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Ana Gabriela Monnerat Carvalho

Diretora-geral da ArborGen

Op-CP-58

Busca de clones transgênicos resistentes a herbicida
O melhoramento genético florestal, por meio de técnicas clássicas, apresenta algumas etapas complexas e demanda uma equipe técnica com conhecimento em genética para se ter uma visão ampla das estratégias a serem seguidas, visando a um programa eficiente. Assim, devem-se conhecer técnicas de polinização controlada e metodologias de análise dos descendentes. Existe a necessidade de uma grande área para testes de campo e tempo necessário para análises de crescimento e características de qualidade da madeira. 
 
Ocorre ainda uma certa escassez de conhecimento mais aprofundado sobre os parentais recomendados para os cruzamentos e o crescente aumento da ocorrência de pragas e doenças. Dessa forma, a seleção de um novo clone para plantio comercial é um processo lento, repleto de desafios e pode levar de 15 a 20 anos.
 
Assim, a biotecnologia no setor florestal vem sendo utilizada como uma ferramenta no auxílio ao desenvolvimento de programas de melhoramento genético clássico, através da utilização de técnicas, como cultura de tecido, marcadores moleculares, embriogênese somática, transformação genética, entre outras.
 
Neste artigo, vou dar ênfase à transformação genética. Desde o início dos anos 2000, essa técnica começou a ser empregada, no Brasil, por algumas empresas do setor florestal. Acreditava-se, nessa época, que sua utilização/adoção seria mais fácil e rápida seguindo o exemplo da agricultura. Entretanto não foi isso que ocorreu e, atualmente, ainda não se planta eucalipto transgênico no Brasil.
 
Atualmente, sabemos que alguns fatores dificultaram e ainda atrapalham o seu desenvolvimento e utilização, como a dificuldade de transformação do eucalipto, em que cerca de 30% a 40% dos clones comerciais ou pré-comerciais (fase final de seleção de um programa de melhoramento genético) são transformáveis e, ainda assim, com taxas de transformação baixas, variando entre 0,5% e 5%. 
 
Esse fato dificulta o desenvolvimento de materiais transgênicos, uma vez que o custo para transformação em laboratório é elevado e, muitas vezes, não se consegue transformar os melhores clones plantados comercialmente. Um outro fator relevante foram os genes escolhidos para trabalhar. No início dos anos 2000, foram testados genes ligados à rota metabólica da lignina, que visavam à sua redução ou à alteração da química da lignina para que fosse mais fácil a conversão da madeira em celulose. 
 
Ressalto que a alteração da química da lignina foi pouco explorada e, na minha experiência, foi dos poucos genes que vi funcionar, entre todos os testados ao longo de quase 20 anos – talvez, a relação floresta-indústria esteja muito fraca quando o assunto é melhoria da qualidade da madeira em fábricas de celulose –, enquanto os ganhos potenciais nessa melhoria são elevadíssimos.
 
Na sequência, vieram genes ligados à resistência a geadas, crescimento das árvores, déficit hídrico, aumento de densidade básica da madeira, entre outros. Todos esses genes foram testados em campo, com experimentos chegando a 5, 6 anos de idade. Entretanto nenhum deles apresentou ganho econômico que justificasse sua utilização em plantios comerciais, apesar de termos, no Brasil, uma linhagem liberada comercialmente, transformada com um gene de crescimento.
 
Mais recentemente, copiando o exemplo de sucesso da agricultura, os investimentos se voltaram a genes de resistência a herbicidas. Assim, ganhos operacionais na silvicultura são priorizados em relação a ganhos nas fábricas – ganhos provavelmente menores, ressalve-se. Testes de campo com alguns desses genes estão em andamento e apresentando resultados promissores. 
 
A resistência aos herbicidas pode ser testada em idades precoces (pouco tempo após o plantio, até cerca de 1 ano de idade), e, na sequência, as linhagens que apresentam maior tolerância são testadas em blocos maiores e em diferentes tipos de manejo. Os ganhos esperados são silviculturais, com redução na quantidade de operações florestais em casos que seja possível um manejo que deixe a floresta “no limpo” mais tempo. Ganhos em produtividade também podem ser obtidos em casos de deriva de herbicida em que as árvores são, de certa forma, prejudicadas com relação ao crescimento. 
 
Atualmente, existem diversos testes de campo em andamento, e espera-se que, em breve, ocorra a solicitação para liberação comercial de alguma linhagem com essa característica. Certamente, será um grande avanço tecnológico para o setor florestal. Quando o assunto é eucalipto transgênico, não podemos deixar de citar outros desafios, como a regulamentação para manipulação de indivíduos transgênicos e os sistemas de certificação florestal.
 
O sistema regulatório brasileiro, apesar de apresentar certas dificuldades de tempos em tempos, vem funcionando. Isso quer dizer que é possível trabalhar com plantas modificadas em suas diversas fases: importação de plantas, quarentena, laboratório, viveiro, testes de campo e a tão sonhada liberação para plantio comercial. 
 
Mas, sendo realista, todas essas fases demandam um rigoroso controle por parte da empresa, em que todo trabalho depende de autorizações do órgão regulador, a CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e é fiscalizado pelo Ministério da Agricultura e, em algumas ocasiões, pelo Ibama. Nessa fase, entra-se novamente no fator custo, pois demanda que a empresa que trabalhe com OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) tenha um setor regulatório interno, com alguns funcionários dedicados a essas atividades, visando obter todas as permissões necessárias e os controles internos de manipulação das plantas.
 
Um outro desafio a ser citado são os sistemas de certificação florestal, como FSC e PEFC. Tais sistemas de certificação são extremamente valorizados pelas áreas comerciais das empresas de celulose e papel, devido à sua importância em mercados de exportação, principalmente a Europa. E nem o FSC nem o PEFC autorizam plantio de florestas comerciais com OGMs.  Vem-se tentando, ao longo dos últimos anos, criar um diálogo com ambos os sistemas de certificação, mas o avanço real, até agora, foi a autorização para plantios de testes de campo com OGMs fora das áreas do escopo de certificação. 
 
Dessa forma, a busca por materiais genéticos transgênicos continua, e acredito que, em breve – cerca de 4 a 5 anos −, poderemos ter produtos no mercado, para plantio comercial e até para venda de forma mais ampla, beneficiando também plantadores de floresta independentes, que poderão ter acesso a esses produtos.