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Samuel Vasconcelos Valadares e Nairam Félix de Barros

Professores Adjunto e Voluntário, respectivamente, do Departamento de Solos da UF-Viçosa

Op-CP-77

A nutrição mineral e a mitigação do estresse hídrico
Nutrientes são, por definição, elementos essenciais à vida das plantas. O solo é o reservatório natural dos nutrientes minerais, sendo sua capacidade de suprimento dependente de características tais como mineralogia, textura e profundidade e do manejo florestal utilizado. No Brasil, predominam o clima tropical e os solos muito intemperizados, com baixa disponibilidade natural de nutrientes minerais, de tal forma que a produção florestal depende fortemente da utilização de fertilizantes e do manejo aplicado à floresta. 
 
Face à elevada produtividade florestal, na maioria das condições de cultivo, a quantidade de nutrientes demandada é elevada. Os curtos períodos de rotação não são condizentes com uma ciclagem de nutrientes otimizada, seja ela interna, seja externa, o que, em termos relativos, aumenta a necessidade de suprimento de nutrientes via fertilizantes. 

Os ganhos de produtividade florestal em decorrência da aplicação de fertilizantes tornaram-se mais marcantes com a expansão dos plantios florestais para a região do cerrado, inicialmente com o advento dos incentivos fiscais ao reflorestamento e atualmente com a instalação de várias indústrias nessa região. 

Os trabalhos pioneiros (décadas de 70 e 80) de adubação do eucalipto desenvolvidos pela Esalq (Mogi Guaçu-SP) e Universidade Federal de Viçosa (Itamarandiba-MG) registraram ganhos que atingiram 15% e 440%, respectivamente. 

Decorridos mais de 50 anos de uma silvicultura relativamente intensiva, pode-se dizer que é impensável efetuar plantios industriais de eucalipto sem que se proceda a alguma correção do solo e ao adequado manejo de nutrientes minerais. Experimentos de caráter científico e o ganho de conhecimento com a prática têm permitido o desenvolvimento de procedimentos e de ferramentas que permitem a recomendação de corretivos e fertilizantes para os plantios com muita assertividade. Nesse período, houve um ganho espetacular de competência profissional no setor, o que, associado às condições ambientais, tornou o Brasil o maior produtor mundial de celulose de fibras curtas e de carvão vegetal. Isso é, portanto, resultante de um manejo florestal eficaz.

O cultivo do eucalipto no Brasil ocorre de sul a norte, englobando grandes variações de solo e clima, além das recorrentes anomalias climáticas, particularmente do regime pluviométrico e térmico. Essas variações impõem restrições à sobrevivência e ao crescimento das plantas e motivam buscas de medidas de manejo florestal que mitiguem os efeitos que causam prejuízos à produtividade. Em princípio, uma planta com nutrição mineral adequada estaria em melhores condições de suportar os estresses bióticos e abióticos. Por isso, é frequente a pergunta: “Como a nutrição mineral pode mitigar os efeitos da seca ou do excesso de água?” 

Os estudos sobre o papel da nutrição na tolerância do eucalipto à seca têm-se intensificado, somando-se aos testes de comportamento de materiais genéticos a diferentes condições climáticas. A literatura clássica sobre nutrição mineral de plantas registra as funções dos vários nutrientes minerais. No que tange à tolerância à seca, destaca-se o papel do potássio. Plantas bem nutridas de potássio apresentam, dentre outras características positivas, adequado controle estomático, com redução da perda de água por transpiração e aumento de eficiência de uso desse recurso para o seu crescimento. 

No Brasil, vários registros do papel do boro na redução da seca de ponteiros do eucalipto têm sido também apresentados. Este nutriente, além de promover maior estabilidade da parede celular e do sistema de transporte de água na planta, com redução dos danos decorrentes da seca, está envolvido na translocação de carboidratos e tem grande influência no crescimento de raízes, com consequente aumento da capacidade das plantas em absorver água e nutrientes. 

A exigência de boro e a magnitude de sua influência na mitigação dos efeitos da seca dependem do material genético. Esse fato leva à frequente observação no campo de materiais mais ou menos afetados pela falta de chuvas.  

A inclusão do boro nas formulações NPK de plantio é rotina, além de sua pulverização foliar no início do período de seca, técnica necessária face à redução da transpiração à sua menor absorção pelo sistema radicular. Registra-se que a transferência de boro entre partes da planta, em especial das folhas para o sistema radicular, é mais efetiva quando a pulverização atinge maior proporção de folhas mais maduras em comparação com folhas mais novas. 

A adubação de cobertura com adubos contendo potássio e boro, próximo ao final do período chuvoso, é também uma estratégia efetiva na prevenção/mitigação dos efeitos da seca em regiões onde o período de seca não é muito prolongado. 

Com funções estruturais semelhantes às do boro, o cálcio desponta como nutriente que aumenta o estado de hidratação da planta, com papel importante no crescimento de raízes, maior absorção de água, com menores danos oxidativos decorrentes da seca, além daquele relacionado à estabilidade de membranas, tornando a planta menos susceptível à seca. Portanto, sua disponibilidade no solo, em especial em camadas mais profundas, pode mitigar os efeitos da seca também pelo maior aprofundamento das raízes. 

Ressalta-se que o cálcio, na maioria das situações de plantio, é o segundo nutriente mais acumulado pelo eucalipto, em particular na
casca. É inquestionável a importância de um sistema radicular mais volumoso e profundo na redução dos danos causados ao eucalipto pela restrição hídrica. Os solos tropicais são muito pobres em fósforo, o que explica a elevada resposta do eucalipto à adubação fosfatada.

A baixa mobilidade do nutriente no solo é responsável pelo “fosfotropismo” de raízes, fato que justifica a grande preocupação no modo de localização da adubação fosfatada em condições de campo, visando estimular, ao máximo, o crescimento do sistema radicular. Evidentemente, a localização mais profunda dos fosfatados pode contribuir para maior absorção de água pelas plantas e reduzir o estresse hídrico. 

O uso de gesso agrícola e de produtos similares têm sido preconizado no cultivo agrícola, em áreas do cerrado, como uma forma de elevar o teor de cálcio e de outras bases em camadas mais profundas do solo, dentre outros efeitos (nutricionais e não nutricionais), o que permite maior aprofundamento radicular. Os estudos conduzidos no cerrado com a aplicação de gesso ou enxofre têm mostrado ganhos significativos de produtividade do eucalipto, seja pelo papel do enxofre como nutriente, seja como condicionador do solo. 

Tendo em vista a elevada tolerância do eucalipto ao alumínio, é razoável considerar seu efeito nutricional, direto, pelo maior suprimento de calcio e enxofre e, indireto, pelo aumento da capacidade de aquisição de água e nutrientes pelas plantas. 

A propósito, trabalhos recentes conduzidos na UF-Viçosa apontam para o papel do enxofre na integridade do sistema de transporte de água em plantas submetidas à restrição hídrica e na melhoria da distribuição de nutrientes sobre o crescimento de plantas, com maiores efeitos positivos em condições de restrição hídrica. Nessa mesma linha, vale destacar o efeito positivo dos micronutrientes metálicos no alívio de efeitos negativos da baixa disponibilidade hídrica e de outros estresses, bióticos e abióticos. 

Diante do exposto, conclui-se sobre o importante papel do manejo de nutricional na mitigação de efeitos negativos de estresses hídricos no cultivo do eucalipto, seja pela falta, seja pelo excesso de água. Discussões semelhantes são válidas para outros tipos de estresses, bióticos e abióticos.