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Flávio Roberto Silva de Azevedo

Presidente do Instituto Aço Brasil

Op-CP-17

Estratégias da indústria do aço para vencer a crise

O setor siderúrgico, desde o início das turbulências econômicas no último trimestre de 2008, vem buscando adotar estratégias para ajustar-se à nova situação em prol da retomada do seu desenvolvimento. Até setembro de 2008, as perspectivas promissoras propiciadas pelo crescimento da demanda levaram a maioria das empresas siderúrgicas a desenvolver ambiciosos programas de investimentos para atender o crescimento do mercado interno, preservando e ampliando presença nos mercados externos.

Até a deflagração da crise, as principais preocupações de âmbito setorial eram as condições de suprimento, os crescentes custos dos investimentos, as carências de infraestrutura diante das expansões projetadas e os desafios para ajuste às novas demandas do mercado e aos cada vez mais exigentes padrões ambientais e sociais.

Entretanto, repentinamente, a produção industrial declinou, e as siderúrgicas viram-se forçadas a antecipar paradas para manutenção de equipamentos, desligar altos fornos, promover férias coletivas e outras ações drásticas que minimizassem os impactos da necessária adaptação rápida. Nesse novo contexto, boa parte daquelas preocupações teve sua urgência postergada ou sua importância reduzida.

O setor registrou, nos meses de novembro e dezembro, quedas de 50% a 60% nas vendas e produção das suas usinas. Enfrentou esse cenário sem poder contar com a saída tantas vezes utilizada no passado, de compensar quedas de demanda interna com aumentos das exportações.
A única alternativa de curto prazo foi a paralisação de unidades de produção, com todas as consequências para uma indústria de alta intensidade de capital, custos fixos elevados e pay backs bastantes longos.

O adiamento dos planos de expansão tornou-se também inevitável, com exceção aos projetos em estágio de não retorno. Experimentamos momentos difíceis, mas esse setor, acostumado à adversidade e aos mais diferenciados ciclos, os está enfrentando com agilidade, firmeza e otimismo.

O que se observa atualmente são sinais positivos de superação da crise, devido aos amplos pacotes de estímulo econômico da maioria dos governos. Em pouquíssimos casos no mundo, as medidas implementadas pelos governos tiveram destinação específica ao setor siderúrgico, mas seus resultados mostram-se positivos para o setor, na medida em que impulsionam atividade de diversos segmentos intensivos em aço.


Associando-se a isso, no Brasil, os novos investimentos projetados para as áreas de petróleo e gás, energia, transportes e portos, infraestrutura urbana para atender à Copa do Mundo em 2014, permitiram ao setor traçar razoáveis, mas prudentes, expectativas de que a recuperação verificada nos últimos três meses possa sustentar-se nos próximos 2 anos, apesar de as estimativas para 2009 indicarem queda da demanda da ordem de 23% sobre 2008 no setor, retroagindo aos níveis de 2006.

Se confirmadas as previsões de retomada do crescimento da economia, poderemos, em 2011 ou em 2012, recuperar o nível de consumo no mercado interno registrado em 2008, de 24 milhões de toneladas de produtos por ano. Devemos chegar ao final de 2010 com a capacidade instalada de 48 milhões de toneladas de aço bruto, cerca de 100% acima da demanda projetada para o mesmo ano, o que preocupa o setor.

No plano externo, as estimativas da OCDE e World Steel Association indicam que, devido ao avanço dos projetos de expansão iniciados antes da crise, o excesso de capacidade sobre a demanda mundial deve superar os 500 milhões de toneladas, mais de 10 vezes a capacidade instalada do parque siderúrgico nacional.

Desbalanceamento entre a oferta e a demanda acarreta grandes distorções nos preços e nos fluxos internacionais de produtos siderúrgicos, acelerando a reintrodução de barreiras protecionistas ao comércio, conforme visto desde o início da presente crise. No cenário interno, preocupa a suspensão das medidas anticrise, sem a efetiva consolidação da retomada da demanda e dos investimentos no país, bem como, para alguns setores, a retomada das exportações, pois existem ainda problemas de competitividade sistêmica do país. A agenda pós-crise, portanto, deve necessariamente incluir a discussão de medidas, tais como:

 

  • desoneração dos investimentos e exportações;
  • questões trabalhistas diversas;
  • reforma do sistema tributário, e
  • revisão dos marcos regulatórios em áreas como infraestrutura e meio ambiente.

O Instituto Aço Brasil alinha-se com as propostas relativas aos diversos temas defendidos pela CNI, Ação Empresarial e Federações de Indústrias e manifesta o pleno engajamento do setor siderúrgico para sua aprovação e implementação, por entender serem elas indispensáveis ao desenvolvimento sustentável do país.