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Marcelo de Carvalho Miranda

Governador do Estado do Tocantins

Op-CP-09

Recursos florestais sob a ótica da responsabilidade social

A importância de novos paradigmas para entender a questão ambiental no âmbito dos governos é uma necessidade imperiosa, no Brasil e no mundo. As facetas que se apresentam, sob discursos acalorados, dão-nos uma dimensão distorcida do problema. Entendo que as verdadeiras transformações sociais dêem-se, sobretudo, no âmbito local. Isto quer dizer que nos aproximamos muito mais da realidade, quando a levamos para dentro de nossas casas, atingindo nossas famílias, filhos, vizinhos, amigos.

Hoje, é impossível que os governos pensem em desenvolvimento ou crescimento econômico, dissociando suas políticas públicas da questão ambiental. Ações de governo que não apresentem sustentabilidade ambiental correm sérios riscos de se perderem no tempo e na fumaça. A sustentabilidade é urgente, mas também é real a dificuldade em colocá-la em prática, precisamos discutir mais, nos entender melhor.

O mundo, o Brasil, e o Tocantins, ainda hoje se debatem para buscar a melhor maneira de executá-la. Mas, já é um discurso que vem amadurecendo há tempos, desde a década de 70, quando a humanidade começou a abrir os olhos – com a Conferência de Estocolmo, na Suécia – para entender as discrepâncias entre crescimento econômico e preservação ambiental.

Quem tira da natureza, deve colocar de volta. E isso é uma responsabilidade de todos nós. Segundo dados recentes apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente, o Plano de Combate ao Desmatamento da Amazônia, baseado em ações de monitoramento e controle, ordenamento territorial e na criação de unidades de conservação, foi responsável por uma queda de mais de 50% na taxa de desflorestamento da Amazônia, de 2004 a 2006, e por uma redução de quase 0,5 milhão de toneladas de CO2, sem comprometimento do PIB da região.

Isso, embora incipiente em função da gravidade do problema no planeta, não deixa de ser animador. Hoje, segundo o governo federal, as unidades de conservação e reservas indígenas totalizam mais de 30% da área total da Amazônia brasileira. O Tocantins, um estado jovem, que completa dezenove anos de criação no mês de outubro, e que compõe a região da Amazônia Legal, também está junto com aqueles que querem oferecer uma vida melhor para a população.

Em termos de recursos florestais, hoje possuímos 5 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser utilizadas para o reflorestamento. A área da silvicultura no Estado conta com aproximadamente 26 mil hectares (2007), isso quer dizer que são gerados no setor mais de 30 mil empregos, considerando 1,27 homens/ha, representando investimentos de mais de R$ 88 milhões.

Nossa meta é chegar a 2010 com cerca de 79 mil hectares, geração de quase 100 mil empregos e investindo mais de R$ 250 milhões no setor. E não são números hipotéticos. São números reais, planejados. O que nos credencia a termos essa visão são, principalmente, os pontos favoráveis para o reflorestamento no Tocantins, a exemplo do relevo, extensão territorial e da relação área utilizada e reserva legal.

Nossa intenção é reduzir cada vez mais os impactos negativos que também são inerentes à área, a exemplo da fertilidade do solo. O Brasil também apresenta alguns fatores favoráveis à silvicultura, como as condições de clima tropical e solo, desenvolvimento de tecnologia de ponta, além da disponibilidade de áreas para plantio.

A evolução da silvicultura por hectare no Tocantins tem registrado aumento considerável. Em 2006, eram 17.960 ha; em 2007, esse número sobe para os 25.673 ha, e a previsão é chegar aos 78.498 ha, em 2010, o que corresponderá a um incremento de 206% no setor. Temos uma relação de responsabilidade ambiental com os nossos produtores e com a sociedade.

Estamos diversificando os tipos de cultivo. Nossa principal espécie cultivada no Estado é o Eucalipto (Eucalyptus spp), que está presente em 18 municípios tocantinenses, com área plantada, até 2007, de 21.655 ha; seguida da Teca (Tectona grandis), com área de 1.812 ha; a Seringueira (Hevea brasiliensis), com 725 ha; a Pinus (Pinus elliottiI), que apresenta também, até 2007, uma área plantada de 700 ha; a Pupunha (Bactris gasipaes), com 255 ha; a Neem (Azadirachta indica A. Juss), dispondo de uma área plantada de 136 ha; e ainda a Paricá (Schizolobium armazonicum), com área de 14,5 ha; e o Pequi (Caryocar brasiliense), com 9,5 ha.

Uma realidade favorável, que se apresenta para atrair novos investidores ao Tocantins, é a sua logística de transporte. Com a expansão da Ferrovia Norte-Sul, em solo tocantinense, rodovias bem cuidadas e a intermodalidade de transporte, com a Hidrovia Tocantins, abre-se o trio: ferroviário, rodoviário e hidroviário. Em setembro, realizamos a segunda edição do Re-Florestar, para discutir o setor da silvicultura no estado, bem como suas vantagens econômica e ambiental.

Somos abençoados com boa luminosidade, clima favorável, disponibilidade de terras e logística para a exportação. O debate deverá continuar, mas sem desprezar o caráter local das transformações, onde as mudanças realmente acontecem. Não acredito ser urgente a aglomeração de centenas de Chefes de Estado num determinado hemisfério do planeta para decidir sobre as práticas das sociedades do hemisfério oposto, sem que estas sejam realmente ouvidas.

Tanto que ainda buscamos respostas plausíveis para as discussões da ECO 92, no Rio de Janeiro. Entendo ser também o momento de ampliar os debates, abrir concessões e realizar planejamentos, a médio e longo prazos. Precisamos valorar o setor da silvicultura, pois é mais inteligente e louvável trabalhar com a floresta em pé, e os recursos tecnológicos para essa aplicabilidade estão disponíveis.

Para isso, criamos um planejamento a médio e longo prazos, sobretudo nos últimos 4 anos e meio, quando a infra-estrutura do Estado foi incrementada. Nossos potenciais de riqueza econômica e de valoração dos recursos naturais começaram a atrair a atenção do Brasil e do mundo, a exemplo dos muitos investidores que chegam ao Estado. Nesse sentido, os recursos florestais de que dispomos – nós, do Tocantins, do Brasil e do mundo – devem ser respeitados, sob a ótica do compromisso e da responsabilidade social.