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Alexandre de Vicente Ferraz

Coordenador Executivo do PTSM, Programa Cooperativo sobre Silvicultura e Manejo do IPEF

Op-CP-54

Os desafios atuais da silvicultura brasileira
De 1990 a 2010, a produtividade em plantações de eucalipto aumentou em mais de 60%, saltando de 25 m3 ha-1 ano-1 para cerca de 40 m3 ha-1 ano-1. Essa conquista foi mérito dos genótipos desenvolvidos pelos programas de melhoramento e do aprimoramento das técnicas silviculturais, como a adoção do cultivo mínimo (manutenção dos resíduos florestais sobre os talhões, buscando manter pelo menos 70% da superfície de solo protegido). No entanto observa-se que a produtividade vem decaindo de forma gradativa nos últimos 8 anos (ex. 36 m3 ha-1 ano-1 em 2016). 
 
De acordo com os especialistas, parte dessa redução da produtividade se deve ao avanço das plantações florestais para regiões pouco exploradas pela silvicultura e, consequentemente, pouco adaptadas às novas condições edafoclimáticas. Aliado a isso, a crise econômica mundial (2008-2009) fez com que as empresas brasileiras reduzissem os investimentos na silvicultura como um todo, praticando inclusive uma talhadia (condução de brotações) pouco planejada e criteriosa, o que provocou consideráveis perdas de produtividade nos anos seguintes. Hoje, o setor tem o grande desafio de, pelo menos, manter a produtividade florestal e, quem sabe, aumentá-la no futuro próximo.    
 
Nos últimos 15 anos, a área ocupada por plantações de eucalipto no Brasil aumentou em cerca de 70%; por outro lado, a área com as plantações de pínus reduziu em aproximadamente 15%, devido, principalmente, à sua substituição por espécies do gênero Eucalyptus (ex. E. benthamii). A expansão das plantações de eucalipto ocorreu principalmente nas regiões do Centro-Oeste brasileiro, tal como no estado do Mato Grosso do Sul, e áreas das regiões Norte e Nordeste (ex. Tocantins e Maranhão, respectivamente).

Essas regiões são, de modo geral, caracterizadas por apresentar chuvas concentradas em determinado período do ano (verão) e por altas temperaturas, o que acarreta elevada evapotranspiração e demanda hídrica pelos povoamentos florestais. A ocorrência de longos períodos de estiagem e as mudanças climáticas têm assolado os reflorestamentos por todo o Brasil, ocasionando mortalidade de árvores “adultas” (com mais de 3 anos) em grandes extensões de cultivo, seja por causa da falta de água ou, até mesmo, pelo surto de pragas e doenças. 
 
Muitas empresas do setor, juntamente com as universidades e os institutos de pesquisa, já estão procurando desenvolver genótipos mais adaptados às regiões de expansão florestal, envolvendo inclusive programas de melhoramento cooperativos de outros gêneros (ex. Corymbia). Por outro lado, no que tange à fertilidade do solo, muitos povoamentos têm apresentado sintomas de carência de boro (seca do ponteiro), cobre e zinco (tortuosidade do tronco) no Brasil. Acredita-se que a carência desses elementos no solo possa estar relacionada ao baixo teor de matéria orgânica nas áreas recém-implantadas (áreas de pastagem degradada) e à escassez de água, o que dificulta a difusão desses elementos no solo e sua respectiva absorção pelas plantas. 
 
A aplicação de fertilizantes boratados é consideravelmente bem consolidada no setor florestal, tanto em relação às doses (3 a 5 kg ha-1) quanto às fontes (ex. ulexita) e à forma de aplicação em cobertura. Todavia a aplicação de cobre e zinco é realizada ainda de forma empírica e preventiva, havendo pouco critério em sua recomendação. 
 
Algumas empresas e instituições de pesquisa (ex. Programa Cooperativo sobre Silvicultura e Manejo – PTSM/IPEF) têm desenvolvido estudos para delimitar os reais benefícios da fertilização com cobre e zinco, suas principais fontes no solo (ex. resíduos florestais) e o respectivo papel desses elementos na produtividade e na fitossanidade dos povoamentos florestais. É importante destacar que a fertilização é responsável por aproximadamente 30% dos custos de implantação/reforma de povoamentos florestais e, ao mesmo tempo, fundamental para a manutenção ou o aumento da produtividade em volume de madeira.

Um grande desafio para essas empresas tem sido a redução dos custos de produção, dada a sua elevação nos últimos anos. Por isso muitas delas têm diminuído a intensidade de parcelamento durante a fertilização e, consequentemente, o número de operações. Em alguns casos (ex. em solos mais argilosos), determinadas empresas já estão aplicando grande parte dos fertilizantes no momento do plantio, ou seja, na fertilização de base. 
 
Logicamente, essa prática deve ser realizada com critério e precaução, considerando o tipo de solo, o índice pluviométrico, a taxa de crescimento das plantas, entre outros fatores, de modo que se evite problema de mortalidade das mudas, devido ao aumento da salinidade próxima à rizosfera ou a perdas de nutrientes por lixiviação. 
 
Muito se tem falado sobre o uso de fertilizantes de liberação lenta ou controlada para a redução do número de operações com a fertilização florestal. De modo geral, esses fertilizantes não alteram a salinidade do solo quando aplicados em grande quantidade no momento do plantio e, ao mesmo tempo, possuem alta qualidade quanto às formulações (misturas granuladas), garantias e escoabilidade durante sua aplicação em filete contínuo, garantindo baixa segregação dos nutrientes e homogeneidade durante sua distribuição na área de plantio. 
 
Outro aspecto relevante nos últimos anos é a necessidade de mecanizar as atividades silviculturais no Brasil, tendo em vista a baixa disponibilidade de mão de obra qualificada e a necessidade de reduzir custos, como com encargos e rescisões contratuais, considerando a elevada rotatividade dos colaboradores no setor terceirizado. 
 
De modo geral, apenas 20% das atividades silviculturais são mecanizadas no Brasil, com destaque à pratica de preparo de solo. Muitas iniciativas vêm ocorrendo via interação universidade-empresa, para pesquisar formas de mecanizar o plantio e a irrigação de mudas, cujos resultados demonstram ser promissores quanto aos rendimentos e à qualidade das operações. 
 
Apesar disso, a silvicultura sofre ainda com a falta de investimentos em busca de máquinas/implementos apropriados e tecnologias de precisão. Muitos equipamentos são oriundos da agricultura e adaptados para a realidade florestal, o que acarreta baixa disponibilidade mecânica e elevada demanda por manutenções.
 
Em muitos casos, as empresas fabricantes de máquinas afirmam que o mercado florestal é pequeno perante outros segmentos agrícolas e, por isso, não se justificam elevados investimentos no desenvolvimento de máquinas específicas para a área de silvicultura. Além disso, o próprio setor florestal relativiza os impactos financeiros da silvicultura sobre os custos de produção, dada sua diluição ao longo do ciclo (5 a 7 anos). Isso também tem colaborado para o baixo investimento em P&D e na mecanização das atividades florestais.  
 
Apesar dos desafios atuais, o Brasil continua sendo destaque internacional no setor de florestas plantadas. Cabe a nós, silvicultores, exercitar a criatividade e pesquisar novas técnicas de produção, garantindo o suprimento de madeira e almejando novos patamares de produtividade florestal.