Essencial para nossas vidas, mas muitas vezes incompreendida, a contabilidade de custos é muito antiga e surgiu da necessidade de controle de bens e de recursos de reis, de igrejas e das primeiras empresas, principalmente os mercadores, a partir do século XV. Eles precisavam saber quanto tinham de estoque, de caixa, valores a pagar e a receber, além de quais eram os clientes e produtos mais rentáveis. Continuou evoluindo na Revolução Industrial, aliando a gestão de custos a processos cada vez mais produtivos.
Num mundo cada vez mais competitivo, esses conceitos são mais atuais do que nunca. Principalmente durante crises longas e duras, como a que ainda estamos passando, somente empresas com custos bem controlados conseguem manter bons níveis de caixa. Se o mercado está reprimido, é na gestão de custos que conseguimos recursos para superar a crise.
Porém, a gestão de custos nunca pode andar sozinha, precisa ser inteligente e sustentável, incluindo em suas análises o aumento de produtividade, controle de qualidade, preocupação social e ambiental, além de segurança no trabalho. Reduções de custos realizadas de forma isolada quase sempre trarão problemas futuros, normalmente bem mais significativos do que a economia realizada.
A área florestal envolve sempre números gigantescos. São vários milhões de reais investidos anualmente no plantio e na manutenção de suas florestas, sendo que esses investimentos só dão retorno financeiro após a colheita, aos seis ou sete anos de idade.
Esse capital precisa ter rentabilidade ao longo dos anos, e isso se dá através da formação de florestas com qualidade e produtividade, ao menor custo possível. Por exemplo, uma redução na adubação provocará menor crescimento da floresta, gerando falta de madeira e prejuízo no futuro, enquanto uma adubação além da necessária vai gerar uma floresta cara, que não terá a rentabilidade esperada.
Assim, é de extrema importância que a gestão de custos silviculturais tenha foco no longo prazo, trabalhando junto com a equipe de desenvolvimento, qualidade, planejamento e inventário, monitorando o crescimento das florestas e fazendo as intervenções necessárias para garantir o suprimento de madeira e a rentabilidade esperada.
A colheita e o transporte de madeira também envolvem custos muito elevados, mas com uma gestão de decisões em um tempo muito mais curto, olhando principalmente para os resultados dos próximos meses. Falhas nessas etapas aparecem rapidamente, podendo ter impactos significativos no curto prazo.
Nesses casos, é importante possuir informações ágeis para corrigir o rumo rapidamente. Mas, então, como realizar a gestão de custos inteligente, gerindo milhões de reais a curto, médio e longo prazo? Considero três fatores essenciais para o sucesso: cultura, informação e método.
Vamos falar primeiro de cultura. Uma empresa só consegue ser eficiente em gestão de custos quando esse conceito faz parte de sua cultura, estando incorporado ao dia a dia da equipe em todos os níveis, do campo à presidência.
Só funciona quando o colaborador fica inconformado com o desperdício, com o subdesempenho, quando ele não aceita ver uma floresta no mato ou com baixo desenvolvimento. Tem que haver o sentimento de dono. Tem que cuidar da máquina de colheita ou do trator com o mesmo carinho com que cuida de seu carro particular. Para isso, é importante a formação de equipes motivadas e bem informadas, além de projetos estruturados de cultura.
Apesar da área florestal da Duratex ter, historicamente, grande foco em custos, o projeto de cultura desenvolvido pela empresa nos últimos anos tem agregado valores importantes, aumentando o sentimento de pertencimento e a atitude de dono, além do alinhamento de discurso e de ações.
Além de custos e de resultados, também é essencial a cultura de segurança e a preocupação ambiental e social. Esses pontos sempre foram de grande relevância na Duratex, mas, muitas vezes, tratados isoladamente. Com o Projeto Cultura e o Duraseg, as ações passaram a ser mais sincronizadas.
Hoje, é inconcebível alguém pensar em redução de custos sem considerar, ao mesmo tempo e com o mesmo peso, se há algum impacto ambiental, social ou em segurança. Essa visão ampla facilita a gestão inteligente de custos, tornando-se sustentável e podendo ser incorporada à rotina da empresa, deixando de ser uma ação pontual que, eventualmente, precisaria de correção para mitigar outros impactos.
Ainda dentro da cultura, é importante a visão de longo prazo e a integração entre equipes. Um exemplo é o trabalho conjunto do desenvolvimento e áreas operacionais na busca de novas tecnologias para redução de custos. Através de novos sistemas de operação e uso de máquinas de maior porte, conseguimos uma redução no custo de colheita da ordem de 43% entre 2001 e 2017, descontada a inflação do período.
O segundo ponto importante para uma gestão eficiente das operações florestais é a geração de informações com agilidade e confiabilidade. Nesse aspecto, é importante o uso de tecnologia, com grande participação da TI, desenvolvimento e da própria controladoria.
Por possuir operações dispersas, em áreas extensas e com baixa cobertura de dados móveis, a área florestal sempre teve dificuldade na obtenção de informações de campo com velocidade e precisão. Para mitigar esse problema, implantamos o apontamento digital de campo para operações mecanizadas, usando smartphones e tablets, com aplicativo desenvolvido internamente, que permite diversas validações na entrada de dados, garantindo a qualidade das informações de colheita e de silvicultura. A comunicação automática entre aparelhos foi a solução encontrada para trazer os dados de forma rápida para o escritório, mesmo em áreas sem cobertura 3G.
Com a grande extensão territorial de empresas florestais, todos os recursos que facilitem análises devem ser utilizados, como SIG (Sistema de Informações Geográficas), otimizadores para planejamento e drones, para acompanhamento de qualidade da floresta. O conjunto desses recursos é o que permite a rápida tomada de decisão, buscando correções de rumo para superação de resultados.
Por fim, mas não menos importante, é a utilização de método para gestão de custos. Como já citei, a área florestal da Duratex sempre teve cultura de controle de custos, mas conseguiu melhorar muito através dos projetos da empresa. Sempre teve boas informações, mas continua em evolução constante.
O mesmo vale para o método. Sempre tivemos uma gestão de custos considerada referência na empresa, mas, após a implantação do SGD – Sistema de Gestão Duratex, percebemos que muitas ações tomadas eram isoladas e podiam ser melhoradas, com o acompanhamento adequado e com a certeza de estarmos atuando na causa raiz e não somente em problemas intermediários.
Através da metodologia do SGD, que utiliza o ciclo PDCA, com o levantamento estruturado de desvios e oportunidades, a identificação da causa raiz por quem está no dia a dia da operação, a validação e o acompanhamento dos planos de ação, além da divulgação das melhores práticas, conseguimos buscar economias onde parecia não haver mais oportunidades.
Ao longo de 2017, somente um dos projetos dentro do SGD trouxe R$ 76 milhões de reduções de custos para a companhia, sendo R$ 11,5 milhões só na área florestal. Esse projeto teve o envolvimento de toda a empresa, com o mesmo modelo de análise em todas as áreas, do plantio de florestas à fabricação de chuveiros na Deca.
A gestão de custos eficiente e sustentável só é possível através de equipes motivadas e que têm o controle de custos em seu DNA, utilizando ferramentas modernas e precisas e com metodologia eficiente de análise e acompanhamento, falando o mesmo idioma e caminhando na mesma direção.
A controladoria é um facilitador dentro dessa complexa engrenagem que, se bem azeitada e trabalhando no mesmo compasso, gera economias para a empresa. A gestão de custos tem que estar naturalmente presente em cada colaborador, só assim terá sucesso na travessia das maiores tormentas e trará resultados superiores em tempos de bonança.