A liderança tecnológica da indústria de base florestal brasileira e sua contribuição para a economia nacional são incontestáveis. Seu principal diferencial competitivo está associado a fatores naturais e tecnológicos que têm suportado o contínuo aumento da produtividade das florestas e alavancado o desenvolvimento dos negócios nos diversos segmentos que compõem a indústria de florestas plantadas no Brasil.
Atributos do ambiente, como clima favorável, solos e disponibilidade de terras para cultivo, associados ao conhecimento aplicado em pesquisa e desenvolvimento, permitiram que o Brasil se mantivesse em posição de destaque mundial no setor florestal, tendo como principal fator de referência a produtividade. Instituições de ensino e pesquisa solidificaram a ciência florestal e disseminaram técnicas ao longo do País, através de programas cooperativos.
Incentivos fiscais ao reflorestamento, programas nacionais de desenvolvimento e, principalmente, iniciativas privadas se lançaram ao empreendedorismo e foram responsáveis pelo crescimento da área plantada e das indústrias dos diversos segmentos no País. A indústria de base florestal consolidou seus nichos de mercados, e entidades de representação se organizaram valorizando os atributos econômicos e socioambientais do setor.
Como resultado desse esforço e investimento em pesquisas, a produtividade média das florestas plantadas, no Brasil, atingiu um patamar de referência mundial, sendo reforçado pelos avanços significativos obtidos em qualidade da madeira e fibras para seus mais diferentes usos, homogeneizando e garantindo o suprimento das linhas de produção. Contudo a competitividade se distancia de seu potencial, ano após ano, e, mesmo que tais diferenciais tenham suplantado os índices de referência ou subsidiado as ineficiências estruturais, eles não têm sido suficientes para manter o Brasil em posição de liderança.
Com o passar do tempo, modificações no modelo de produção e negócios estão sendo demandadas em maior ou menor velocidade, dependendo das áreas às quais se relacionam: produção, mercado, investimentos, sustentabilidade do negócio, políticas de desenvolvimento, gestão, dentre outros. Na cadeia produtiva, a sustentabilidade se tornou obrigatória. Atualmente, o gerenciamento de aspectos ambientais, sociais, políticos e culturais se agregam aos negócios juntamente àqueles comumente gerenciados, como produtividade, qualidade, segurança e custos.
A compreensão do uso inteligente dos recursos naturais e dos impactos das atividades de produção nos ecossistemas, onde a soma das interações realizadas em um ambiente é muito maior do que a simples soma das ações de cada componente individualmente, traz consigo uma mudança radical na forma de pensar e, por conseguinte, de gerir os recursos naturais disponíveis. A globalização da economia incita a competição por mercados que demandam produtos competitivos, onde baixo custo de produção é imperativo.
A eficiência logística, escala de produção e inovação tecnológica são fatores conclusivos para manter-se a competitividade. Os níveis de investimento em infraestrutura atuais criam gargalos estruturais no País (custo Brasil) e majoram a perda de competitividade dos produtos, e consequentemente da economia nacional. Mesmo com um cenário de crescimento debilitado da economia nacional, a indústria de base florestal teve crescimento (1,7% em 2014) superior à maioria dos setores da economia, demonstrando sua importância para a economia nacional.
A produtividade florestal que sobrepuja as ineficiências da cadeia produtiva do País tem sofrido ameaças constantes na manutenção de seus níveis de referência, dado o aparecimento de pragas e doenças, bem como das alterações climáticas, capazes de minar os ganhos conquistados até o presente momento. Nesse mesmo embaraço, obstáculos de cunho estratégico, como políticas de investimentos pouco atrativas, regimes tributários complexos, burocracia inútil e sumiço da credibilidade da classe política brasileira, clamam por soluções competentes e imediatas, além daquelas relativas aos ganhos de produtividade, já no caminho do sucesso. Então, como mudar esse cenário? Quais ações são imediatas para a sobrevivência dos negócios e quais são estratégicas ao desenvolvimento?
No conceito de novas tecnologias, equipamentos que utilizam posicionamento global por satélite (GPS), rádio frequência (RFID), associados a sistemas operacionais customizados (ERPS) e ferramentas de (GIS), operam com o suporte de dispositivos, como vants, tablets e celulares e dão a tônica do progresso. A rápida tomada de decisão e gerenciamento de indicadores de desempenho em tempo real ganha o foco. A mecanização das operações é uma tendência. Máquinas mais eficientes e ergonômicas, com implementos conjugados, têm se apresentado como soluções para o ganho de rendimento, dentro do manejo de cultivo mínimo.
