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Fernando Campos e Juho Leskinen

Diretor da Ponsse Latin America e Gerente de Digitalização e Sistemas de Informação da Ponsse Mundial, respectivamente

OpCP66

Dados e a inteligência da colheita para uma operação florestal eficiente
Além de colher a árvore no campo: informação de dados é a chave para a inteligência da colheita. Mais e mais dados serão coletados das operações florestais, e é sabido que, durante a colheita, é quando obtemos o maior número de informações, não só das máquinas, mas do campo como um todo. Por isso acredito que a inteligência desse processo vai além de cortar a árvore, como disse. 
 
Há pouco mais de 10 anos, tínhamos pouca informação do campo que não fosse manual e coletada pessoalmente, no momento da retirada das árvores do solo. Hoje, é possível saber o diâmetro de cada sortimento da árvore em apenas um clique, na palma da mão, com alguns minutos de diferença, ou até mesmo em tempo real, onde e quando a conectividade permite. 
 
Hoje, cada novo sensor instalado nas máquinas é capaz de nos informar os movimentos que estão sendo feitos e imediatamente indicar ao operador a possibilidade de melhoria no seu trabalho. O que era analisado por amostragem, agora, vemos a situação real de todo o povoamento. E esses dados podem ser usados não só para a colheita, mas para as demais operações da cadeia. 

Por exemplo, os mapas usados nas máquinas de colheita florestal podem servir como guias ao operador e também ser atualizados por ele assim que identificada qualquer incorformidade, ainda em campo, resultando em um trabalho mais assertivo para outras equipes que também fazem uso dos mapas. 

Perceba que é uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que as outras operações florestais, como planejamento e silvicultura, fornecem informações importantes para a inteligência da colheita, a colheita inteligente retribui com dados para toda a cadeia.
 
Quando falamos nesse tema, é inevitável não pensar em inteligência de dados. Hoje, além de engenheiros florestais e operadores de campo, precisamos nos integrar com os engenheiros e analistas, que são capazes de criar os dispositivos que compilam os dados e analisam as informações processadas que chegam das máquinas a todo tempo.

O mercado está exigindo profissionais florestais aptos a coletar esses dados e a estruturá-los, de forma a embasar as decisões estratégicas no seu dia a dia de trabalho, descentralizando, com isso, a criação de interfaces por parte das áreas de tecnologia da informação. Da mesma forma, os fabricantes de máquinas percebem a necessidade de apresentar aos operadores esse universo tecnológico e buscam sempre aprimorar suas soluções, a fim de integrá-los amigavelmente aos novos sistemas. 



Nesse contexto, sempre entra em debate, também, a segurança de dados. E, talvez, esse seja um dos maiores desafios dos próximos anos. Fabricantes e clientes possuem contratos de confidencialidade e segurança de dados extremamente confiáveis e rigorosos, muitas vezes seguindo padrões internacionais. 

No caso da Ponsse, nosso parceiro na área de segurança desses dados é a Microsoft, pois, como todo o tráfego é feito em nuvens, ter um parceiro de garantia faz toda a diferença nesse momento. Trabalhamos para assegurar dados anônimos, garantindo, assim, a segurança dessas informações.

Nós já aprendemos a trabalhar e a tomar decisões baseadas em dados, mas o esforço é contínuo em mantê-los seguros de ataques e de qualquer outra ação negativa. A preocupação é ainda maior quando temos em mente os passos do futuro relacionados à operação remota ou à autonomia das máquinas.

Já que toquei nesse tema, o futuro, gostaria de falar um pouco sobre o desafio que direciona as nossas ações: produzir máquinas mais inteligentes, mais sustentáveis, duráveis e com menor impacto ao meio ambiente. 

O caminho mais promissor que gosto de citar é a eletrificação e a hibridização das máquinas. Estamos muito perto de conquistar esse objetivo e deixar de consumir combustíveis fósseis em operações de colheita florestal. Esses são os temas que considero mais quentes quando se fala em desenvolvimento tecnológico. Acredito firmemente que, em poucos anos, já teremos as máquinas híbridas, e isso vai trazer ainda mais benefícios para todo o setor.

Mas, outras frentes também estão evoluindo a olhos vistos: machine learning, inteligência artificial a bordo, plataformas digitais, operações em nuvem… O que mais podemos inserir para conquistarmos melhores resultados, maior disponibilidade mecânica, economia de combustível, acuracidade e eficiência das operações? Tudo vem sendo trabalhado com muita atenção e praticamente ao mesmo tempo. Pode ser que ainda demore alguns anos para alcançarmos uma máquina autônoma; trabalhamos, hoje com esse objetivo, e muitos dos dispositivos tecnológicos que temos atualmente foram feitos já pensando em soluções para esse fim.  

O que temos, atualmente, no mercado de máquinas, são equipamentos cada vez mais confortáveis e criados para favorecer o trabalho do operador. É o que podemos chamar de user friendly machines, ou máquinas voltadas para a experiência do usuário. Para promover um ambiente confortável e agradável, cada componente interno da cabine é milimetricamente calculado, a fim de evitar esforços desnecessários pelo operador, gerando menos tensão e até lesões pelo trabalho. 

No Brasil, o que mais nos desafia para alcançar as máquinas inteligentes é a conectividade. O País ainda carece de um sistema de rede estável e robusto que permita o tráfego de dados com velocidade e menor tempo de latência − este, o mais importante quando falamos em máquinas operadas remotamente. As redes via satélite para o campo ainda são muito caras e se tornam inviáveis para coberturas de pequenos espaços. A promessa do 5G e a ampliação da rede 4G nos darão uma boa noção de como será esse futuro. 

Enquanto isso, abusamos das estratégias de coleta e de transmissão de dados, por dispositivos móveis, ou por smartphones que se conectam automaticamente às máquinas, para que as informações sejam transmitidas assim que se conectarem à internet. Com todas essas informações em mãos, estamos aptos a pensar em uma colheita inteligente, com base em resultados reais e tomadas de decisões, da mesma forma, baseadas em dados e em melhores estratégias de produção florestal.