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Acelino Couto Alfenas

Professor de Fitopatologia/Bioagro da UF-Viçosa

OP-CP-34

A saúde das plantações florestais

Há, atualmente, no Brasil, cerca de 7,2 milhões de hectares de plantações florestais. Dentre as espécies mais cultivadas, merecem destaque o eucalipto, com cerca de 72% da área plantada, o pinus, com 22%, a seringueira e a acácia, com 2% cada, o paricá e a teca, com 1% cada, e a araucária, com 0,1%. Dado ao aumento da população mundial, há uma crescente demanda de produtos de base florestal.

Portanto essa área deve aumentar anualmente no País, pois o Brasil ofecere condições excepcionais de clima, solo, água e mão de obra para a expansão das plantações florestais. Com o aumento das áreas plantadas de cada espécie, surgem, concomitantemente, as doenças, que podem trazer enormes prejuízos e limitar o cultivo de determinada espécie ou clone.

Até a década de 1970, por exemplo, a área plantada com eucalipto no Brasil era relativamente pequena e concentrada nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Até aquela época, as plantações de eucalipto eram consideradas praticamente livres de doenças.

A expansão das plantações para regiões mais quentes e úmidas, principalmente dos estados do Espírito Santo e Bahia, altamente favoráveis à incidência de doenças, o uso de materiais genéticos "mais produtivos" sem conhecimento prévio de sua resistência, a implementação de novas técnicas de manejo da cultura e os ciclos sucessivos de plantio numa mesma área têm favorecido a incidência e a severidade de doenças causadas por microrganismos patogênicos, endêmicos ou exóticos acidentalmente introduzidos no País.


Na busca por terras mais baratas e pela maior facilidade de exportação dos produtos florestais no Norte e no Nordeste do Brasil, ou à procura de clima favorável ao cultivo de determinadas espécies no Sul do País, as plantações têm-se tornado cada vez mais vulneráveis à incidência de doenças bióticas, causadas por microrganismos patogênicos (figuras 1 e 2), ou abióticas, que surgem em consequência da inadaptabilidade da cultura florestal frente à má distribuição de chuvas (falta e excesso de água - figura 3), às temperaturas excessivamente altas no Norte e Nordeste e às temperaturas excessivamente baixas (geadas e neve) no Sul do País (figura 4).

Entre essas doenças, destacam-se as bióticas, causadas por fungos e bactérias que afetam o tronco ou as folhas das árvores (figuras 1 e 2), matando-as ou reduzindo seu crescimento e, consequentmente, sua produtividade.

A heterogeneidade das plantações e as perdas pela doença, chamada de cancro na década de 1970, motivaram o desenvolvimento e a implementação da técnica de clonagem do eucalipto no Brasil e, posteriormente, adotada para pínus, teca, acácia, dentre outras espécies arbórias.

Atualmente, a maioria dos plantios de eucalipto é feita com clones híbridos, tendo em vista seu alto desempenho silvicultural, homogeneidade dos plantios e qualidade da madeira para diversos usos, principalmente celulose, carvão vegetal para siderurgia, madeira serrada e mourões tratados.

Apesar dos riscos inerentes das plantações homogêneas, a clonagem é uma ferramenta poderosa para a multiplicação comercial de genótipos superiores e resistentes a doenças. A geração contínua de novos clones interespecíficos, com diferentes backgrounds genéticos, é essencial. Para isso, é necessário incorporar, nos programas de melhoramento genético, diferentes espécies e procedências com características distintas e complementares de interesse comercial, como crescimento volumétrico, rendimento industrial, resistência a doenças e tolerância ao estresse hídrico (falta ou excesso de água) e à geada.

Assim, espécies com características importantes, como E. globulus e E. dunnii (celulose), E. smithii e E. benthamii (tolerância à geada), E. camaldulensis, E. tereticornis, E. longirostrata e E. brassiana (tolerância à seca), e E. pellita (resistência a doenças), devem ser cruzadas com E. grandis, E. urophylla e seus híbridos, de modo a ampliar a base genética e gerar híbridos com características superiores.

Além disso, espécies do gênero Corymbia, como C. torelliana, C. citriodora, C. maculata, dentre outras, podem constituir excelentes fontes de resistência a doenças e propiciar a geração de novos clones interespecíficos para a produção de madeira de alta densidade, seja para energia, serraria ou mourões e postes tratados.

Independentemente da espécie ou clone, para o controle eficaz de doenças que afetam as plantações, é essencial a realização de monitoramento constante e sistemático, desde a fase de produção de mudas em viveiro até a fase de plantas jovens e adultas no campo, incluindo testes clonais e de progênies.

Como os programas de melhoramento genético são tipicamente de médio e longo prazo, é fundamental avaliar o nível de resistência dos genitores e, com base nessas informações, determinar a base genética da resistência, a fim de direcionar os cruzamentos no início do processo de melhoramento. Atualmente, é recomendado selecionar os materiais resistentes por meio de inoculações sob condições controladas  (figura 5).

Essas inoculações requerem estrutura adequada (figura 5) e conhecimento do patossistema (planta x patógeno x ambiente), para evitar erros na seleção e na disseminação de novas raças do patógeno. Além do fornecimento de condições favoráveis à infecção, é necessário empregar protocolos adequados de inoculação e isolados mais agressivos ou raças do patógeno com virulência de amplo espectro. Concomitantemente, é crucial compreender a variabilidade nas populações do patógeno, pois novas raças de patógenos podem emergir e suplantar a resistência da planta.