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Edmilson Bitti Loureiro

Gerente de P&D-Extensão Florestal da Suzano

OpCP81

Transparência e aprendizado
Não se gerencia o que não se mede. No ambiente de produção florestal, naturalmente complexo e repleto de particularidades que impactam diretamente a produtividade, os indicadores de gestão fornecem suporte essencial para decisões assertivas e oferecem uma visão sistêmica do cenário atual.
 
Apesar do avanço do setor em produtividade, tecnologias e pesquisas aplicadas viabilizam a utilização das melhores práticas de manejo, contudo a realidade operacional ainda é um desafio. Nesse contexto, os indicadores florestais cumprem sua função primordial: indicar o status das florestas, sob a ótica de proteção, sanidade, aderência às recomendações, qualidade operacional ou produtividade. Ao possibilitarem a correlação de fatores, identificação de causas e priorização de recursos a partir de métricas bem definidas, os indicadores tornam-se ferramentas estratégicas que efetivamente “viram o jogo” e transformam positivamente a gestão e os resultados das florestas plantadas.

A realização dos monitoramentos florestais com definição de bons indicadores para gestão e tomada de decisões é uma estratégia preventiva e tende a ser mais econômica que tratar suas consequências (danos aos plantios ou desvios de processos), reduzindo riscos de perdas e diminuindo os custos operacionais. É como diz o ditado popular: “melhor prevenir do que remediar".

Estratégias de monitoramento e definição de indicadores:
Monitoramento terrestre de formigas cortadeiras: Por ser a principal praga florestal do Brasil, o monitoramento de formigas cortadeiras representa um dos casos mais consolidados de utilização dessa estratégia, sendo pioneiro no manejo integrado de pragas. 
 
Implantado há mais de 45 anos para viabilizar a aplicação do porta-isca (recipiente para proteger a isca formicida até que fosse consumida pelas formigas), o monitoramento possibilita identificar o nível de infestação, o grau herbivoria (danos observados nos plantios durante os levantamentos) e a necessidade do controle “especializado” em função do limiar de “dano econômico”, além de medir a eficiência das intervenções. Esse processo também permite validar a estratégia de manejo e identificar oportunidades de aprimoramento, sendo utilizado atualmente pela maioria das empresas florestais do País.

Mesmo em regiões com histórico de baixa ocorrência, as perdas de produtividade podem ser significativas quando o manejo é negligenciado. Em razão dos danos severos registrados no passado, permanece, em algumas empresas, a prática recorrente de se querer realizar controles anuais, refletida na célebre frase da década de 1930: “ou o Brasil acaba com a formiga ou a formiga acaba com o Brasil”. Contudo, com as análises das informações obtidas a partir do monitoramento, é possível planejar intervenções mais racionais: em alguns casos, é possível estender o intervalo para dois ou três anos; em outros, a intervenção anual pode ser insuficiente, exigindo ações adicionais. Dessa maneira, é possível otimizar recursos e tomar ações de controle mais assertivas.

Sensoriamento remoto na detecção de pragas e doenças: o avanço nas tecnologias de imagens de satélite ampliou o uso do monitoramento orbital como ferramenta estratégica. Atualmente, é utilizado em diversas aplicações práticas, como o mapeamento da saúde da floresta e a identificação de falhas no plantio, entre outros indicadores importantes, oferecendo um nível de detalhamento e cobertura espacial em tempo real que os monitoramentos convencionais, isoladamente, não conseguem proporcionar. Com isso, é possível antecipar medidas de manejo curativo, se caracterizando também como um importante indicador na gestão e proteção do nosso ativo florestal.

Inventário florestal: No cerne do monitoramento florestal, temos o inventário, que traz o status da produtividade real dos plantios, com a presença das equipes em campo de forma periódica. Também se configura como uma importante ferramenta para a avaliação qualitativa das florestas, complementar aos demais monitoramentos, sustentando a tomada de decisões estratégicas do setor. Além disso, permite ainda um diagnóstico precoce de desvios e a identificação das causas raízes que podem estar afetando o desempenho dos plantios. 
 
Sinergia nos monitoramentos florestais: Dentre as diversas alternativas de monitoramentos florestais, entendemos que a adoção de sinergias se configura ainda como a opção mais sustentável e otimizada. A integração, potencializada pela multidisciplinaridade das áreas de conhecimento, associado ao avanço em metodologias, estratégias e tecnologias, propicia a obtenção de dados mais precisos e mais acessíveis, favorecendo a tomada de decisões assertivas e eficazes. Ainda existem oportunidades, e o uso de inteligência artificial associado com sistemas de informação geográfica e robotização garantirá a sustentabilidade e resiliência do manejo florestal.
 
Gestão de indicadores: 
Gerir indicadores não se resume a acompanhar números. É necessário que todo o time compreenda seu valor estratégico, enxergando-os como instrumentos de melhoria contínua e confiança. O objetivo é alinhar esforços coletivos em prol do melhor desempenho, sem buscar culpados. 
 
Na Suzano, um exemplo de inovação é o ARS (Aderência às Recomendações Silviculturais), inspirado na ferramenta OTIF (On-Time In Full). Enquanto o OTIF mede a eficiência de entregas em setores como logística e suprimentos, o ARS adapta esse conceito à silvicultura, avaliando a execução das recomendações técnicas dentro de prazos ótimos, uso de insumos e tecnologias de aplicação adequadas.
 
A nova ferramenta aumenta a transparência, fortalece a governança e reduz a subjetividade na análise das operações. Sua implementação, contudo, demanda significativo esforço na transferência de tecnologias, treinamento contínuo das equipes e engajamento das lideranças. Tais fatores são cruciais em um setor que ainda enfrenta desafios como elevados índices de turnover e sistemas de gestão pouco integrados. Para potencializar seus efeitos, a criação de uma central de indicadores florestais, reunindo resultados de diferentes monitoramentos e promovendo análises integradas que orientam e definem prioridades operacionais, é fundamental.

Considerações finais: 
Em meus 45 anos de vivência no setor florestal, a realização dos monitoramentos sempre norteou as tomadas de decisão e direcionamento das estratégias adotadas. O esforço investido em seu desenvolvimento e acompanhamento retorna em forma de maior eficiência, otimização de recursos e, principalmente, proteção dos plantios e manutenção da produtividade esperada. Mais do que números, a gestão dos indicadores representa conhecimento aplicado, capaz de transformar desafios em oportunidades. Em síntese, não se gerencia o que não se conhece, e conhecer de forma estruturada é o primeiro passo para garantir competitividade e sustentabilidade no longo prazo.