Espécies alternativas para a produção florestal sempre foi um desafio para o setor na busca por novas opções frente ao eucalipto e pinus, e no foco de décadas de trabalhos realizados pelas instituições de pesquisas do país como a Embrapa, Instituto Florestal de São Paulo, entre outros.
Elas possuem diversos plantios implementados em suas unidades experimentais que nos últimos vinte anos têm crescido com o investimento em escala comercial realizado por produtores rurais e empresas florestais. Eles buscam atender ao mercado de madeira serrada tropical que conta quase que exclusivamente com o fornecimento de madeira proveniente da exploração de florestas naturais.
Nesse cenário, espécies exóticas como a Teca, que já possui um mercado nacional e internacional consolidado, como os mognos-africanos, que têm crescido significativamente em áreas plantadas, e o cedro-australiano, que tem evoluído em novos materiais genéticos, são os principais destaques desse período.
Por serem espécies exóticas, elas recebem maiores investimentos, pois não demandam registros e controles adicionais nos órgãos ambientais, e proporcionam maior segurança jurídica aos produtores e investidores. As espécies nativas enfrentam mais dificuldades devido à existência de maiores restrições legais que demandam maior burocracia na sua produção comercial, necessitando de apoio técnico em todas as suas fases para a regularização e exploração de seus cultivos. Apesar desses obstáculos, elas têm recebido investimentos, porém em menor proporção. Nesse grupo, temos o Paricá com o grande caso de sucesso, que já superou muitos desafios, e que conta com extensa área plantada na região Norte. Ela atende especificamente ao mercado de compensados, devido às características de sua madeira, e possui um complexo de indústrias consolidado, ocupando lugar de destaque no mercado nacional e internacional.
No grupo das nativas para produção de madeiras para serrarias, destaca-se o Guanandi como uma espécie amplamente plantada e testada nesse período. Diversas iniciativas que testaram o Mogno-brasileiro tiveram dificuldades devido ao manejo da broca do ponteio. Outras espécies têm ganhado espaço, como o Jequitibá-rosa, Louro-pardo e Ipê-felpudo, as quais têm se juntado a esse time trazendo inovações ao sistema de cultivo.
Entre as inovações, podemos citar a implementação de plantios mistos como alternativa aos plantios homogêneos, com inserção do conceito Close-to-Nature que tem sido muito experimentado em diversos países, proporcionando comprovados benefícios à silvicultura comercial.
Com o fortalecimento da agenda de mitigação das Mudanças Climáticas, através da implementação de metas dos países e do setor privado como um todo, focados na redução de seus impactos e implementação das políticas de ESG, tem sido ampliada consideravelmente a demanda por Créditos de Carbono. Eles se tornaram o grande financiador dessa nova agenda e atuam como uma moeda e uma ferramenta que direcionam e dão vazão aos vultuosos investimentos anunciados em termos globais.
Portanto, os projetos de Soluções Baseadas na Natureza têm sido o foco de boa parte desses investimentos. Nesse conceito, os projetos silviculturais de nativas, preferencialmente, de espécies exóticas alternativas e sistemas agroflorestais, têm aderido totalmente a essa agenda e tendem a receber boa parte desses investimentos e podem finalmente alavancar o desenvolvimento das espécies alternativas potenciais já mapeadas, e dar um impulso extra às espécies nativas potenciais de nossa flora para que se tornem uma realidade para o setor.
Esforços realizados pelo GT de Silvicultura de Nativas que atua na Coalização Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com a participação ativa da equipe da Futuro Florestal, que complementam as iniciativas realizadas pela WRI Brasil, como o projeto Verena e o Projeto Lacunas, esses esforços identificaram demandas e promoveram avanços. Entre eles, podemos destacar: a identificação dos gargalos jurídicos da legislação; o mapeamento e a análise de sistemas produtivos e as iniciativas existentes com avaliação do potencial produtivo e viabilidade econômica; a identificação das espécies potenciais; o desenvolvimento de um programa de pesquisas para as espécies potenciais, entre outros.
Todas essas iniciativas ajudaram a consolidar a importância de investimento nas espécies potenciais para a produção, sejam elas exóticas ou nativas. Hoje existe disponibilidade de informações técnicas de qualidade, muito maior do que há 20 anos, quando nós, da Futuro Florestal, iniciamos nossos projetos em escala comercial, utilizando e testando essas espécies. Por isso, torna-se de vital importância incentivar e apoiar os investidores e produtores para que acreditem nesse setor.
Hoje eles podem contar com empresas e profissionais que possuem plenas condições de apoiar e desenvolver esses projetos de forma mais assertiva e responsável. De fato, eles são fundamentais nesse processo, uma vez que são investimentos que demandam capital intensivo de médio e longo prazos para maturação e retorno.
Acredito que até 2030 teremos um cenário completamente novo para a silvicultura de espécies alternativas, seja em área plantada, seja com a entrada no mercado das madeiras dessas espécies, as quais alcançarão maior volume no final dessa década. Quando muitos plantios de mogno-africano atingirem seus 20 anos, o sonho de muitos produtores e investidores que apostaram nessas alternativas se tornará realidade. Haverá materiais genéticos superiores disponíveis e, quiçá, uma maior gama de espécies entrando no mercado, seja para a produção de madeiras de longo prazo, sejam como espécies de ciclo curto para diferentes usos industriais.
A consolidação de novas opções de Sistemas Agroflorestais e Silvipastoris é também uma opção sólida para a ampliação do uso de espécies alternativas. Entre tais espécies, merecem destaque especial os produtos não-madeireiros, como a Castanheira e o Baru, os quais possuem um mercado amplo para suas castanhas, além de enorme potencial madeireiro. Elas estão entre as espécies mais consolidadas. Existem também as espécies frutíferas da Mata Atlântica, como o Cambuci, Grumixama, Cereja-do-rio-grande, Araçá-roxo, Uvaia e Bacupari. Elas possuem excelente potencial para produção de polpas e sucos e são “superfrutas” ricas em vitaminas e antioxidantes.
Precisamos dividir as responsabilidades para multiplicar as oportunidades e ampliar o acesso a elas. Precisamos ainda investir e fortalecer os atores da cadeia como um todo, lutando por representatividade nas discussões de políticas nacionais para o setor através de associações e cooperativas, que têm sido criadas nesses últimos anos. Entre elas estão a Nativas Brasil, a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas Nativas. Hoje, com 50 associados, atuam com a missão de fortalecer a base da cadeia da restauração ecológica do país e de garantir a produção de milhares de mudas necessárias para se cumprir as metas climáticas nacionais, uma vez que as mudas são de extrema importância para o crescimento e o sucesso dos empreendimentos. Seguiremos lutando pelo desenvolvimento e consolidação de novas espécies potenciais para o crescimento do setor.