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Júlio César Natalense e Sarita da Cunha Marques Severien

Gerente de Negócios de Carbono e Coordenadora de Mudanças Climáticas, da Suzano, respectivamente

OpCP68

Investimento na natureza é a chave
À medida que a Covid-19 diminui, um consenso está emergindo na sociedade: a importância de se conter o aumento das emissões de gases de efeito estufa e frear seus impactos nos ecossistemas para que uma crise climática, talvez muito pior que a sanitária, não ganhe dimensão em um futuro próximo.
 
Muitos compromissos vêm sendo assumidos por nações e empresas, demonstrando a preocupação com o futuro da humanidade. O investimento nas “Soluções Baseadas na Natureza” ou nas “Soluções Climáticas Naturais” é elemento-chave para a mitigação dos impactos climáticos.
 
O Brasil conta com a maior floresta tropical e a maior biodiversidade do planeta, mas também carrega uma grande extensão de áreas degradadas e subutilizadas no território, disponíveis para serem recompostas e valorizadas em um modelo sustentável. Assim, o País tem a oportunidade e o desafio de ser protagonista de uma das principais apostas mundiais no enfrentamento dos impactos causados pelas crises do clima e da biodiversidade: o uso das florestas como reservatórios de carbono. Em relatório, o CDP (Carbon Disclosure Project) indica que é necessário evitar que aproximadamente 21 bilhões de toneladas de CO2e sejam lançadas na atmosfera. O estudo ainda aponta que a neutralidade climática está diretamente relacionada à capacidade de se recuperar pastagens degradadas e conservar florestas nativas. 

Nosso país possui 9 milhões de hectares de florestas plantadas, com estoque de 1,88 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). Somam-se a isso 5,9 milhões de hectares de áreas naturais preservadas.  

Atualmente, estamos entre os países que mais emitem gás carbônico no mundo. Contudo a implantação de regulamentações de mercado de carbono pode ser uma aliada para reverter o cenário, considerando que serão instrumentos decisivos para fomentar a descarbonização do setor privado e ampliar os investimentos em medidas de mitigação. 

O momento para a sociedade global criar mecanismos eficazes para o combate às mudanças climáticas é agora, e precisamos de metas mais ambiciosas, como a antecipação da neutralidade de emissões líquidas de gases de efeito estufa. Para isso, o engajamento do setor privado é crucial, fomentando a agenda ambiental junto a governos para que se busque um acordo em relação a mercados globais regulados de carbono, vinculados ao Acordo de Paris. No Brasil, o governo editou o Decreto 11.075/2022, que define os parâmetros iniciais para a regulamentação do mercado de carbono, com planos setoriais de redução, e a instituição doSistema Nacional de Redução de Gases de Efeito Estufa (SINARE). 

Para que um projeto passe a gerar créditos comercializáveis no mercado de carbono, é primordial ter metodologias que determinem a elegibilidade do projeto e os critérios de qualidade, como a comprovação de adicionalidade da atividade, e todas as demais etapas de mensuração, relato e verificação, cujo objetivo é garantir que o benefício proporcionado pela atividade realmente tenha um diferencial significativo nos aspectos ambiental, econômico-financeiro e de implantação.

A questão é desafiadora, e as metodologias estão em constante evolução. A Verra, por exemplo, é uma das plataformas de registro global no mercado voluntário que garante que os créditos correspondam a menos carbono na atmosfera. Diante desse cenário, há empresas que buscam soluções tecnológicas para reduzir as emissões em seus processos e ainda contam com a compra dos créditos de carbono em sua jornada para compensação das emissões, que são difíceis de eliminar no curto prazo.

Para alcançar competitividade, a indústria de papel e celulose depende de conservação, restauração e manejo de ecossistemas e, por isso, é altamente contributiva na compensação de carbono, sendo parte fundamental na construção de soluções para desafios estruturais. Aqui vale o destaque para o poder de escalabilidade do setor e para sua eficiência já comprovada na implementação de medidas efetivas. 
 
Ao longo de décadas, a indústria de árvores plantadas aprendeu a aplicar a ciência para manejar de forma sustentável a floresta. No modelo de manejo em mosaico, por exemplo, enquanto uma floresta plantada é colhida, temos outras crescendo, interconectadas por áreas de preservação, conservação de mata ciliar e corredores ecológicos proporcionando a proteção para a fauna. 

A Suzano tem, dentre suas Metas de Longo Prazo para 2030, também conhecidas como Compromissos para Renovar a Vida, a ambição de promover a conexão de 500 mil hectares de remanescentes isolados de vegetação, através da formação de corredores ecológicos nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Apenas em 2021, a empresa teve, como balanço entre suas emissões e remoções, o montante de 8,9 milhões de toneladas de CO2e removidas da atmosfera. A captura do CO2 faz parte dos Compromissos Para Renovar a Vida se comprometendo a retirar, até 2025, 40 milhões de toneladas da atmosfera.

Floresta plantada e o seu papel social:
Com um modelo de ciclo de cultivo longo, o setor de floresta plantada entende que é preciso agir hoje para que tenhamos sucesso no futuro. O apoio da natureza, das comunidades que estão no mesmo território e de outros grupos de interesse permite a perenidade do modelo e a contribuição ao combate à crise climática.
 
Apoiar e investir no desenvolvimento de comunidades que vivem nas mesmas regiões onde os plantios florestais acontecem deve ser parte inerente do modelo de negócio. Dessa forma, a atividade econômica desempenhada pelas pessoas, gerando trabalho e renda, atua como fator adicional de proteção à floresta.  O aumento de renda, educação e conscientização ajuda a garantir que a comunidade em torno também se torne agente de conservação.

Os programas sociais ainda contribuem para a conscientização ambiental, fomentam a educação e o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. Nesse sentido, a Suzano está comprometida a retirar 200 mil pessoas da linha da pobreza e aumentar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em 40%, em todos os municípios prioritários, até 2030.
 
Podemos concluir que temos urgência nas questões climáticas e temos instrumentos que alavancam a corrida pela mudança. O setor de florestas plantadas tem a experiência e o poder de implementação de remoções de carbono em curto prazo e larga escala. A geração de créditos de carbono por esse setor pode contribuir na jornada de descarbonização do restante da economia. Precisamos, portanto, colocar em prática nossa capacidade e vontade de renovar a forma de produzir, consumir, distribuir valor e de nos relacionarmos com a natureza. É nosso dever potencializar esse movimento de regeneração e renovação do nosso planeta para construir um futuro positivo e sustentável para todos.