Presidente Executiva da Bracelpa
Op-CP-15
Há seis meses, o mundo foi surpreendido pela crise financeira internacional e, até agora, não há previsões confiáveis sobre o total dos prejuízos, nem sobre quando a estabilidade voltará, para que os países retomem suas metas de desenvolvimento. Os impactos da crise, no Brasil, são medidos por diversos índices, seja pela previsão de queda do PIB, em 2009, de 3,5% para 2%, seja pela retração da produção industrial ou, ainda, pela redução do comércio exterior.
Em fevereiro deste ano, mesmo positivo, o saldo da Balança Comercial – após janeiro ter registrado retração – foi 20,9% menor que o verificado no mesmo período de 2008. Esses dados mostram que o Governo precisa tomar medidas eficazes para garantir a continuidade do crescimento verificado nos últimos anos.
O setor de celulose e papel também vem sofrendo os impactos da crise, tanto no mercado externo, como no interno, e as negociações das demandas das empresas com o governo, para enfrentar esse momento difícil, são o principal tema da agenda da Bracelpa, nos últimos meses. O objetivo principal é manter as operações de um dos setores que é referência mundial por suas práticas sustentáveis e seu manejo florestal e, por isso, promove o país internacionalmente.
Altamente exportador e de capital intensivo, o setor de celulose necessita do apoio do governo, até que os mercados internacionais voltem a comprar celulose nos níveis anteriores à crise.
As prioridades são: ampliação das linhas de crédito para as operações de pré-embarque da celulose, apoio nos seguros de crédito para exportação e redução dos impostos dos investimentos. Tais medidas contribuiriam para a manutenção das exportações de celulose aos níveis de 2008, ou seja, US$ 500 milhões mensais.
Foi essa média, inclusive, que levou as empresas do setor a exportarem, no ano passado, US$ 5,8 bilhões, o equivalente a 17% do superávit da Balança Comercial Brasileira. Além disso, se as exportações mantiverem-se, o país poderá manter o quarto lugar entre os maiores produtores de celulose do mundo. Conquistada no final de 2008, essa posição é fruto de investimento em pesquisa, nas últimas décadas, que resultaram em espécies de árvores altamente produtivas e, consequentemente, deram mais competitividade ao setor. E isso precisa ser valorizado.
Competitividade do papel: Em relação ao segmento de papel, que busca crescer ainda mais no mercado brasileiro e também quer ganhar competitividade internacional, a principal demanda junto ao Governo é a obtenção de crédito para capital de giro – uma vez que houve forte retração na oferta de capital e os custos de financiamento estão elevados.
O setor também reivindica a regulamentação da Medida Provisória 451/08, que tem o objetivo de coibir o desvio de papéis para fins editoriais, declarado como imune de tributos. Utilizados para outras finalidades, esses produtos acabam competindo, de forma ilegal, com o papel tributado, gerando, além de prejuízos às empresas, evasão fiscal.
Em 2008, as importações de papel imune representaram 50% do consumo nacional de papel para imprimir e escrever. A Bracelpa e as empresas também estudam novos mercados para sacos e sacolas de papel, entre eles, a utilização desses produtos em supermercados e demais estabelecimentos do comércio em geral.
Outra medida importante para o segmento manter a produção é a ampliação dos programas governamentais para aquisição de livros didáticos para as escolas públicas, pelo Programa Nacional do Livro Didático - PNLD, e pelo Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio - PNLEM. Além dos livros, o governo poderia passar a distribuir cadernos aos alunos, na volta às aulas de 2010. Nas estimativas da Bracelpa, 48 milhões de alunos seriam beneficiados com a medida.
Protecionismo: até que as economias estabilizem-se, acreditamos que todos os países, principalmente o Brasil, precisam evitar a adoção de medidas protecionistas, visando a incentivar atividades econômicas internas e reduzir a concorrência externa. A médio e longo prazos, o fechamento dos mercados poderá prejudicar a reestruturação das economias, desestabilizando sólidas relações comerciais internacionais.
O Governo Federal precisa acompanhar de perto os principais mercados dos produtos brasileiros, inclusive os do Mercosul, garantindo a manutenção do livre comércio e dos acordos estabelecidos. Também é fundamental que os princípios estabelecidos pela Organização Mundial do Comércio sejam respeitados. Do contrário, o cenário mundial poderá ficar ainda mais incerto, adiando a superação da crise.