Me chame no WhatsApp Agora!

Fabrício Amaral Poloni

Gerente-geral de Operações da ArcelorMittal BioFlorestas

OpCP69

Uma virada de chave na história do setor florestal
Atuo no setor florestal há vinte anos e vejo o momento que vivemos com grande entusiasmo e otimismo. Compartilharei adiante um pouco do meu olhar sobre o setor e uma perspectiva sobre a modernização do sistema florestal brasileiro. A cadeia produtiva florestal contribui de maneira significativa para a economia brasileira, sendo competitiva em nível mundial, escoando seus produtos para todos os continentes.

Em 2020, as exportações do setor bateram quase US$ 10 bilhões, representando cerca de 5% de participação no total das exportações nacionais. Internamente, contribui para o desenvolvimento econômico descentralizado no País, tendo gerado R$ 12 bilhões em tributos federais, mais de 2 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos em uma cadeia produtiva longa e ramificada no entorno dos 10 milhões de hectares plantados no Brasil.
 
O sistema florestal brasileiro é composto por uma série de atividades que formam uma cadeia de produtividade complexa, algumas que evoluíram mais e outras menos nos últimos anos. Para a madeira que abastece a indústria de base florestal, muitas etapas são necessárias, desde o melhoramento genético das espécies, a produção das mudas em viveiros, o preparo do solo e plantio, a fertilização das florestas, o controle de pragas, a colheita florestal, entre outras atividades acessórias que auxiliam na gestão florestal.

O desenvolvimento do setor de florestas plantadas teve forte contribuição de Navarro de Andrade no início do século XX, mas foi na década de 1970, através dos incentivos fiscais ao reflorestamento, que houve um forte crescimento dos maciços florestais, principalmente com essências exóticas dos gêneros Eucalyptus e Pinus. Nesse período, houve uma busca por tecnologia, conhecimento, e, assim, começaram a surgir as primeiras escolas de engenharia florestal.

Também surgiram incentivos para pesquisas com foco em encontrar materiais genéticos que conferissem produtividade e qualidade na produção da madeira. Nessa época, os plantios comerciais utilizavam sementes com torrões de solo, as atividades operacionais eram majoritariamente realizadas de forma manual, a colheita com motosserras, baldeio de madeira com muares, e produtividades florestais baixíssimas comparadas com os números de hoje.

Houve um movimento intenso para importar sementes, principalmente de Eucalyptus e Pinus, originárias da Austrália e Indonésia, principalmente, que viriam, mais tarde, formar a base genética das espécies introduzidas, possibilitando grande evolução dos programas de melhoramento genético no Brasil.

No fim da década de 1980, chegou o fim dos incentivos fiscais, e o setor teve que se reinventar. Começava, ali, um novo ciclo de desenvolvimento, onde o setor privado necessitou buscar maneiras de modernizar o sistema florestal para suprir a demanda de um parque industrial instalado e em ritmo de crescimento.

Um avanço importante para o setor surge na década de 1990, quando a clonagem comercial utilizada para Eucalyptus foi divisor de águas na produtividade de florestas e na qualidade da madeira produzida no Brasil, técnica que hoje está difundida entre produtores florestais e chega a alcançar 98% dos plantios de Eucalyptus no Brasil.

Nessa mesma época, a biotecnologia iniciou seu desenvolvimento, buscando materiais genéticos adaptados às condições de clima, solos, aplicação da madeira, com foco em ampliar a vantagem competitiva do nosso país na produção de floresta de rápido crescimento. 

A modernização dos equipamentos utilizados nas operações da silvicultura brasileira também vem acontecendo, tomando como referência a forte evolução que aconteceu na colheita e no baldeio florestal, iniciada no hemisfério Norte e introduzida no Brasil no fim do século passado. Porém, ao contrário da revolução que aconteceu na agricultura, com equipamentos de alta performance customizados às culturas, na silvicultura, operamos, no princípio deste século, ainda com equipamentos da agricultura adaptados à silvicultura, o que resultou em uma operação muito demandadora de mão de obra. Isso começou a mudar no fim da década passada, com o desenvolvimento de equipamentos especializados com alto nível de mecanização e automação.

Algumas atividades se desenvolveram mais, como a subsolagem utilizando marcação de linhas a partir de tecnologia embarcada nas máquinas; e outras menos, como o plantio das mudas florestais. A utilização do drone também tem sido um avanço em algumas operações. 

Um levantamento sobre o nível de mecanização na silvicultura brasileira realizado pelo IPEF foi publicado em 2021. O retrato (2020) é que o nível geral de mecanização na silvicultura das empresas que cultivam Eucalyptus foi aproximadamente 50%, o que não mudou muito desde 2018, segundo critérios estabelecidos no levantamento, contemplando as atividades de preparo do solo, plantio, adubação, controle de formigas cortadeiras, controle de matocompetição e irrigação. Contudo, é importante ressaltar o avanço que houve em algumas dessas operações nos últimos dois anos. O plantio avançou 9 pontos percentuais, chegando perto de 10% em 2020. O preparo de solo avançou 19 pp e chegou perto dos 100% do nível de mecanização no mesmo período.

Na colheita e no baldeio florestal, houve um avanço enorme em relação ao passado com as operações manuais e semimecanizadas, no que tange à produtividade, consumo de combustíveis, capacidade em acessar áreas acima de 40 graus de inclinação. Um feller buncher, por exemplo, tem capacidade para colher, hoje, cerca de 600 árvores por hora; harvesters e fowarders com sistema de guincho têm capacidade para explorar, com segurança e alta produtividade, plantios em locais de difícil acesso.
 
Muita coisa evoluiu e se modernizou no sistema florestal brasileiro, mas ainda há uma longa jornada a se percorrer. Temos grandes desafios pela frente. Uma escassez de mão de obra especializada no campo, sem contar o alto custo. Vivemos em um planeta com mudanças climáticas em curso, além do avanço em competitividade dos outros players em nível doméstico e mundial. Em contrapartida, também temos uma oportunidade nas mãos, melhorar continuamente a performance do setor e monetizar o valor que o setor agrega em sua atividade-fim desde sempre, captura do CO2 da atmosfera para formação da madeira.
 
Diante dessa oportunidade, acredito que temos algumas frentes para avançarmos ainda mais, como o nível da mecanização das operações silviculturais, a exemplo do combate à formiga, plantio e irrigação. Outra frente importante é a biotecnologia. Esperamos ter clones adaptados aos impactos advindos das mudanças climáticas, mais produtivos, menos sensíveis às pragas e mais customizados para os processos industriais que os demandam; e, quem sabe, avançar na tão polêmica transgenia dos materiais genéticos florestais. Temos muito espaço ainda para o uso de informações de satélite e inteligência artificial, seja nos sistemas de planejamento e otimização florestal, seja na automação das operações silviculturais.
 
Enfim, avançamos, mas podemos muito mais! Vejo o momento com grande entusiasmo, uma virada de chave na história do setor florestal brasileiro.