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Angelo Conrado de Arruda Moura

Especialista de Desenvolvimento Operacional da Suzano

Op-CP-62

O futuro da mecanização florestal
A capacidade de prever o futuro é algo que encanta as pessoas e, usualmente, é relacionada apenas a exercícios de futurologia sem muito valor. Mas, por outro lado, facilmente conseguimos relacionar os benefícios de uma visão estratégica assertiva com o mundo dos negócios.

No mundo atual, onde o acesso à informação vem se tornando cada mais fácil, o reconhecimento dos melhores caminhos a seguir se torna muito importante, para conseguirmos errar menos e de forma mais barata. Portanto a visão de futuro pode interferir diretamente no sucesso dos negócios e, consequentemente, no modo como pessoas e organizações tomam decisão.

No livro Superprevisões, os autores Philip Tetlock e Dan Gardner recomendam formas para reconhecer tendências e probabilidades, como o acompanhamento sistemático de informações e o pensamento do físico Enrico Fermi, através da “quebra” de problemas impossíveis em vários problemas menores.
 
E qual a relação desses conceitos com o nosso tema? Para falar de tendências futuras quanto à mecanização e à automação florestal, podemos fazer um exercício relacionando diferentes informações, das quais podemos destacar: o contexto histórico, refletindo sobre quais foram as demandas e tecnologias disponíveis em cada época; e as novas tecnologias em desenvolvimento, que, pela proximidade, nos passam uma melhor visão sobre a velocidade de avanço e quais soluções poderemos ter no futuro. 
 
Iniciando pelos objetivos da mecanização, é de pleno conhecimento que, desde os primórdios da mecanização agrícola, os principais resultados esperados já eram o aumento de produtividade e a redução do esforço humano. Podemos, inclusive, fazer paralelos com períodos marcantes da história, como a criação de máquinas a vapor e a Revolução Industrial, quando, em cada período, a mecanização agrícola foi desenvolvida utilizando as mesmas tecnologias industriais, impactando diretamente a produtividade, evidenciada pela relação de hectares cultivados por uma pessoa. 
 
Passando para a mecanização florestal, temos uma história similar, porém com aspectos particulares: por exemplo, além da cultura em si, a condição dos sites dedicados à cultura florestal, mais rústicos do que a agricultura, com terrenos declivosos e presença de obstáculos, como tocos, pedras e resíduos, que impactaram para que o processo de mecanização fosse mais lento do que em outras culturas. 
 
Trazendo a reflexão para a mecanização florestal no Brasil, podemos lembrar que iniciamos, algumas décadas atrás, com foco no processo de colheita, com a introdução dos equipamentos purpose built, projetados nos países do hemisfério Norte. Nesse momento, várias adaptações foram realizadas para adequar as máquinas ao nosso clima e às demandas, como o descascamento, processo que popularmente chamamos de “tropicalização”.

Vale lembrar que, nesse passado recente, também tivemos iniciativas de fabricação nacional. Esse processo de evolução e adaptação contou com o esforço de diversos “atores” da cadeia florestal, como fabricantes, dealers, instrutores, operadores, gestores, times de manutenção, etc.

E, como resultado, alcançamos altos índices de produtividade e eficiência operacional na colheita, sendo, inclusive, benchmark internacional. Além das características florestais, a intensidade de capital para desenvolvimento também foi um desafio, provocando o delay de uso de novas tecnologias na área.
 
Com o avanço da mecanização, não apenas conseguimos reduzir custo operacional, mas também conseguimos garantir a execução da prescrição técnica de manejo. Nesse sentido, a mecanização da silvicultura, mesmo com muitos improvisos e adaptações, contribuiu para que tivéssemos as florestas mais produtivas do planeta, atendendo às recomendações de preparo, adubação, proteção, etc. 
 
Diferentemente da colheita, a silvicultura tem a sua história com mais exemplos de tentativas e erros e, em geral, buscou replicar as soluções da agricultura. Independentemente do processo operacional, seja no viveiro, operações de campo de silvicultura e colheita, carregamento, transporte e descarregamento, e independentemente da época, os fatores de sucesso sempre serão os mesmos.

Podemos resumi-los em produtividade efetiva e tempos de ciclo. A produtividade tem uma relação direta com a tecnologia, como consequência do mecanismo de funcionamento, com maior ou menor velocidade de trabalho. Mas tão importante quanto são as paradas operacionais e não operacionais, como reposição de insumos, manobras, etc., que, ao longo da história, vemos que também podem determinar a viabilidade ou não de um equipamento.
 
Como principais pontos de aprendizado, que podemos resgatar do passado, destaco aqui alguns. A necessidade de padronização de equipamentos, em especial na silvicultura, para facilitar treinamento, manutenção e, assim, aumentar as taxas de utilização; a necessidade de estabilização da operação, com o pós-venda e processos bem definidos, pois apenas o desenvolvimento de máquinas e implementos não é suficiente.

