Professor de Agrometeorologia da Esalq-USP
Op-CP-50
Coautores:
Elvis Felipe Elli e Cleverson Henrique Freitas,
respectivamente Doutorando e Mestrando do PPG em Engenharia de Sistemas Agrícolas da Esalq-USP
O Eucalyptus é o gênero mais cultivado em reflorestamento no Brasil, representando 73% do total da área de florestas plantadas no País (5,7 milhões de ha). A produtividade média dos plantios de Eucalyptus no Brasil é da ordem de 36 m3 ha-1 ano-1. Essa produtividade é influenciada basicamente pelos efeitos do clima, das características químicas/físicas do solo e do manejo florestal nos processos fisiológicos do genótipo empregado.
Como o Brasil apresenta uma grande variabilidade temporal e espacial das condições climáticas, é muito importante ter conhecimento de quais são os fatores que estão condicionando/limitando o crescimento das florestas, possibilitando, assim, a adoção de medidas que maximizem a produtividade.
A análise de quebra de produtividade (conhecida como Yield Gap) vem sendo amplamente aplicada para identificar a magnitude e as principais causas das perdas de produtividade de diversas culturas. Com base nessas informações, é possível estabelecer estratégias para mitigar tais perdas, sejam elas oriundas do déficit hídrico (DH) ou do manejo subótimo.
Para a determinação do yield gap florestal é necessário, primeiramente, conhecer os diferentes tipos e níveis de produtividade, bem como os seus fatores condicionantes (Figura 1). A produtividade potencial (PP) é a obtida por uma dada cultura sem que haja qualquer limitação de ordem hídrica, nutricional ou fitossanitária. Assim, a PP varia em função das variáveis ambientais (radiação solar, temperatura, fotoperíodo e CO2) e de suas interações com as características da cultura (genótipo e a sua população), denominados de fatores determinantes.
Portanto, a PP é um valor teórico, podendo ser determinada em experimentos ou por meio de modelos de simulação devidamente calibrados. A Produtividade Atingível (PA), por sua vez, é influenciada não só pelos fatores determinantes, mas também pelo DH (fator limitante), o qual normalmente se estabelece nas regiões nas quais há variação interanual, intersazonal e intrasazonal das chuvas.
O DH é uma variável oriunda do balanço hídrico da cultura, envolvendo, além da chuva, as características do solo, que juntamente com a profundidade das raízes, define a capacidade de água disponível (CAD), evapotranspiração da cultura e a sensibilidade desta ao DH. Além disso, a PA é influenciada pelo déficit nutricional, uma vez que haja DH, consequentemente haverá redução da absorção de nutrientes.
Esse nível de produtividade, assim como a PP, é teórico, já que admite ausência da ação de fatores limitantes associados ao manejo da cultura (Figura 1). A PA pode ser obtida em experimentos de campo ou por meio de modelos de simulação, sendo que PA ≤ PP.
A produtividade real (PR), por sua vez, é aquela que considera, além dos fatores determinantes e limitantes, os fatores redutores decorrentes do manejo deficiente, como o ataque de pragas, plantas daninhas, doenças, muito comuns em cultivos florestais. Finalmente, a produtividade final (PF) é aquela que efetivamente será contabilizada, levando em conta também aspectos relativos às perdas decorrentes dos processos de colheita e transporte.
A diferença entre os tipos de produtividade agrícola define as quebras, assim como suas principais causas. A quebra de produtividade devido ao DH (YGDH) é determinada pela diferença entre PP e PA. A quebra de produtividade devido ao manejo (YGM) é calculada pela diferença entre PA e PR, enquanto a quebra, devido às perdas na colheita e transporte (YGCT), é dada pela diferença entre PR e PF. A soma dessas quebras define a quebra total (YGT). Para o setor florestal, no qual as perdas por problemas de colheita e transporte são mínimas, adota-se apenas YGDH e YGM, como é apresentada no exemplo em destaque.
A título de exemplo, foram realizadas simulações de PP e PA com um modelo de simulação do eucalipto devidamente calibrado, para diferentes localidades do Brasil (Telêmaco Borba-PR, Três Lagoas-MS, Coração de Jesus-MG, Niquelândia-GO e Monte Dourado-PA).
Os resultados de PP e PA foram então comparados com os valores de PR de cada localidade, obtidos por meio da média de diferentes clones de eucalipto em plantações experimentais do projeto TECHS do IPEF. A idade das plantações de eucalipto utilizadas variou de 48 a 58 meses. Os gráficos apresentam as produtividades do eucalipto de cada região com os respectivos YGs. A PP variou de 328 a 432 m3 ha-1, enquanto a PA variou de 115 a 295 m3 ha-1 e a PR de 27 a 273 m3 ha-1. A YGDH variou de 55 a 318 m3 ha-1, ao passo que o YGM variou de 0 a 268 m3 ha-1, o que totalizou valores de YGT de 55 a 395 m3 ha-1.
A maior PP foi observada em Coração de Jesus, entretanto, essa localidade foi a que apresentou o maior YGDH, resultando na menor PA. Em Telêmaco Borba, apesar de uma menor PP, o YGDH foi consideravelmente menor. Além disso, o YGM foi nulo, o que fez com que a PR fosse a mais alta de todas as localidades analisadas. Em Monte Dourado, o YGDH foi o segundo menor, porém o YGM foi o mais elevado, o que muito provavelmente está associado à alta intensidade da Mancha de Cylindrocladium.
Em termos relativos, os YGDH foram de 100, 85, 90, 71 e 32%, enquanto YGM foram de 0, 15, 10, 29 e 68% do valor total, respectivamente para as localidades de Telêmaco Borba, Três Lagoas, Coração de Jesus, Niquelândia e Monte Dourado.
Tomando-se essas localidades como uma amostra representativa da produção florestal do País, em termos médios gerais, observa-se que 75% das quebras de produtividade do eucalipto no Brasil são devidos ao DH, enquanto os demais 25% ocorreram devido ao déficit de manejo. No entanto, o mais importante desse tipo de análise é identificar as causas das quebras localmente, e, em função delas, estabelecer ações que possam minimizar os impactos tanto do DH como do déficit de manejo na produtividade.
Essa abordagem, inédita na área florestal, elimina a subjetividade das análises da produtividade do eucalipto, mostrando com precisão as causas das quebras. Uma vez identificadas essas causas, as empresas florestais poderão estabelecer as ações para contorná-las, aumentando assim a eficiência da produção.