Detalhes de atividades são monitorados por sensores e telemetria e registradas em seus computadores de bordo, para uso do gestor. Para áreas declivosas, atividades mecanizadas vêm tomando espaço, como a subsolagem com escavadeira hidráulica e a colheita com guincho, estabelecidas em estados como SC, PR, SP e MG. Simuladores de realidade virtual são utilizados para o aperfeiçoamento de operadores de máquinas, que, por sua vez, estão se tornando polivalentes.
No transporte de cargas, modais mais eficientes estão sendo desenvolvidos com o uso de composições mais leves de ligas de metais resistentes. Viveiros de mudas e laboratórios estão mais automatizados, reduzindo mão de obra e evitando perdas. É importante ressaltar que nenhuma mecanização e automação substituirão o acompanhamento do profissional, sob pena de arruinarem seus resultados. Modelos de prestação de serviços especializados, terceirização e primarização de atividades passam por revisão de viabilidade do negócio.
Os modelos de crescimento da floresta tem se modificado frente aos fatores adversos de campo que impactam seu padrão, como estresse hídrico, novos clones em 3ª rotação e outros. Redes neurais, Lidar e solvers vêm somar na geração de informações. No que tange à biotecnologia, ganhos significativos de produtividade e qualidade de fibras são esperados com o desenvolvimento de OGMs e também com o melhoramento genético clássico. Também são esperados resultados em tolerância a fatores bióticos e abióticos, como: estresse hídrico, pragas e doenças, além de tolerância a pesticidas.
As discussões sobre o uso de OGMs recaem sobre princípios da biossegurança. Com respeito ao mercado, o aumento do consumo de produtos de madeiráveis e serviços ambientais é inevitável. Multiprodutos com rastreabilidade resultantes do bom manejo das florestas são tendências atuais. Do enunciado princípio da conservação da matéria, de Lavoisier, que diz que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", se traduz em: tudo se reutiliza, se recicla e, consequentemente, se repensa sobre os hábitos de consumo.
Mapeamentos de mercado, conhecimento dos principais players e concorrente, benchmarking de preços, tarifas, produtividade e novas tecnologias são atualizações rotineiras no mundo interconectado. A capacidade de gestão, a ética nas negociações, o respeito aos contratos e a boa governança, além da rentabilidade dos projetos, serão bases para novos investimentos no Brasil. Processos eficientes, produtos inteligentes são cada vez mais requeridos. Uma nova economia com olhar além da produção tem direcionado os negócios de muitas empresas.
Danos à reputação por práticas inadequadas são verificados em due dilligences e tem sido decisivas em negociações entre empresas. Em breve, passivos ambientais, sociais e culturais serão monetizados nas regras de contabilidade internacional. A venda de produtos passará por análise reputacional, validada por selos ambientais e divulgada em relatórios de sustentabilidade (GRI). A confiança dos stakeholders determinará o sucesso das operações, amparadas pela vigilância da mídia, na construção de valor compartilhado.
No tocante às políticas do setor florestal, estas têm papel categórico na velocidade e no sucesso das ações. Esforços isolados não podem vencer os entraves aplicados ao desenvolvimento. Lembro-me de quando o estado do MS apresentava área plantada inferior a 200 mil hectares, há 15 anos. Hoje, fruto de políticas integradas e bem definidas, apresenta-se como um caso de sucesso, potencializando sua vocação florestal (833 mil hectares, 2014). Políticas de incentivo à produção e apoio ao uso da madeira devem ser estimuladas, juntamente com programas corporativos estratégicos que despertem a inovação.
A inserção de pequenas propriedades em modelos de produção que diversifiquem seus negócios é determinante. Na posição mais central da conjuntura, se encontra o capital humano. Afinal, somos nós que conduziremos os processos na direção em que acreditamos ser a mais correta. Sustentável? Rentável? Ética?
Para saber escolher as respostas, o profissional precisará estar aberto para desenvolver competências que ultrapassam as tradicionais. Muito mais do que prodígios administradores, o profissional deverá buscar a visão sistêmica, dando atenção aos valores éticos e morais de seu entorno. Será necessário que reflita sobre a complexidade na integração entre produção, ambiente, comunidades e outras externalidades, mas em campo, a partir de suas próprias experiências. Neste caminho, deverá este indivíduo ser incansável na busca por conhecimento e integração de outras áreas do saber, como agroenergia, ecologia, hidrologia, finanças, línguas, etc.
Deverá ter humildade e paciência para aprender com a sabedoria dos práticos e despir-se de vaidade para realizar trabalhos em rede. A automotivação e o engajamento são premissas, e, para tanto, seus propósitos individuais devem fazer confluência com os da organização. Para exercer tal liderança legítima e ser capaz de sustentar seu comprometimento, deverá esse profissional conhecer-se e saber que jamais estará pronto, pois o ambiente estará em constante transformação.