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Jefferson Bueno Mendes

Diretor da Pöyry Silviconsult Engenharia

Op-CP-24

Novas fronteiras, empreendedores e negócios

Neste artigo, analiso o movimento do setor florestal em direção ao oeste brasileiro, considerando suas principais características: uso intensivo de recursos, tecnologia e tempo; alto grau de integração floresta-indústria, concentrando a oferta e a demanda; necessidade de forte e constante alinhamento entre a oferta e a demanda de madeira; intensas relações socioambientais; e limitado grau de resposta às possíveis variações da oferta e da demanda.

As empresas iniciaram esse movimento cientes da complexidade do processo. Entretanto, não tinham percepção do do seu intenso dinamismo. A exaustão de áreas apropriadas para florestas ao longo da costa brasileira, devido, principalmente, ao alto preço da terra e ao complexo contexto socioambiental, não deixou outra alternativa a não ser buscar novas fronteiras, assumindo, assim, os grandes desafios inerentes ao pioneirismo: adquirir grandes áreas de terras, obter licenciamento socioambiental, prover infraestrutura, assumir os custos adicionais de logística, desenvolver tecnologias florestais, entre outros.

Nesse contexto, destacam-se os projetos da Fíbria no MS e RS, da Stora Enso no RS, da Suzano no MA e PI e, mais recentemente da Eldorado no MS. A esses projetos, deve-se destacar o pioneirismo da Vale, com o projeto Florestar na região de Carajás (PA e MA), bem como da própria Suzano.

O que nos surpreendeu, pela velocidade, foi o movimento dos fundos de investimentos, representado pelas TIMOs (Timber Investment Management Organization – Organizações gestoras de investimento florestais). Além da aquisição de ativos florestais em mercados desenvolvidos, investiram fortemente em plantações florestais em mercados emergentes, com maior grau de risco associado no RS, MG, MS, MT, TO, BA e PI.

Destaca-se também que os pequenos investidores e os fomentados poderão ter um papel relevante nas regiões pioneiras, como fornecedores de madeira para a indústria e agentes reguladores da estabilidade socioeconômica, desde que duas condicionantes sejam viabilizadas: arranjos produtivos mais amplos (diversidade de indústrias) e mercados de madeira menos concentrados (mais próximo de uma economia de mercado).

Do contrário, os mesmos problemas verificados em regiões que se caracterizam por um alto grau de concorrência imperfeita irão se repetir, principalmente os conflitos sociais. Com relação à diversificação, a atração das indústrias de serrado, compensado, painéis reconstituídos, energia e movelaria para as novas fronteiras é fundamental e deve ser fomentada pela indústria de celulose.

Caso todos os projetos industriais anunciados para os próximos 10 anos se tornem realidade, haverá a necessidade de uma área plantada adicional da ordem de 2,1 milhões de hectares, elevando os atuais 6,5 milhões para 8,6 milhões de hectares, representando um crescimento de 2,8% ao ano. Quase 95% dessas novas florestas serão de eucaplipto.

Atrasos e cancelamentos de projetos poderão ocorrer. Projetos independentes poderão sofrer significativos impactos no caso de algumas das regiões-alvo não se consolidarem como arranjos produtivos competitivos, pois tal viabilização exige a necessidade de grandes áreas plantadas.

A tendência da economia na Europa e nos EUA traz também preocupações, pois somos um setor fortemente exportador. Além disso, ressalta-se que não dispomos de canais e políticas governamentais à altura de nossa importância para a economia nacional. A atual indefinição quanto à regulação da lei que prevê limites para a aquisição de terras por estrangeiros é um exemplo claro desse contexto. Adicionalmente, a economia brasileira (taxa cambial, inflação e força de trabalho), nossas limitações de infraestrutura e de logística vêm impactando os custos de investimento e de produção.

Em decorrência, a competitividade internacional do setor vem diminuindo, abrindo espaço para competidores industriais no médio prazo, principalmente da América Latina e da África.  A boa notícia é que o setor vem reagindo de forma incisiva a esses riscos, investindo em tecnologia, aumentando a escala de produção, integrando os aspectos socioambientais ao seu modelo de gestão e buscando maior representatividade política.

Em decorrência das novas fronteiras silviculturais e da demanda mundial por energia e produtos renováveis, o setor florestal brasileiro identificou dois novos mercados: o de bionergia e o de biorrefinarias. Destaca-se a iniciativa pioneira da Suzano Energia Renovável em construir três unidades de produção de pellets, com capacidade para três milhões de toneladas/ano, a princípio para atender ao mercado europeu.

Investidores internacionais têm procurado por suprimento de madeira de longo prazo para viabilizar novos projetos industriais que se enquadrem no conceito de biorrefinaria (obtenção de multiprodutos resultantes do processamento da madeira). Internamente, temos os setores agrícola e de energia como clientes potenciais.

A procura por “madeira plantada” para a geração de energia pela agroindústria vem crescendo de forma exponencial, e o governo brasileiro vem definindo políticas que priorizam a geração de energia renovável.

Considero o evento das novas fronteiras um marco tão importante quanto foi a política dos incentivos fiscais. Apesar de somente podermos medir os impactos resultantes no médio e longo prazo, tenho certeza de que a “interiorização” do setor florestal trará benefícios significativos para a sociedade e para a economia brasileira.