica de deslocamento da casca, tende a maximizar a emissão de brotações indesejadas, intensificando a competição intra-cepa.

Por outro lado, a desbrota tardia pode reduzir esse efeito, devido à maior capacidade competitiva do fuste dominante, embora não elimine totalmente a ocorrência dessas brotações. Essa variabilidade reforça a complexidade do sistema e a necessidade de estratégias de manejo adaptadas às condições locais, considerando fatores como material genético, sazonalidade, regime pluviométrico, técnica empregada e momento da desbrota.

Operacionalmente, o controle dos brotos-ladrões pode ser realizado por métodos mecânicos ou químicos. O controle mecânico, utilizando ferramentas como foices, motopodas e cavadeiras manuais, é o mais usual. Normalmente, esse método é empregado em fases iniciais, alguns dias após a desbrota, quando a copa ainda permanecer rente à cepa. 

Atualmente, essa técnica vem sendo cada vez menos utilizada, devido à indisponibilidade de mão-de-obra, baixo rendimento, custo elevado e problemas relacionados a ergonomia e segurança dos trabalhadores. 

O controle químico, com uso de herbicidas, torna-se viável em estágios mais avançados de desenvolvimento da floresta, aproximadamente 200 dias após o corte, exigindo conhecimento e técnica adequada. A aplicação, majoritariamente, deve ser dirigida aos brotos-ladrões, evitando a deriva nas folhas do fuste selecionado. Para uso correto da técnica, é preciso muito conhecimento básico de fisiologia e comportamento da molécula na planta.

Herbicidas de contato, como glufosinate-ammonium, têm sido utilizados, embora exijam elevada cobertura do alvo para maximizar a performance, além disso observa-se rápida regeneração dos brotos-ladrões. A molécula glyphosate também é utilizada para tal finalidade. Entretando, dada sua alta mobilidade e translocação, sintomas de fitotoxidez e redução do crescimento têm sido relatados. 

Alternativamente, moléculas do grupo das auxínas sintéticas (triclopyr e fluroxypyr) têm demonstrado potencial de controle. Contudo, pouco se sabe sobre o impacto real na produtividade da talhadia em detrimento a toxidez por herbicidas sistêmicos. Essa observação traz consigo os seguintes questionamentos: existe uma interação e/ou compartimentalização entre as brotações indesejadas e o fuste selecionado? Se sim, quais mecanismos estão intrinsecamente envolvidos no processo?

O manejo do broto-ladrão, assim como a determinação do método de controle, deve levar em consideração os seguintes aspectos: idade da floresta, momento da desbrota, porte ou biomassa do alvo, altura da copa do fuste selecionado em relação ao broto-ladrão, dose recomendada e tecnologia de aplicação. 

Assim, o sucesso do controle químico está diretamente relacionado a qualidade da aplicação (cobertura do alvo, penetração de gotas etc.), timing de aplicação, condições climáticas favoráveis (velocidade do vento, temperatura e umidade relativa), especificações técnicas e normas de segurança para evitar impacto à cultura e ao meio ambiente. 
 
Face ao exposto, o manejo dos brotos-ladrões é uma atividade complexa, influenciada por uma série de fatores relacionados ao clima, manejo e genética. A alta variabilidade entre materiais genéticos (clones), ambientes de produção e escassez de estudos aplicados nos leva às seguintes indagações: qual o impacto da interferência pelos brotos-ladrões à produtividade? Existe um nível tolerável? Quais são as alternativas de controle operacionais mais viáveis? 

Perguntas como essas reforçam a importância do controle do broto-ladrão e acendem um alerta para o desenvolvimento de estratégias futuras em florestas sob regime de talhadia. Na prática, isso exige ações integradas, planejamento operacional e excelência na execução para minimizar perdas de produtividade. Aqui na Suzano acreditamos que, mais do que uma alternativa, a talhadia do eucalipto é um caminho promissor para resiliência, sustentabilidade e competitividade e deve receber a mesma seriedade que o manejo de implantação e reforma, e para isso estamos fazendo muitas pesquisas nessa área.

1. Talhadia com brotos-ladrões
2. Talhadia após controle quimico dos brotos-ladrões