Antes de entrarmos nos desafios do amanhã, vamos realizar uma breve retrospectiva do setor florestal brasileiro para fundamentar nossa visão, destacando três pontos. O primeiro ponto se refere ao horizonte de planejamento e à margem de manobra. Gosto de dizer que o setor florestal é como um transatlântico que, para mudar de rota, precisa decidir 20 km antes do ponto de mudança.
Outra comparação: enquanto um agricultor consegue mudar sua estratégia de produção poucas semanas antes do plantio, dispondo de informações qualificadas online de mercado e do clima, o silvicultor, por outro lado, precisa consultar o oráculo de Delfos para tentar adivinhar o que irá acontecer nos próximos sete a 20 anos, dependendo se é Eucalyptus ou Pinus.
O segundo ponto se refere a “herdabilidade”. Ainda hoje, estamos colhendo os impactos, positivos e negativos, da política de incentivos fiscais dos anos 1970, tanto em relação ao mercado quanto ao modelo mental de planejamento e gestão. Volto a este assunto em momento oportuno, porque ele, com certeza, nos traz lições preciosas para o futuro do setor.
O terceiro ponto a destacar é que até alguns anos atrás, a silvicultura tinha uma gestão controlada de seus vetores de produção (genética, manejo florestal e sítio). Hoje, as mudanças climáticas são um desafio para a genética e o manejo. Em outras palavras, prevíamos a produção olhando pelo “retrovisor climático”. Hoje, precisamos plantar mais do que a meta para fazer frente às significativas incertezas.
Considerando essa breve retrospectiva e as características da nova economia que está emergindo das mudanças climáticas, vejo a expansão da silvicultura no mundo como prioridade e o Brasil com um potencial enorme de liderar esta expansão. Para isso, vamos precisar de visão e gestão estratégica, já que a silvicultura é intensiva em tempo. Resultados efetivos somente virão após uma ou duas décadas, isso se formos rápidos. Contudo, os impactos positivos se estenderão ad infinitum.
Atualmente, com somente 10 milhões de hectares de plantios florestais, já somos o 2º produtor de Celulose, o 1º exportador de celulose de Eucalyptus, o 9º de papel, o 10º de serrados e o 8º de compensados. Para o mercado americano, somos o principal fornecedor de molduras e compensados. Com a expansão da silvicultura, poderíamos dobrar nossas exportações e ser um dos líderes globais das novas “indústrias” de carbono, serviços ambientais, bioquímicos e seus derivados.
Nos parágrafos acima acredito que deixamos claro a importância de expandirmos nossa base florestal. A seguir, vamos tentar responder à seguinte questão-raiz: Qual é a estratégia silvicultural a ser adotada para dobrarmos o tamanho de nossa indústria e impulsionar a Indústria 5.0?
Para viabilizar a base florestal necessária para dobrarmos nossa produção, vamos assumir, a título de exercício, uma meta de plantarmos 10 milhões de hectares em 16 anos (~ 625 mil ha/anos), sendo 20% com Pinus tropicais e 80% com Eucalyptus. Essa área, se bem manejada, viabilizaria um suprimento adicional de 340 a 400 milhões de m³/ano de toras pulplog e sawlog, sem mencionar os serviços ambientais.
Onde plantaríamos? Segundo a Embrapa, temos hoje 28 milhões de hectares de pastagem degradados. Plantando 10 milhões de hectares, estaríamos ajudando a recuperar 36% desta área. A produtividade desta nova fronteira vai ser menor? Sim, mas isso já está computado na meta de 370 milhões de m³/ano de madeira.
Quem financiaria essa expansão? Os principais agentes seriam os fundos de investimento, as indústrias florestais, a agroindústria, o “natural capital” e o Bndes. Orquestrar essa rede de financiamento é possível? Sem dúvida. Ciência de foguete? Longe disso. Haveria dinheiro suficiente? Sim. Nossa experiência com os fundos florestais e, mais recentemente, com os de capital natural mostra que há dinheiro, e ele está procurando oportunidades de bons investimentos.
Como mostrar que investir em silvicultura é um bom negócio? Evidenciando a cadeia integrada de valor resultante da silvicultura (madeira/serviços ambientais-indústria-mercado) e os mecanismos e incentivos financeiros a sustentá-la. Vale lembrar que estamos em um contexto global de demanda por madeira sendo contingenciada por oferta sustentável. E que os serviços ambientais estão entrando na cadeia de valor da economia.
Ainda em relação aos mecanismos financeiros e incentivos fiscais de longo prazo, o governo deve entender que eles são fundamentais para a expansão da silvicultura, que exigem sua ação indutora e que a resultante dos mesmos é fundamental para a implementação da indústria 5.0. Vide o sucesso da política florestal brasileira decorrentes dos PNDs brasileiros, que viabilizaram as indústrias de celulose e do aço nas décadas de 1960 e 1970. Vide também, mais recentemente, o sucesso da estratégia florestal do Uruguai, inspirada no caso de sucesso brasileiro.
Por último, é preciso falar sobre como criar “momento e movimento” para o processo de expansão silvicultural. O primeiro passo seria o setor florestal demonstrar para todas as partes interessadas o grau de urgência de um programa de expansão florestal para o Brasil do amanhã, evidenciando as contribuições econômicas, sociais e ambientais resultantes. Criado o senso de urgência, o segundo passo seria conseguir a adesão do governo brasileiro com agente indutor e gestor estratégico do processo. Tendo como baseline uma visão E2SG efetiva e um comprometimento ativo do setor florestal, estou certo de que a expansão silvicultural seria um sucesso.