Gerente Socioambiental do Grupo Plantar
AsCP25
... E então Deus viu que tudo era bom. Esse versículo, extraído do livro do Gênesis, representa a contemplação de Deus sobre a obra por Ele criada, chamando o homem a admirá-la e a viver em harmonia com ela.
É certo que o planeta sempre figurou como uma espécie de “ventre”, e a natureza como uma espécie de “cordão umbilical” a alimentar as necessidades humanas. Neste cenário, a vastidão dos recursos ambientais, amparada no dogma da infinitude e na imperiosidade do progresso, adormeceu, por séculos, a consciência da preservação, que só ganhou destaque em meados do século XVIII, impulsionada pelas transformações decorrentes da Revolução Industrial e suas consequências socioambientais.
Os impactos das chaminés fizeram propagar a ideia de que é preciso educar ambientalmente o homem. Fazê-lo compreender a consequência de suas atitudes para a manutenção da vida do planeta. Assim, o que conhecemos hoje por educação ambiental, principia sua jornada de destaque, tornando-se pauta chique, moderna e socialmente correta.
Logo, por incrível que pareça, somente no final do século XVIII e início do século XIX é que o mundo despertou para a necessidade da preservação e conservação dos recursos ambientais enquanto condição fundamental à manutenção da vida no planeta.
Sim, desde a Revolução Industrial a sociedade tem tentado educar-se ambientalmente e, infelizmente, tem falhado. Onde está o gargalo? Uma das respostas, talvez propositalmente negligenciada, está no alheamento, vilão do pensamento humano, inibidor da compreensão daquilo que o homem não consegue enxergar, materializar, concretizar.
No mais das vezes, o que se percebe dos indivíduos em relação à temática ambiental é um comportamento de distanciamento, de alheamento em relação à relevância da temática. Não percebo, não materializo, não entendo, não me preocupo.
Curioso observar, especialmente sob o viés da educação tradicional, como a natureza e os aspectos que a rodeiam são tratados de forma alheada, romantizada, superficial e desconexa da realidade. Quem não se recorda do romantismo das abordagens sobre o dia da árvore, da água, do solo e tantas outras datas? Por que tais abordagens não foram capazes de formar indivíduos ambientalmente maduros? Entendo que uma das respostas está, justamente, no alheamento das abordagens utilizadas e na romantização da temática, que impedem a compreensão exata e eficiente do ensinamento a ser transmitido e incorporado.
A natureza e os recursos dela advindos, apesar de belos e divinos, não podem ser tomados puramente como algo sublime, bucólico, distante. A natureza é concreta e deve ser tratada como tal, ou seja, com o mesmo pragmatismo que norteia a vida em sociedade.
Freud entende que a capacidade de pensar e, consequentemente, de se preocupar está intimamente relacionada à percepção, de modo que as impressões que recebemos do mundo são a base para a nossa formação como cidadãos. Bebendo da fonte Freudiana, se a percepção da natureza é alheada, romântica e superficial e se a educação ambiental tradicional ou familiar não for capaz de romper tal barreira, inexistente será a população capaz de estar verdadeiramente convencida quanto à necessidade de adoção de ações de preservação adequadas e eficientes. Portanto, é preciso materializar a abordagem da temática ambiental, tornando-a palpável e perceptível aos olhos e entendimento humanos, assim o fazendo desde a infância.
O abandono do alheamento impõe que tratemos a temática ambiental com a seriedade e a sobriedade que ela exige. Impõe, ainda, o abandono de abordagens puramente emotivas e vazias de empirismo, substituindo-as por tratativas racionais e técnicas, recheadas de vivência, experiência, de alternativas e soluções factíveis para o enfretamento e a resolução dos problemas ambientais.
Abandonar o alheamento exige que cada indivíduo mergulhe na compreensão da temática ambiental não como mero expectador, mas como principal interessado. A concretização da abordagem ambiental deve ter a capacidade de suscitar no indivíduo a compreensão de que, embora o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado seja de todos, a responsabilidade por preservá-lo é individual.