Clima sempre foi um assunto amplamente discutido em todas as rodas de conversa que cercam o setor agrícola e florestal Brasil afora. Inicialmente, o embasamento para as discussões era muito prático e até mesmo perceptivo. Mesmo assim, muitas das decisões tomadas com base neste embasamento eram bastante assertivas, levando em consideração que, à época, não possuíamos a tecnologia que temos disponível nos dias de hoje. Parte desta assertividade se dava por uma maior constância no comportamento climático.
Com o passar do tempo, tivemos inúmeros avanços tecnológicos. Hoje, conseguimos modelar, prever eventos climáticos importantes, estimar índices pluviométricos e temperaturas nos curto e médio prazos, além de uma série de outras informações que nos ajudam a entender e prever tal comportamento.
Entretanto, o clima continua sendo a variável mais incerta e menos controlável de todo o processo produtivo agrícola e florestal. Esta incerteza vem sendo potencializada por uma crescente inconstância no comportamento climático no país como um todo, com alterações importantes nos indicadores de pluviometria e de temperaturas médias, em especial quando analisamos as oscilações de temperatura e os longos períodos de estiagem em locais onde a pluviometria era regular.
Quando colocamos uma lupa em Mato Grosso do Sul, estado onde trabalho atualmente, vimos, nos últimos anos, geada em regiões onde não ocorriam anteriormente; médias das temperaturas máximas aumentando de 1 a 2 ºC em relação ao histórico; índices pluviométricos de 30% a 40% abaixo do histórico e, muitas vezes, ocorrendo fora do período típico. Porém, estamos expandindo nossa base florestal no estado e não temos nenhuma intenção de desacelerar. Portanto, como conciliamos este crescimento com toda esta incerteza climática?
Antes de tudo, é importante ressaltar que a Suzano tem um direcionador que diz que “Só é bom para nós, se for bom para o mundo”, e combater a crise climática faz parte dos compromissos de Renovar a Vida da Suzano. Sabendo da nossa responsabilidade, temos o compromisso de reduzir em 15%, até 2030, a intensidade das nossas emissões de Gases do Efeito Estufa dos escopos 1 e 2. Vale destacar que a Suzano também assumiu o compromisso de remover mais 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2025, o equivalente ao que a cidade de São Paulo emite em dois anos. Faremos isso ampliando, conservando e recuperando nossas florestas nativas e plantadas.
PADRÕES DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR
1. Antes de 1960: Oscilações menos extremas entre El Niño e La Niña
2. Depois de 1960: Oscilações mais extremas entre El Niño e La Niña
Dito isso, como ponto de partida, de uma forma bem macro, entendemos que a condição geral da floresta é um fator importante para mitigar os efeitos climáticos adversos. Mas vai além, dado que para termos uma floresta em boas condições, durante todo o processo de formação, precisamos atravessar diversos momentos de maior complexidade no que diz respeito a clima. Segue agora uma visão segmentada na tentativa de separar cada processo da formação florestal.
AMPLITUDE DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR - NUMERO DE EVENTOS
1. Antes de 1960: Oscilações menos extremas entre El Niño e La Niña
2. Depois de 1960: Oscilações mais extremas entre El Niño e La Niña
Iniciando pela constituição da base do solo, o mapeamento de solos como ferramenta de planejamento e indicação de manejo é uma
realidade na empresa e permite capturar ajustes em região de cultivo. Precisamos pensar em práticas que permitam um escoamento lento e uniforme das chuvas, adotando modelos e práticas conservacionistas mais voltadas para a distribuição e menos voltadas para a contenção e armazenamento das águas.
Outro ponto importante que precisamos falar a respeito é do manejo nutricional em áreas com baixos teores de argila e da oportunidade de construção do perfil de fertilidade desses solos, promovendo um maior arranque e uma maior uniformidade no processo de formação da floresta. Sabemos que este último tema não é unanimidade, porém constitui uma das linhas de investigação da nossa área de pesquisa e desenvolvimento.
No processo de plantio, talvez a maior oportunidade esteja na escolha do plantel clonal. Temos uma importante cadeia de experimentação que nos ampara na tomada de decisão e aceleração de novos clones. Todavia, temos clones produtivos e com boas características botânicas, que estamos projetando uma redução do share em função da baixa tolerância em períodos de estiagem mais longos e mais quentes e stress hídrico.
Tudo isto sem considerar clones com bom potencial, que não são levados adiante pelo mesmo motivo supracitado. Ainda no plantio, não podemos deixar de falar sobre a qualidade da muda e a relevância que isto traz para a condição geral das florestas, uma vez que uniformidade ao longo da formação confere uma condição vantajosa ao longo do ciclo da floresta, sem falar na maior facilidade na gestão e no manejo da irrigação nos plantios de julho a setembro.
Ao longo do ciclo, precisamos garantir a uniformidade da floresta e isto nos traz grandes desafios, a começar pela formiga, em especial nos períodos que antecedem os períodos de maior déficit hídrico. O monitoramento e a rápida atuação são indispensáveis para o controle não só da formiga, mas de outras pragas, como psilídeo de concha e lagartas. Independentemente da praga, a preservação da copa é fundamental para reduzir o stress da planta nos períodos mais críticos.
A alta intensidade na infestação de plantas invasoras traz um aumento na competição por água e nutrientes, em especial nas fases iniciais da formação da floresta. Portanto, o monitoramento e o controle das plantas invasoras, em especial até os dois anos de idade, são aliados importantes na nossa jornada de mitigação dos danos causados pelo déficit hídrico e pelas temperaturas elevadas.
Ainda olhando o ciclo da floresta, temos na nutrição um importante aliado. Sabemos que muitas culturas agrícolas já usam a questão nutricional como potencializador da sanidade e da resistência das plantas. Cito como exemplo a adoção de complementação com micronutrientes antes da aplicação de maturadores na cultura da cana-de-açúcar. Naturalmente, uma planta bem nutrida tende a suportar melhor condições adversas. E não estamos falando só de macronutrientes: os micronutrientes também desempenham um importante papel tanto na sobrevivência como na retomada do crescimento.
Como um último ponto, temos a condução, uma vez que florestas em segundo ciclo apresentam uma maior tolerância aos períodos de mais escassez de água e, diante do que está por vir, se faz necessário revermos os nossos planos de manutenção das florestas visando um maior aproveitamento desta etapa do manejo.
Até aqui, não tem nada de novo e dificilmente teremos tecnologias disruptivas que resolvam os impactos relacionados ao clima em um curto prazo de tempo, assim sendo, temos de lançar mão do que já sabemos e buscamos fazer, o tempo todo, que é constituir uma floresta com um sistema radicular profundo e bem distribuído nas camadas superiores, com uma boa uniformidade na formação, livre da competição externa por luz, água e nutrientes e, por fim, a manutenção das copas preservadas. Trata-se de uma tríade: disciplina com recomendações técnicas + timing nos controles e nas suplementações + qualidade como nossa maior aliada na nossa jornada de produzir florestas sadias, produtivas em um ambiente climático cada vez mais incerto.