Entre outros aspectos, também a escala de mercado após desenvolvimento é importante, para minimizar os impactos da alta customização. Além das questões técnicas, observamos que o processo de inovação para as operações florestais não difere de outros setores.

Ocorrem, geralmente, de forma incremental, e os três pilares, pessoas, processos e tecnologia, são determinantes para o sucesso e devem ser observados continuamente. O momento de rápida transformação digital por que passamos é de pleno conhecimento de toda a sociedade. O tempo de maturação para tecnologias tem sido cada vez menor, portanto outros fatores do processo de inovação se tornam tão importantes ou até mais do que as tecnologias em si.

Como diferenciais para sucesso, arrisco resumir, aqui, escolhas assertivas quanto à estratégia e a players, projetos cooperativos (errar rápido e barato), mecanismos de funding, metodologias ágeis para desenvolvimento, metodologias para processos eficientes (Lean), processo de capacitação efetivo e adequado à realidade de cada momento.

Com a velocidade e crescente democratização da informação, também são de conhecimento de todo  o setor iniciativas e desenvolvimentos que vêm sendo feitos, como plantadeiras, drones, etc. E quanto ao futuro... O que podemos esperar em termos de mecanização e automação? Quais impactos podemos ter no mercado de trabalho florestal? Quais mudanças podem ocorrer na qualidade de vida dos trabalhadores?



Quanto à visão de futuro sobre as tecnologias, potencialmente, viveiros com uso de robótica; drones e plataformas autônomas em enxames; atividades automatizadas, como plantio e irrigação; atividades localizadas, como uso de sensores e câmeras para pulverização seletiva; nutrição com taxa variável, com relação à árvore; colheita remota e autônoma (passando primeiro por redução em comandos); carregamento autônomo; transporte autônomo e platooning, em pátios ou rotas específicas; pátios de madeira com veículos e gruas de operação remota/autônomas; manutenção de equipamentos com realidade virtual; imagens e IA substituindo processos de controle de qualidade operacional; avanço da digitalização, com maior disponibilidade de dados integrados (sistemas nativos, CAN, sensores externos, etc.), permitindo feedback real time para operadores, com recursos de gamification, e análises mais complexas e automatizadas de causa e efeito. 
 
Todas essas tecnologias são muito interessantes e, apesar da preocupação, no curto prazo, quanto à viabilização econômica, devem chegar cada uma a seu tempo, impreterivelmente. Mas, como dito anteriormente, a tecnologia não avança em saltos, mas como degraus de uma escada. Então, importante pensarmos: o que estamos fazendo hoje para chegar lá amanhã?

A visão unificada do setor é importante para vencermos as barreiras da escala. A criação de um novo equipamento é apenas o ponto inicial; precisamos da cadeia bem estabelecida, com suprimentos de peças, manutenção, que permitam que as novas máquinas se sustentem, tanto nas empresas como produto para os fabricantes. 
 
Quanto ao mercado de trabalho e os impactos na geração de empregos, a introdução de tantas mudanças tecnológicas deve igualmente causar grandes mudanças na qualidade e na forma do trabalho operacional. Os principais especialistas no tema prevêem, sim, a descontinuidade de certas funções (Kai-Fu Lee, AI Superpowers). Mas também esperam a criação de novas skills necessárias, como eletroeletrônica, programação, etc. 
 
Então, não devemos estar preocupados com fechamento de postos de trabalho, mas sim como preparar as pessoas para que não fiquem fora de um mercado existente e em crescimento (Erik Brynjolfsson, The Second Machine Age). O gap de pessoas especializadas pode restringir o avanço de tecnologias no Brasil, criando uma espécie de “apagão tecnológico”. Mas devemos nos preparar para que, de um risco, possamos criar um “mar” de oportunidades. 
 
Após as reflexões de onde viemos e a expectativa de aonde podemos chegar, gostaria de concluir com alguns insights, de como os desafios da mecanização e automação podem ser vistos, não apenas sob a óptica de novos crescimentos de produtividade no setor, mas também como um horizonte de oportunidades, que podem engajar novas gerações e manter o País na vanguarda do setor florestal. 
 
Em muitos países, um dos drivers da automação e incremento tecnológico é a preocupação com a escassez de pessoas interessadas em trabalhar em atividades de campo. É fato que as tecnologias têm a capacidade de atrair jovens e empresas de tecnologia para o ambiente rural. 
 
Quanto às oportunidades de negócio, atualmente, já observamos muitas startups e hubs de inovação voltados para o agro. Em menor escala, também observamos que o setor florestal pode ser considerado um nicho interessante dentro do agro, podendo ser, neste momento, bem atrativo, em razão da baixa competitividade.
 
Finalmente, a tecnologia pode trazer oportunidades, mas não define o destino, nós definimos o caminho que seguiremos. Portanto as nossas estratégias e ações definirão o ritmo de adoção e quais ferramentas serão parte das operações florestais do futuro.