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José Leonardo de Moraes Gonçalves

Professor de Implantação Florestal da Esalq

Op-CP-14

Diretrizes e ações em prol de uma silvicultura sustentável

Um dos marcos do desenvolvimento do século XX, claramente expresso na Agenda 21, foi o reconhecimento da importância da biodiversidade e do valor da qualidade ambiental como componentes da qualidade de vida humana. Uma vez reconhecido que o modelo de silvicultura pode comprometer esses valores e colocar em risco a própria conservação dos recursos naturais, torna-se necessária a adoção de novos paradigmas, que levem em conta parâmetros ecológicos, em busca da garantia de continuidade e sustentabilidade da atividade silvicultural no futuro e para as próximas gerações.

Essa concepção tem como princípio básico que a colheita não pode exceder à capacidade produtiva do sítio, sendo a floresta considerada como uma unidade individual de manejo. A silvicultura provoca modificações na estrutura e na organização do ecossistema, que podem levar à ruptura, desvios e alterações dos ciclos hidrológicos, de nutrientes e das interações entre os organismos, que lhe eram característicos.

Três grupos de fatores são essenciais à estabilidade do potencial produtivo da floresta e das funções básicas do ecossistema em uma bacia hidrográfica, em longo prazo:

a. manutenção da regularidade dos processos hídricos - infiltração, regime de vazão e qualidade da água;
b. manutenção do estoque de nutrientes, por meio da ciclagem de nutrientes e do equilíbrio entre entradas e saídas de nutrientes, e
c. manutenção das interações interespecíficas entre os organismos - flora e fauna, macro e microorganismos, por meio da biodiversidade, que cumprem funções, tais como, dispersão de sementes, polinização, predação, competição, mutualismo, simbiose e herbivoria.

O solo e a água constituem os mais importantes recursos biofísicos para o manejo sustentável das plantações florestais. A manutenção de sua qualidade ao longo das sucessivas rotações é um componente chave da sustentabilidade. Um aspecto importante da dinâmica de nutrientes em microbacias é a quantificação dos impactos da produção florestal sobre a ciclagem geoquímica de nutrientes, levando em conta o capital de nutrientes do solo, as entradas naturais e artificiais e as saídas naturais e as resultantes da exportação, via colheita.

O balanço entre essas entradas e saídas constitui um dos indicadores mais importantes da sustentabilidade. Geralmente, a colheita de produtos florestais representa a principal saída de nutriente do ecossistema, mas é uma atividade inevitável e a razão da própria silvicultura. Nas plantações florestais são toleráveis determinados desbalanços nutricionais temporários, mas, ao longo do ciclo silvicultural, deve ser mantido um equilíbrio dinâmico entre as entradas e as saídas de nutrientes do sítio.

O conjunto de diretrizes e ações em prol da silvicultura sustentável deve ter como objetivos fundamentais:

a. instaurar um processo de progressiva restauração da biodiversidade;
b. melhorar as condições de desenvolvimento vegetal, e
c. reduzir a exposição do solo às intempéries climáticas.

Assim, as condições estruturais e funcionais da bacia hidrográfica são mais eficazes, contribuindo para a preservação e restauração de processos ecológicos essenciais à estabilidade do potencial produtivo da floresta e das funções básicas do ecossistema na bacia hidrográfica, em longo prazo. As principais práticas conservacionistas, que predispõem à produção sustentável, são:

1. o planejamento adequado do uso da terra, por meio da concepção de ações sistêmicas na bacia hidrográfica;
2. a locação adequada da rede viária, respeitando a fisiografia do terreno e a rede de drenagem da bacia hidrográfica;
3. a conservação ou o aumento da diversidade biológica dentro da bacia hidrográfica, por meio da conservação ou da restauração florestal das APPs e RLs, com espécies nativas;
4. o uso de materiais genéticos adaptados às condições climáticas e edáficas do sítio;
5. o cultivo mínimo, ou seja, o preparo de solo restrito às linhas ou covas de plantio, mantendo os resíduos culturais sobre o terreno;
6. a adequação do espaçamento de plantio, que equilibra a competição entre plantas por fatores de crescimento e determina o ritmo e a regularidade de recobrimento vegetal do terreno;
7. a manutenção e a restauração sistemática da fertilidade do solo, por meio da reposição de nutrientes, via adubação mineral e/ou orgânica;
8. o uso de sistemas de colheita florestal de impacto restrito sobre o solo, que prevejam a redução da exportação de nutrientes e o manejo adequado de equipamentos florestais, e
9. o manejo integrado de pragas e doenças, com objetivo de racionalizar o uso de agrotóxicos e, conseqüentemente, reduzir o risco de contaminação.

É fundamental que as diretrizes e as ações técnico-científicas de manejo florestal presumam garantias contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Ou seja, devem aplicar o Princípio da Precaução, segundo o qual a ausência da certeza científica formal e/ou a existência de um risco de dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever esse dano. É melhor prevenir do que remediar. É dentro desse escopo que se apresenta o estabelecimento de uma política ambiental preventiva para a silvicultura, baseada em diretrizes e ações conservacionistas, que prevejam a produção sustentável de produtos florestais e de serviços ambientais.