ESG é, provavelmente, um dos termos mais comentados nos últimos anos. Primeiro, por atrair os olhos dos investidores. E embora tenha mais de duas décadas, ganhou força real nos últimos cinco anos. Mais recentemente, no entanto, por influência política e confusões conceituais, tem sido alvo de dúvidas em algumas empresas – que já não sabem se devem investir ou recuar em suas práticas ambientais, sociais e de governança.
Vamos, então, a uma conversa real, franca e livre de vieses. Deixemos de lado ideologias e entremos nos dados. É hora de trocar o abstrato pelo concreto – e focar no que realmente importa: garantir que os negócios se mantenham relevantes, resilientes e operando no longo prazo.
Então, vamos aos fatos: ESG começou como um movimento voluntário, usado por empresas que buscavam melhorar sua reputação. Depois, tornou-se critério para investimentos e acesso a capital mais barato. Porém, evoluiu para um imperativo regulatório: só nos últimos anos, mais de 2.000 novas normas relacionadas a ESG foram criadas em diversos países.
Essa projeção, porém, tem sido desafiada por discursos polarizados que rotulam práticas sustentáveis como ideológicas, ou as reduzem a tendências “woke”. Com isso, algumas empresas optaram por rever sua comunicação – mas não necessariamente seus compromissos.
Afinal, os fatos são inegociáveis: vivemos uma crise climática crescente, com eventos extremos, perda de biodiversidade e pressão sobre os recursos naturais. Já consumimos mais do que o planeta é capaz de regenerar a cada ano. Estima-se que, até 2030, precisaremos do equivalente a dois planetas Terra para sustentar o atual modelo de vida. E 2030 está logo ali.
A população mundial segue crescendo – e com ela, a demanda por terra, energia, água e alimentos. Ignorar essa realidade é insustentável, tanto ambiental quanto social e economicamente. Para atender às futuras demandas, precisaremos produzir mais alimentos nos próximos 40 anos do que nos últimos 8.000. Isso exigirá 593 milhões de hectares adicionais de terra – o dobro do território da Índia. Nesse contexto, as empresas têm duas opções: reagir ou se antecipar. E é nesse ponto que a sustentabilidade deixa de ser discurso e vira estratégia concreta de sobrevivência e geração de valor.
Mesmo assim, muitas organizações ainda veem os investimentos ambientais apenas como custo – e, pior, custo com retorno "lento". O que ignoram é o preço da inação: perda de mercado, maior risco operacional, restrições de financiamento, fuga de talentos, danos reputacionais e entraves regulatórios.
Adotar práticas ambientais responsáveis reduz riscos, aumenta a eficiência, estimula a inovação e abre portas para novos mercados. Estudos comprovam: empresas com bons indicadores ESG têm mais longevidade, menor custo de capital e melhor desempenho financeiro ao longo do tempo.
O que estamos vivendo não é um retrocesso, mas uma transição. O ESG está deixando de ser diferencial de marca para se tornar fundamento de estratégia. Sai o marketing verde superficial, entra a sustentabilidade como ativo de negócio. O que muda não é o compromisso – é a forma de entregá-lo. Mais ação. Menos discurso.
Como líderes, precisamos refletir: queremos que nossas empresas existam daqui a 10, 20, 30 anos? Queremos ter acesso aos recursos naturais essenciais? Precisamos nos manter competitivos num mundo mais exigente? Se a resposta for sim, então a sustentabilidade não é opcional – é vital.
Podemos continuar distraídos pelas manchetes que anunciam o “fim do ESG” ou preocupados com qual termo usar nas comunicações corporativas. Mas, enquanto isso, empresas sérias estão evoluindo – fortalecendo suas práticas, ganhando mercado e lucrando mais.
A hora de trocar o abstrato pelo concreto chegou. Sustentabilidade não é um tema do futuro. É uma condição do presente. E quando bem integrada à estratégia, ela não apenas protege – ela potencializa seus negócios. E então, de que lado você vai ficar?