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Beatriz Vera Pozzi Redko

Consultora Especialista em Celulose e Papel

Op-CP-02

Desenvolvimento com um olhar crítico no mercado global

O negócio da indústria de celulose e papel é plantação de árvores, criação de empregos, diminuição do efeito estufa e preservação do meio ambiente. Sua imagem está distorcida no Brasil, resultando em pouco suporte público para o setor. A indústria de celulose e papel deve mostrar sua realidade. Árvores em crescimento precisam absorver gás carbônico para poder crescer.

Em troca, liberam oxigênio. O efeito estufa é diminuído. Fábricas de celulose e papel são consideradas poluidoras, por definição. O odor que as fábricas exalam contribui para a poluição, mas é menos perigoso do que se pensa. Fábricas de álcool têm odor também. Monoculturas florestais sofrem restrições de todo o tipo: criam poucos empregos, mesmo em grandes áreas, pois a árvore cresce sozinha e a mão de obra só é necessária no plantio e na colheita; a flora e a fauna local são prejudicadas; e o solo pode tornar-se seco.

O público precisa saber que as grandes florestas homogêneas mudaram no Brasil: são agora núcleos cercados de vegetação nativa. Bem manejadas, preservam o solo. Todas as empresas usam árvores plantadas por pequenos proprietários florestais. Todas plantam muito mais árvores do que derrubam. Atitudes equivocadas limitam a aceitação ao crescimento desta indústria.

Para modificar esta atitude, mais informação deve ser fornecida, especialmente para a população mais jovem, antes que os seus conceitos cristalizem-se. O fascínio brasileiro para ser vencedor, no futebol, na agricultura, na pecuária pode ser aproveitado, buscando mais espaço na mídia para propaganda positiva da indústria de celulose e papel, um empreendimento vencedor no Brasil.

Jornais e programas mais populares da TV raramente citam os benefícios sociais e ambientais que a indústria de celulose e papel proporciona. Plantar árvores para produzir celulose deve ser considerado como atividade agrícola de representativo benefício rural. Grandes pastagens e plantações homogêneas de cana de açúcar, de algodão, de milho, de café, de laranjas ou de soja encontram todo o apoio. Os brasileiros precisam apaixonar-se por celulose e papel.

O Brasil apresenta problemas peculiares, que diminuem a sua competitividade e sua capacidade de atrair mais recursos para a indústria: falta de investimento em educação, infra-estrutura, saúde e segurança; alta carga tributária; juros elevados; moeda supervalorizada. Sem citar a nebulosidade política e econômica dos dias atuais. Ainda assim o Brasil é considerado o melhor país emergente para investimentos.

Será uma questão de insistência do setor com o governo, objetivando minimizar os entraves logísticos e burocráticos para continuar o crescimento. O setor tem atuado ativamente neste sentido, mas falta muito trabalho visando a melhoria da própria imagem. O governo pode ajudar adequando a infra-estrutura, desonerando os investimentos estrangeiros e apoiando os projetos silvo-agro-pastoris com empréstimos, junto ao Banco Mundial. O Brasil tem pagado as suas dívidas.

Um crédito para o desenvolvimento de sua população é necessário, importante e merecido. Fazendas com silvicultura conjugada, como as discutidas no projeto Floram, são mais compatíveis com os anseios da população e atrativas para investimentos estrangeiros. A conjugação desses projetos com a regeneração da Mata Atlântica é particularmente interessante como benefício agregado. Mais pessoas estarão empregadas.

Nas regiões onde já existe uma fábrica montada, pode-se contar com a logística para transporte e a tecnologia para a produção de mudas. O suprimento de parte das necessidades da fábrica, por meio de árvores produzidas nos assentamentos silvo-agrícolas-pastoris próximos, terá custo similar ao de uma plantação homogênea e ainda melhorará muito a imagem do empreendimento frente as populações locais, as agências certificadoras e os clientes.

Uma melhor educação de base é necessária. Um agricultor com informação é mais eficiente e poderá ter resultados melhores. Indispensável será um investimento pesado em tecnologia e gerenciamento rural. Grandes plantações, já instaladas em várias partes do mundo, competem para o investimento disponível. A China, Índia, Rússia, Japão e Indonésia têm muito mais florestas plantadas que o Brasil. A Tailândia, o Chile, a Austrália e a Nova Zelândia possuem plantações de crescimento rápido, comparáveis em área com as do Brasil. No Uruguai estão sendo instaladas duas fábricas de celulose neste ano.

A Argentina pretende aumentar sua produção. O crescimento mundial projetado para o setor, quatro por cento ao ano até 2.020, é limitado. Se forem feitos investimentos importantes em outras partes do mundo em desenvolvimento, haverá uma sobre-capacidade de produção e diminuição de preços. O Brasil deve desenvolver a sua indústria de celulose e papel com um olhar crítico para o mercado global. A China está investindo fortemente em plantações e em equipamentos novos e frustrará expectativas.

Os preços baixarão. É mais interessante para o Brasil diminuir as próprias desigualdades, implantar mais máquinas para papel aqui e colocar mais pessoas na própria cadeia produtiva. Focar o próprio desenvolvimento. O brasileiro tem vocação consumista, veja, por exemplo, os lucros dos bancos. Mais oportunidades de ganho na cadeia produtiva de celulose e papel alavancarão o progresso de muitas regiões e a demanda interna. A igualdade de todos estará mais próxima.