Coordenadora de Sustentabilidade da Eco Brasil Florestas
Op-CP-32
Nos próximos dois anos, o mundo estará discutindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em que o setor florestal tem fundamental importância. O ano de 2015 será de decisões, como a implantação dos ODSs, os resultados obtidos na Rio+20 e, no futuro, políticas multilaterias sobre florestas. Estes foram, entre outros, assuntos tratados no 10° Fórum das Nações Unidas para as Florestas, realizado em Istambul, em abril.
Além dos ODSs, a ONU tem por preocupação a agenda posterior a 2015 no que se refere aos padrões de produção e consumo, economia verde, financiamentos e contabilidade do capital natural. O setor florestal brasileiro é referência em produção florestal sustentável, tanto no fornecimento de produtos florestais madereiros e não madereiros quanto por seu potencial em fornecer serviços ambientais a partir de suas florestas.
Será importante sua atuação e liderança em 2015 e pós 2015, demonstrando ao mercado internacional seu potencial em exercer uma de suas principais características: ser uma atividade econômica que contribui com a construção de uma economia verde.
Igualmente importante é a oportunidade de divulgar o potencial da silvicultura brasileira a investidores comprometidos com o desenvolvimento sustentável, uma vez que essa atividade está alinhada aos principais compromissos internacionais, dentre eles o Pacto Global.
Com mais frequência, tais investidores, signatários do Programa de Investimentos Responsáveis (PRI), vinculado às Nações Unidas, participam na implantação de políticas empresariais, fomentando e coordenando a criação de comitês de sustentabilidades, contribuindo com o monitoramento de impactos e dependência dos recursos naturais; na avaliação de riscos e oportunidades relacionados ao negócio; na redução de emissões e de utilização de recursos naturais e no monitoramento da opinião das partes interessadas.
Acompanho experiência semelhante e tenho, nas ferramentas para promover essa gestão, um desafio. O envolvimento de investidores aproxima empresas florestais de menor porte ou em implantação das ferramentas de estruturação de estratégias para a sustentabilidade, ferramentas estas que avaliam o cenário atual de atuação da empresa, definem uma visão futura de sucesso, posicionam a empresa em seus investimentos em inovação e na sua inserção à nova economia verde.
A definição de uma visão de futuro não apenas proporciona a implantação de modelos de gestão estratégicos dimensionados para o momento financeiro do negócio, como também define a curva de posicionamento da empresa em função do tempo, nas diferentes etapas de implantação da sua política de sustentabilidade, facilitando a comunicação e o entendimento pelos diferentes stakeholders sobre seus propóstios.
Contextualizado, posicionado, com visão de futuro e missão, o empreendimento define seus objetivos, metas, indicadores para a cadeia de valor, estrutura seu radar de desempenho e seu cockpit de gestão em sustentabilidade.
Implantar modernas ferramentas de gestão estratégica pode ser óbvio para grandes empresas do setor florestal, mas prematuro para outras, menos capitalizadas. No entanto um escopo básico pode ser abordado na construção de políticas consistentes de sustentabilidade, tendo a silvicultura como sua promotora. Elenco aqui alguns pontos, que podem ser implantados por empresas com diferentes desempenhos socioambientais e econômicos:
• Estabelecer diretrizes básicas e exequíveis de organização e monitoramento do manejo florestal pautadas nos princípios, nos critérios e nas melhores práticas dos certificados socioambientais, mesmo que não certifique.
• Identificar e preservar fragmentos florestais com alto valor de conservação que possam conectar-se com outros fragmentos e/ou comunidade do entorno, servindo à preservação da biodiversidade ou ao uso sociocultural, costumário ou de segurança alimentar.
• Agregar valor e comunicar as boas práticas identificadas nos diferentes processos de manejo florestal (manutenção de vias, construção de passagens molhadas, contenção de processos erosivos, retirada de madeira de baixo impacto, proatividade no relacionamento com vizinhos, logísitica de baixo impacto, organização de documentos legais entre outros).
• Tratar o combate ao fogo e seu histórico de contenção como uma das melhores práticas e esforços de prestação de serviços ambientais da silvicultura.
• Desenvolver capacidade interna para identificar desafios e oportunidades na construção de uma visão de futuro sustentável, como também para estabelecer processos e análise crítica sobre impactos sociais e ambientais, influência dos stakeholders e de aspectos relevantes da sustentabilidade.
Tive a oportunidade de vivenciar a construção da agenda socioambiental dentro de reuniões operacionais, e a participação dos colaboradores florestais é um diferencial surpreendente.
Nessas reuniões, foram tratados diferentes temas sociais e ambientais, entre os quais, a implantação de processo de restauração de áreas degradadas, em que os colaboradores tiveram atuação fundamental no desenvolvimento de empresas prestadoras de serviços para a adequação das propriedades à legislação ambiental, retirada de exótica de Áreas de Preservação Permanete e para a própria restauração.
A transferência de tecnologia pelas áreas operacionais florestais é muito intensa e nem sempre é mensurada. O mesmo ocorre com fomentados e arrendamentos, principalmente, na obtenção de certificação ambiental ou adequação à legislação ambiental.
Ao redor da silvicultura, se desenvolvem empresas que prestam algum tipo de serviço socioambiental, que, sob sua influência, praticam as principais políticas do manejo florestal, gerando empregos, empregos verdes e renda. Essa influência reflete-se também nas cidades onde os colaboradores vivem e se relacionam, surgindo entidades sociais e cooperativas a partir de atitudes voluntárias.
Na agenda de gestão municipal, está inclusa a utilização de ferramentas já há algum tempo adotadas pela iniciativa privada, como a contabilização de suas emissões, agendas estratégicas e relatório de sustentabilidade, planejamento técnico e processos participativos.
Segundo a Bracelpa (2013), o setor conta com 220 empresas com atividade em 540 municípios, localizados em 18 estados. A maior parte desses municípios conta com a atividade florestal, setor que pode contribuir muito, principalmente na formação de capital social e na transferência de tecnologia em planejamento e gestão territorial. Quem sabe transferir as melhores práticas de gestão seja um caminho de cooperação entre poder público e setor florestal, para a construção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável…