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Eduardo da Silva Lopes

Professor de Colheita e Transporte Florestal da Unicentro, Pesquisador do CNPq e Coordenador do Cenfor

Op-CP-51

Gestão e capacitação
A colheita de madeira representa elevados custos dentro do processo produtivo florestal, apesar de toda a evolução tecnológica disponível nas máquinas e nos equipamentos. É fato que, devido aos elevados custos operacionais, ao aumento na demanda de produção e à baixa disponibilidade de mão de obra qualificada, a maioria das empresas florestais brasileiras, independente de seu porte, estão mecanizando, de forma intensiva, as suas operações de colheita da madeira.

Tal fato é favorecido pela indústria que tem desenvolvido e disponibilizado ao mercado florestal diversas opções de máquinas e equipamentos robustos, permitindo a execução do trabalho em condições operacionais adversas; confortáveis, proporcionando melhores condições de trabalho ao operador; e com elevada tecnologia, possibilitando expressivos ganhos de produtividade.
 
Entretanto, apesar de toda a tecnologia disponível, ainda existem demandas a serem atendidas em relação a alguns temas, com destaque para a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas à colheita de precisão; telemetria e transferência de dados; colheita de madeira em áreas declivosas; descarbonização e redução de emissões; redução de impactos ambientais, dentre outros.

Sob esse aspecto, torna-se fundamental uma maior aproximação e parcerias entre fabricantes, universidades e empresas florestais, possibilitando o desenvolvimento de novos projetos. Além disso, também existe a necessidade de as empresas florestais aprimorarem os processos de gestão, sendo o grande desafio para os próximos anos. 
 
E, dentro desse aspecto, cita-se a necessidade de aprimoramento dos atuais modelos de manutenção mecânica; a necessidade de melhorias no processo de gestão de recursos e de pessoas; e, principalmente, maiores investimentos no fator humano, por meio de programas de capacitação de operadores e mecânicos.
 
Em relação à manutenção mecânica, é fato que a maioria das empresas florestais utiliza máquinas modernas e de elevada tecnologia na execução de suas operações de colheita da madeira, sendo a manutenção responsável por 50% a 60% do custo operacional. Por isso é essencial um eficiente modelo de manutenção mecânica, por meio de uma adequada infraestrutura de apoio para atendimento rápido das máquinas, melhorias das técnicas e procedimentos e maiores investimentos na capacitação de mecânicos, garantindo, assim, o aumento na disponibilidade mecânica das máquinas e confiabilidade das operações, fatores fundamentais para o aumento da capacidade produtiva e redução dos custos de produção.
 
A gestão de recursos e de pessoas é outro aspecto que necessita ser aprimorado nas áreas operacionais de colheita da madeira. É fato que o problema inicia-se no momento de formação de nossos futuros profissionais florestais, pois o tema “gestão” é pouco ou quase nada tratado pelos cursos de engenharia florestal das universidades brasileiras, além da baixa oferta de disciplinas ligadas à área operacional. Além disso, existe sempre a necessidade de aprimoramento dos atuais modelos de planejamento e de controle das operações por parte das empresas, possibilitando o uso racional dos recursos e a melhoria dos procedimentos para o aumento da eficiência operacional, atendendo aos aspectos técnico, econômico, ambiental, qualidade e segurança.
 
É importante ainda mencionar que a maioria dos problemas operacionais na colheita de madeira, em termos de baixa eficiência e de elevados custos, normalmente estão relacionados aos ineficientes modelos de gestão. É comum observamos problemas de relacionamento entre pessoas envolvidas no processo produtivo, falhas nos sistemas de controle, falta de integração entre as áreas operacionais e a presença de técnicos com baixo grau de conhecimento ocupando determinados cargos e tomando decisões equivocadas.

Além disso, muitas empresas florestais, buscando uma ilusória redução de custos, acabam contratando profissionais com menor grau de instrução para ocupar determinados cargos nas frentes operacionais, situação que compromete todo o planejamento e o controle das operações florestais.
 
Por fim, um aspecto de grande importância para o aprimoramento da colheita de madeira refere-se ao processo de capacitação de pessoas, principalmente de operadores e de mecânicos. Apesar de todo o processo de inovação tecnológica disponível nos atuais modelos de máquinas de colheita da madeira, o ser humano continuará, por muito tempo, sendo o fator mais importante dentro do processo produtivo e fundamental para o sucesso do empreendimento florestal.
 
É fato que as grandes empresas florestais possuem pessoal qualificado, infraestrutura e recursos financeiros disponíveis para investir de forma significativa na capacitação de seus operadores de máquinas. Porém fica sempre a pergunta: como atender às médias e pequenas empresas florestais? Nesse aspecto, é importante mencionar que, em muitas empresas, infelizmente, ainda é comum observarmos um novo operador sendo treinado por outro operador mais experiente diretamente na máquina durante a jornada de trabalho.

Tal situação, além de ocasionar elevados custos devido à mobilização da máquina, menor disponibilidade mecânica e maiores riscos de acidentes de trabalho, acarreta, principalmente, a transferência de técnicas inadequadas de trabalho, criando os chamados “vícios operacionais”. Esses problemas permanecerão sempre presentes nos operadores, afetando a eficiência e a qualidade das operações, com maiores riscos de acidentes, além de significativas perdas de produção e de elevados custos. 
 
Por isso os Centros de Treinamentos são fundamentais nesse processo, permitindo a capacitação dos operadores, principalmente nas pequenas e médias empresas florestais, podendo ser citado o Centro de Formação de Operadores Florestais (Cenfor), da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Unicentro, que, há 14 anos, atua no mercado florestal brasileiro, tendo capacitado, durante esse período, aproximadamente 4 mil operadores em todo o Brasil, especialmente nas empresas florestais da região Sul do Brasil.
 
Também é importante ressaltar que, a partir de algumas experiências, observamos muitos indivíduos apresentando excelente desempenho durante o período do treinamento de formação (simulador e prática), mas não se adaptaram à função de operador, por ocasião da execução do trabalho em situação real de campo, abandonando o cargo e se desligando da empresa logo em seguida, ou, quando permanecem, produzem muito abaixo do potencial ou da meta estabelecida pela empresa.

Por isso a capacitação dos operadores de máquinas de colheita da madeira não é o único fator que determina uma operação bem-sucedida, sendo também necessária uma seleção criteriosa dos indivíduos com perfil adequado ao cargo. Conforme mencionado anteriormente em outros artigos: “Se todas as pessoas fossem iguais e respondessem da mesma forma durante o período de formação e no trabalho, não seriam necessários os processos de seleção. Portanto, conhecer as capacidades ou talentos individuais dos futuros operadores de máquinas de colheita da madeira no momento da seleção é fundamental para identificar um profissional bem-sucedido e de sucesso”. 
Nesse aspecto, destaca-se uma pesquisa que está em andamento no Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais da Unicentro, em Irati-PR, com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade da Flórida, Estados Unidos, – especialistas nas áreas de neurociências, comportamento humano e habilidades motoras. O objetivo principal dessa pesquisa é propor uma nova metodologia a ser aplicada na seleção de operadores de máquinas de colheita da madeira, baseada nas capacidades ou talentos individuais: inteligência, memória, habilidade e comportamento.
 
Portanto foi possível constatar que, apesar dos avanços tecnológicos ocorridos na área de colheita da madeira, com máquinas e equipamentos modernos e de elevada complexidade, o grande desafio é o aprimoramento dos atuais modelos de gestão operacional e de capacitação dos futuros operadores de máquinas e de mecânicos com perfil adequado ao cargo. Além disso, temos que refletir e fazer o dever de casa, buscando sempre melhorar o processo de formação de nossos profissionais florestais, bem como a sua valorização por parte das empresas.