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Helton Damin da Silva

Chefe Geral da Embrapa Florestas

Op-CP-26

A energia da floresta

Diz a mitologia grega que Prometeu roubou o fogo de Zeus e o apresentou ao homem e o ensinou a usar. Por esse ato, Zeus condenou-o a ficar acorrentado a uma rocha por toda a eternidade. Mitologia à parte, desde que o homem dominou o fogo, a madeira passou a fazer parte da matriz energética mundial. Fonte de energia renovável, sustentou como combustível principal os avanços da chamada Revolução Industrial, nas suas diversas edições, desde o século XVIII.

No Brasil, a partir da década de 1950, no início do crescimento da indústria nacional, do setor agropecuário e do princípio da "explosão” demográfica, incentivaram a busca de alternativas energéticas como o petróleo, álcool, eletricidade, energia nuclear, eólica, entre outros, resultando na diminuição da dependência da madeira como alternativa energética.

Ressalte-se que, em termos potenciais, o percentual de participações da madeira na matriz energética passou de 20% a 30%, a década de 1960 para 14,8% nos dias atuais. A queda observada pode ser atribuída à urbanização da população que passou a consumir mais energia elétrica e substitui a madeira na cocção de alimentos.

Esses fatos não contribuíram para a diminuição do volume de madeira consumido, pois a aumentou a necessidade de energia em função do aumento das atividades industriais. As florestas naturais sempre foram as principais fornecedoras de matéria-prima para energia.

O aumento da consciência ambiental e a necessidade de produção de madeira levaram à busca de alternativas de plantio das chamadas florestas para produção de energia, fato que ajudou a impulsionar a ciência florestal a produzir conhecimentos silviculturais e a identificar espécies adaptadas a plantios puros, para que, de forma sustentável e competitiva, substituíssem as florestas nativas como fonte fornecedora de matéria-prima.

O setor produtor de madeira para energia evoluiu, responde pelo fornecimento de aproximadamente 51% das necessidades atuais e busca novas alternativas, inserindo-se aí os bicombustíveis (bio-óleo, celulignina, alcool); técnicas que melhor aproveitem a energia da madeira;  briquetagem; equipamentos mais eficientes, entre outros.

Mostra-se, também, como alternativa sustentável, seja ambiental, pelo potencial de sequestro de gases de efeito estufa (CO2) e uso eficiente dos solos, seja pela geração de emprego e renda, independente do tamanho de produtor e por seu potencial produtivo.

O setor das florestas plantadas é um importante segmento nas políticas públicas e ambientais. Tem contribuído na busca de novas fronteiras para expansão dos plantios florestais para produção de madeira para energia, na integração entre culturas agrícolas, possibilitando a recuperação de áreas degradadas ou em processo de degradação e tornando-se uma alternativa como fonte de insumo para outros setores industriais dependentes de energia.

O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal, sendo 84% para abastecimento da indústria siderúrgica. Em termos mundiais, é o terceiro maior consumidor, ficando atrás da China e da Índia.

As florestas plantadas abastecem o setor energético dependente da madeira, produzindo, aproximadamente, 23 milhões de metros cúbicos e gerando anualmente R$ 1,57 bilhão em tributos. O País detém o maior nível de conhecimentos e tecnologias florestais em nível mundial e as florestas plantadas mais produtivas do mundo.

Além disso, tem áreas para novos plantios, enorme potencial de contribuição na produção de energia limpa, pois a geração de energia elétrica, nos moldes atuais, tem sido questionada pelos impactos ambientais produzidos. Esses fatos colocam as “florestas energéticas” como uma das principais fontes, seja na geração de calor, seja para carvão, ou ainda energia elétrica.

Para tanto, necessita de programas que permitam a expansão dos plantios, uma análise criteriosa dos impactos ambientais e a necessidade de investimentos em equipamentos mais eficientes. Esse é o futuro. Essa é a prioridade. E tudo começou com a admiração de Prometeu pela raça humana, e, mesmo sendo castigado por Zeus, achou sensato ensinar ao homem, pois, se ele dominasse o fogo, diminuiria a sua dependência dos deuses. Sem medos. Graças a Deus!