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Roosevelt de Paula Almado

CEO da Ferrinho Consultoria em Inovabilidade

OpCP76

A busca por um equilíbrio dinâmico
A qualidade da matéria-prima fornecida para atender aos padrões industriais, assim como a perfeita sincronização entre a produção florestal e as necessidades industriais, garantindo um fluxo contínuo e adequado da mesma, é, no meu ponto de vista, o que mais representa a verdadeira integração da floresta com a indústria.
 
Com certeza, a eficiência no transporte da matéria-prima, minimizando custos e impactos ambientais, e a utilização de tecnologias avançadas para otimizar o processamento da madeira, aumentando a produtividade e a qualidade dos produtos, e, por fim, porém não menos importante, a implementação de práticas sustentáveis, o uso de energias renováveis e a consequente redução dos gases de feito estufa fecham o sucesso da integração.

O trinômio produtividade, qualidade e custo é indissolúvel e faz parte do sucesso desta busca pela perfeita integração entre a floresta e a indústria. O desafio da produtividade não está focado apenas no setor florestal, mas em todos os setores da economia mundial, e isto necessariamente inclui: operar com excelência, adaptando a cultura e as práticas de gestão para direcionar os recursos para as iniciativas de maior valor; otimizar a alavancagem de capital, equilibrando os custos, ativos físicos e tecnologia para multiplicar o impacto da produção na linha da frente; e acelerar o crescimento, aumentando as receitas, melhorando as vantagens das ofertas atuais e proporcionando experiências novas e inovadoras aos clientes. Uma fala de um empresário resume de forma prática o desafio da produtividade: “Produtividade nunca é um acidente, é sempre o resultado de comprometimento com a excelência, planejamento inteligente e esforço focado”.
 
Nosso “operar com excelência” é promover a adequada proteção, preparo de solo, fertilização e plantio do material genético apto para que haja alta sobrevivência, rápido crescimento inicial com uniformidade para garantir elevada produtividade final dos nossos cultivos florestais.
 
Em específico no nosso setor, são muitos os fatores e interações que permeiam e influenciam a produtividade florestal, e em muitos dos quais não temos como interferir. Portanto, cabe ao silvicultor, independentemente do seu tamanho, atuar nos fatores em que tem possibilidade – esses fatores são os que chamamos de redutores da produtividade, por exemplo: plantas daninhas, fogo, pragas e doenças. 
 
Hoje temos ferramentas tecnológicas trazidas pela inovação que, aliadas à existência de um banco de dados, podem nos auxiliar com segurança no planejamento competente e na tomada de decisões que impactarão diretamente na produtividade e, consequentemente, nos custos. O trabalho de alocação clonal, baseado no Big Data e na Inteligência Artificial, que analisa grandes volumes de dados para extrair informações valiosas e tomar decisões informadas que algumas empresas já vêm desenvolvendo, representa bem o que estou falando. No momento do planejamento, apenas combinar o material genético com o tipo de textura do solo e o risco de déficit hídrico pode assegurar um aumento em até 20% de produtividade.

Neste desafio chamado alcance e, principalmente, manutenção da produtividade, temos a qualidade como a principal metodologia para seu sucesso. Apesar dos avanços silviculturais realizados nos últimos tempos, ainda é possível aumentar a produtividade por meio do monitoramento, detecção e correção precoce de desvios na qualidade silvicultural. 

E quanto aos custos, de forma geral, podemos afirmar que mais de 80% dos custos operacionais da reforma florestal estão restritos a quatro operações: controle de matocompetição,  preparo de solo, plantio e adubação. Portanto, precisamos investir na verificação da qualidade de execução das operações florestais de forma a se tomar as medidas corretivas imediatas e, assim, aumentar a probabilidade do alcance da produtividade florestal prevista.

Em 2023, o Professor Júlio Cesar Neves, do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, fez uma pesquisa com empresas, profissionais do setor e consultores para identificar quais eram os principais gargalos da produção florestal. Em segundo lugar, com 77%, ficou a qualidade e o “timing” das operações florestais, portanto, imaginem quanto espaço temos para melhorar?

A qualidade é uma metodologia de gestão operacional que visa a garantia da produtividade dos cultivos florestais, através do aperfeiçoamento das práticas silviculturais, da avaliação do cumprimento das normas técnicas recomendadas para as operações silviculturais, da prevenção de erros e distorções, da geração de informações que subsidiem a tomada de decisão, da transparência na apresentação dos resultados, da redução de custo e do processo de melhoria contínua.

Os ganhos do controle de qualidade das operações florestais contemplam ganhos financeiros e não financeiros, tais como a redução do desperdício de produtos (insumos em geral), a diminuição de perdas em até 25% (New York Times e The Wall Street Journal) e o Controle Estatístico de Processo (CEP), quando se age no momento de detecção desvios.



Porém, o que de certa forma observamos hoje, de maneira geral, é a impossibilidade de se verificar a qualidade de execução das operações florestais de forma a se tomar as medidas corretivas imediatas e, assim, aumentar a probabilidade do alcance da produtividade florestal prevista, ou pela pressão pelo plantio de extensas áreas em curto espaço de tempo, ou pela falta de metodologia competente e acompanhamento ou até mesmo pela falta de mão de obra destinada para tal.

A integração eficaz de produtividade, qualidade e custos faz parte da busca da perfeita interface entre a floresta e a indústria, sendo essencial para a competitividade e sustentabilidade a longo prazo das empresas florestais e um desafio estratégico que exige uma abordagem holística e coordenada.

Floresta e Indústria precisam ter sincronia, e a inovação tem de ser o elemento aglutinador desse movimento. Nesse contexto, a Transformação Digital não pode estar de fora, até porque é um processo abrangente e que deve estar presente em todas as etapas da produção. 

Isso envolve o mapeamento das operações, soluções de comunicação, processamento e análise automatizada dos dados, finalizando com ganhos reais na rentabilidade através da gestão, da implantação da melhoria contínua e redução de custos nos processos das empresas. Ao compreender e gerir as inter-relações entre produtividade, qualidade e custos, as empresas podem não só melhorar sua eficiência operacional, mas também garantir a satisfação do cliente e a viabilidade econômica. A busca por um equilíbrio dinâmico entre esses três elementos requer uma abordagem estratégica e contínua, na qual investimentos em tecnologia, inovação e formação são essenciais. 

A perfeita interface entre a floresta e a indústria requer uma abordagem integrada que combina tecnologia, práticas de melhoria contínua, foco na qualidade, gestão eficaz de custos, capacitação dos funcionários e monitoramento contínuo. Ao adotar essas estratégias, as empresas podem criar uma sinergia positiva entre esses elementos críticos, resultando em operações mais eficientes, produtos de alta qualidade e uma posição financeira robusta. A chave para o sucesso está na implementação coordenada dessas práticas e na adaptação contínua às mudanças do mercado e às novas tecnologias.