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Robinson Carnaval Junior

Diretor Executivo do IPEF

OpCP81

Os desafios da expansão da silvicultura
1. Expansão da silvicultura: 
Desde 1994, quando iniciei minha jornada profissional neste fantástico mundo florestal, muita coisa já tinha mudado e muita coisa mudou desde então. Tudo na vida é resultado de causa e condição e, quando compreendemos esta lei universal, irrevogável, entendemos que o presente é resultado de causas e condições passadas. Sob esta perspectiva de entendimento, temos observado que o crescimento relativo do cultivo de florestas foi um dos mais pujantes quando comparado a outros cultivos no Brasil.
 
Na perspectiva de futuro de demanda de consumo de produtos de madeira no mundo, o cenário de necessidade de crescimento de florestas plantadas continua proeminente com base nas estimativas da FAO pontuadas a seguir:
• O consumo de produtos de madeira processados primários (madeira serrada, painéis, celulose, etc.) deve subir de 3,1 bilhões de m3 até 2050 – um aumento de 37% em relação a 2020 (que foi de 2,2 bilhões de m3).
• Em 2020, as florestas plantadas já respondiam por cerca de 46% da produção global de madeira em tora.
• Para atender ao aumento da demanda, a FAO projeta que serão necessários 33 milhões de hectares adicionais de plantações florestais altamente produtivas até 2050 – supondo que a produção das florestas naturalmente regeneradas permaneça constante.
O setor florestal brasileiro é parte da solução do abastecimento mundial.

2. Desafios da expansão:
Por parte dos desafios, quando nos atemos a pensar sobre a expansão da silvicultura do ponto de vista de ambiente de produção, estamos a pensar em futuro e, na ausência de bola de cristal, somos impelidos de maneira pragmática a estimar causas e condições a serem consideradas na expansão, algumas das quais já observadas e em curso. 
 
Sabemos que as causas e condições são multivariadas e interagem entre si. No entanto, tomando emprestado a lei de Pareto e de maneira não exaustiva, vou mencionar algumas das causas e condições que eu entendo estarem dentre as mais importantes a ser enfrentadas, tais como condições climáticas adversas, disponibilidade, uso e consumo de água, incêndios, novas pragas e doenças, e disponibilidade de mão de obra qualificada, que resultarão em produtividade florestal e custos de produção.
 
Por parte das soluções, e adotando a mesma bússola dos desafios, as soluções estão assentadas preliminarmente em dois principais pilares: ciência de qualidade e operacionalização desta ciência na forma de inovação, materializadas em uma aprimorada gestão de práticas operacionais na silvicultura.

A materialização destes dois pilares depende fundamentalmente de pessoas qualificadas na ciência e na gestão de operacionalização das práticas silviculturais. Isto posto, depreende-se que o caminho das soluções passa por um terceiro pilar que são as pessoas, mais que uma afirmação retórica, um fato cabal.

No IPEF atuamos nos três pilares há quase 60 anos, o desenvolvimento do setor florestal brasileiro se entrelaça com história e o desenvolvimento do Instituto.

No pilar da ciência, temos atualmente 11 programas cooperativos voltados exclusivamente para a ciência. No que tange ao olhar de futuro, estamos trabalhando no âmbito do CTC (Conselho Técnico Científico), em linhas de pesquisas que nos permitirão lidar com os desafios do ambiente de produção de maneira diligente. 
 
Algumas das pesquisas em gestação na área de biotecnologia consideram a genômica e a edição gênica, as quais, juntas, permitirão em algum momento avanços inimagináveis há cerca de 20 anos. São conhecimentos e ferramentas que não podemos prescindir, quando consideradas as necessidades de produção de madeira e as perspectivas esperadas de ganhos significativos em produtividade e sustentabilidade.

Estes avanços com as novas linhas de pesquisa em adição ao arcabouço de pesquisas já em curso, como as modelagens em Ecofisiologia, se integrarão numa plataforma riquíssima de dados, que permitirão avanços ainda mais significativos por meio da ciência de dados e de computação, consequentemente necessitando de gente competente e qualificada.

No segundo pilar, operacionalização das práticas, há que se ter uma visão sistêmica entre o racional das práticas operacionais e a 
ciência que embasa as recomendações, e é neste ponto que reside um dos desafios na formação e qualificação de recursos humanos, em número suficiente, nas várias esferas da cadeia de valor florestal.
 
3. A formação e a qualificação de pessoas:
No terceiro pilar, o IPEF atua em duas frentes. A primeira abrange profissionais já formados, que estão no mercado de trabalho e nas empresas. Nesta frente, os programas cooperativos do IPEF via simpósios, workshops e treinamentos fazem a transferência de conhecimento e capacitação de implementação desdobrada na forma de práticas operacionais.

A segunda frente ocorre previamente à entrada do profissional no mercado de trabalho. Desde 2011, o PPGF – Programa de Preparação de Gestores Florestais atua junto a recém-formados com o objetivo de fortalecer conhecimentos e práticas de gestão. O programa evoluiu e foram inseridos tópicos como diversidade e inclusão, autoconhecimento, inteligência emocional, entre outros temas relevantes e pouco abordados durante a graduação.

O PPGF baseia-se numa filosofia de trabalho que busca identificar pessoas que percorreram o melhor caminho possível até sua graduação ou mestrado, com forte potencial de crescimento para contribuir com os desafios do setor. Anualmente, selecionamos entre 20 e 25 recém-formados em Engenharia Florestal e mestrandos em fase de conclusão. 

Na edição deste ano de 2025, tivemos 20 participantes selecionados, representando 14 universidades de diversas regiões do Brasil.
Ao final do programa, em média, 70% dos participantes são contratados pelas empresas patrocinadoras. Até o momento, 273 engenheiros formaram-se pelo PPGF.

O processo seletivo para a edição 2026, de 15 anos do PPGF, está em curso. Para esta edição contamos com o apoio de 11 empresas, a saber: Aperam, Bracell, CMPC, Dexco, Gerdau, Klabin, LD, Ramires, Suzano, Sylvamo e Veracel, além do apoio da empresa de desenvolvimento humano Rock Ensina. Interessante destacar o menor interesse pelo curso de engenharia florestal relatado por várias universidades parceiras do IPEF, ou seja, na contramão do crescimento do setor.

O IPEF, neste ano, apoiará institucionalmente a SBEF – Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais, no 4º ENCEF – Encontro Nacional de Cursos de Engenharia Florestal, com o objetivo de aprovação da proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais da Engenharia Florestal, a consolidação de uma rede permanente de formação e a aproximação entre academia, setor produtivo e sociedade.

4. Considerações finais:
Os desafios de produção, produtividade, sustentabilidade e competitividade são inegáveis e estão postos; por outro lado, nossa capacidade de enfrentar desafios também cresce de maneira significativa com os avanços da ciência. Aprecio muito a vertente humanista e, por meio desta vertente, junto de pessoas "gente boa", lograremos a construção das soluções na mesma altura dos desafios da nossa silvicultura.