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Antonio Paulo Mendes Galvão

Consultor Florestal Independente

Op-CP-19

Empreendedores do sistema florestal brasileiro

É notável a herança que a atual e a futura geração do Setor Florestal Brasileiro estão recebendo de empreendedores que já deixaram ou estão deixando a atividade profissional. O legado, cuja maior parte foi construída a partir da década de 60, representa 3,4% do PIB do País, que corresponde a US$ 44,6 bilhões. As exportações de produtos de base florestal do Brasil equivalem a mais de 5% do total exportado.

A área de florestas plantadas aproxima-se dos 6 milhões de hectares, e os reflorestamentos anuais superam 600 mil hectares. Poderoso estoque de tecnologias permite liderança mundial na produção de madeira e celulose/papel de eucalipto. Fica, assim, evidente a responsabilidade dos atuais executivos e cientistas na conservação e ampliação desse patrimônio.

Esse desafio exige, porém, profissionais de alto nível, com características apropriadas ao contexto do Sistema Florestal Brasileiro e do cenário internacional, que mudam rápida e continuamente. Esse panorama inclui a indesejada realidade do setor de florestas plantadas: não possuir, ainda, um abrigo apropriado, justo e seguro nas instituições governamentais.  

À medida que os meios de comunicação evoluem e se tornam mais acessíveis e velozes, as mudanças de contexto são mais frequentes. A globalização implica crescente interdependência tecnológica e econômica entre países de diferentes culturas. Novas tecnologias, exigências de mercado e cobranças ambientais surgem e se sucedem com frequência. Por isso, o executivo moderno tem de acompanhar com eficácia tudo o que ocorre na sua área de atuação, em nível nacional e internacional.

Isso implica a necessidade de o profissional do Setor de Base Florestal dominar bem outros idiomas, como o inglês e o espanhol, e de ser competente no uso da informática. Paradoxalmente, essas facilidades implicam grande quantidade de informação, e, consequentemente, o profissional moderno deve ser capaz de geri-la eficazmente, separando prontamente o útil do inútil.

Como a quantidade de tecnologias e especializações profissionais é enorme, é essencial outra qualidade: trabalhar em equipe e saber delegar aquilo que pode e deve ser delegado. Outro predicado necessário ao empreendedor moderno é competência para compreender não só “o como executar”, mas também “o porquê”, “o para quê” e “o para quem” são realizadas suas atividades.

Deve, ainda, possuir uma visão sistêmica, que lhe possibilite entender o todo com base numa análise global das partes e da interação entre elas. Precisa também possuir compreensão estratégica, isto é, ter a percepção do futuro desejado, em um dado período de tempo, e ser capaz de alcançar as metas desejadas por meio de ações dirigidas.

Como solicita o editor chefe da Revista Opiniões, ilustro minha participação na construção do legado representado pelo Sistema Florestal do País. Quando professor na Esalq, fui convidado pela Embrapa a dirigir o Programa Nacional de Pesquisa Florestal - PNPF. Esse desafio resultou em parcerias com 28 entidades de pesquisa e 69 empresas privadas e uma rede de 597 experimentos em 22 estados, grande parte deles sem pesquisa florestal, naquela época.

Foi também criado o Centro Nacional de Pesquisa de Florestas, atualmente, Embrapa Florestas. Dentre as atividades desenvolvidas na Embrapa/PNF, destaco o projeto cooperativo com empresas e instituições de pesquisa para a coleta de sementes de eucalipto na Austrália durante um ano. Vinte e duas empresas privadas do setor florestal e 6 instituições governamentais participaram do projeto.

Foram instalados testes e populações-base em 59 diferentes locais do País. Muitos clones em uso no Brasil descendem desse material. Como pesquisador da Embrapa, também liderei o processo que permite, sob a administração do Mapa/SNPC, proteger internacionalmente valiosos clones de eucalipto obtidos por melhoramento genético, contra uso não autorizado.

Permito-me registrar meu trabalho de coordenação geral de três congressos florestais brasileiros: Olinda (1986), Curitiba (1993) e São Paulo (2004), e a responsabilidade pela área técnica/científica no congresso de Manaus, em 1978. Para concluir, resta desejar sucesso aos atuais e futuros empreendedores do Sistema Florestal Brasileiro. Eles, com certeza, farão mais e melhor que a minha geração.