Professores do Departamento de Ciências Florestais da UF-Santa Maria e UF-Viçosa, respectivamente
Naturalmente rico em biodiversidade, esse é o Brasil, com 851 milhões de hectares, que se distribui em ampla latitude (5ºN a 33ºS, respectivamente acima da linha do equador e abaixo o trópico de capricórnio) e longitude (35ºS a 74ºO), com ambientes influenciados pela maritimidade, continentalidade, grandes variações altitudinais, clima equatorial, tropical e temperado.
As características físicas aliadas aos aspectos intrínsecos de cada bioma modulam preliminarmente as aptidões naturais de ocupação do espaço, condição que, atrelando-se aos aspectos culturais e políticos, determinam o diversificado histórico de uso, conservação e/ou degradação. De acordo com MapBioma, o território nacional tem experimentado intensa degradação, possivelmente com cerca de 25% da vegetação nativa nessa situação, caracterizada como “múltiplas representações, não sendo uma definição simples, mas variável com a perspectiva”. Nesse contexto, revelam que não existe um estado definido para degradação, e assim trataremos no texto, da perspectiva florestal. Lembremos que, historicamente, tudo começou há séculos, com a exploração dos recursos naturais.
Com o tempo, conjuntamente com a tentativa de proteção, surgiram leis e regulamentações mais ou menos rígidas para o controle do desmatamento e, mais recentemente, para a conservação dos ecossistemas naturais (muitas vezes, já antropizados em determinado nível de degradação).
Enquanto isso, ao setor florestal sempre foram direcionadas grandes proporções de áreas economicamente “marginais” na perspectiva da agricultura e pecuária, e nesses ambientes os reflorestamentos ou florestamentos eram estabelecidos. Diante das dificuldades vividas, o setor aprendeu a estabelecer rotinas pautadas em análise de sítio, planejamento e operações, associadas à análise econômica do investimento.
Por isso, ainda hoje, converte áreas indesejáveis para outros cultivos em reflorestamentos rentáveis. Consequentemente, engenheiros florestais e profissionais ligados à área conseguem aliar a recuperação de áreas degradadas com o desenvolvimento ambiental, social e econômico.
Entretanto, o investimento requer retorno, e por isso a “matemática” está por trás disso, de modo que, se uma área degradada pode ser regularizada e o reflorestamento for economicamente viável, será destinada a esse fim. Por outro lado, se o nível de degradação for acima do que o investimento suporta, serão utilizadas técnicas que requeiram menor investimento, salvo quando a degradação apresente riscos eminentes e demande maior velocidade da restauração.
Por isso, o papel de equipes multidisciplinares no planejamento de cada propriedade depende de “engenharia”, de modo que estudo de técnicas potenciais e seus respectivos custos são os balizadores da decisão pelo reflorestamento. E, paralelamente, a perspectiva de mercado futuro e do custo da terra ditará até onde cada empreendimento pode ousar ocupar um ambiente degradado com plantios florestais.
A exemplo disso, o litoral norte e sul do Rio Grande do Sul, predominantemente arenoso e com formação de dunas, recentemente vem substituindo áreas com Pinus ssp. (espécie mais rústica) por clones de Eucalyptus spp.
No local, estratégias como o aproveitamento do resíduo da colheita de pinus e seu enleiramento para redução do impacto da areia trazida pelo vento, cobertura do solo e ciclagem, preparo da linha de plantio, adequação de espaçamentos, maior frequência e período de adubação de cobertura, surpreenderam, pois, no passado, essas áreas foram consideradas degradadas e inapropriadas a uma silvicultura mais exigente.
Desse modo, áreas consideradas degradadas e problemáticas, devido à formação de dunas, estão sendo recuperadas pela silvicultura. Paralelamente, acreditamos que a ampliação e o suprimento de volume de madeira para as novas fábricas podem surgir por meio da destinação de áreas de pastagens degradadas, que ocorrem em todo o Brasil, para uso no reflorestamento.
Além disso, mudanças climáticas e extremos meteorológicos têm provocado frustração na produtividade agrícola, por pequenos e médios produtores, com a perda de produção em anos consecutivos e a degradação de áreas ripárias.
Desse modo, pequenas e médias propriedades agrícolas poderiam ocupar maior notoriedade e valorização em parcerias, por empresas do setor florestal, a partir de certificações de gestões florestais em grupo.
Apesar de algumas experiências nessa linha, supõe-se que existe espaço para a ampliação dessa modalidade, pois, mesmo que apresentem determinado nível de degradação, esse é comparativamente baixo e mais facilmente revertido em reflorestamentos com elevada produtividade.
Por outro lado, a restauração em áreas degradadas ou inelegíveis ao reflorestamento (APP – Áreas de Preservação Permanente) e ARL – Áreas de Reserva Legal, entre outras) já é uma prática realizada por grandes empresas florestais, principalmente nas certificadas, que mantêm cerca de 66% das áreas protegidas.
Quando a área é degradada em nível incompatível financeiramente para fins produtivos, receberão práticas de restauração mais ou menos onerosas de acordo com a sua situação, futuramente podendo servir para fins do tão esperado crédito de carbono.
Na condição de degradação em áreas de preservação permanente, cita-se a experiência de casos do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho e do desastre ambiental de 2024 no Rio Grande do Sul, onde a restauração se torna mais onerosa, muitas vezes não podendo ser conduzida com técnicas simples. Nesses casos, são necessárias técnicas de Engenharia Natural, a partir do uso de espécies e materiais inertes adequados, prática ainda conduzida em reduzida escala no Brasil, pelo custo mais elevado.
Cabe destacar também as técnicas de nucleação e de regeneração natural assistida implantadas com sucesso, por exemplo, na restauração de APPs de hortos florestais da CMPC Celulose Riograndense, que reduziram significativamente os custos da restauração florestal, quando comparadas ao reflorestamento em área total. Assim, a simplificação, com a utilização de técnicas inadequadas, pode representar disposição, mas pouca efetividade.
No contexto da mineração, podemos citar alguns projetos desenvolvidos pelo LARF – Laboratório de Restauração Florestal da Universidade Federal de Viçosa, com a recuperação de áreas mineradas, de áreas de compensação e de áreas atingidas por rejeitos.
Na Zona da Mata mineira, os projetos de restauração florestal com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) têm viabilizado o retorno da floresta estacional semidecidual em poucos anos, tanto em áreas mineradas como em áreas de compensação. No mesmo sentido, parcerias do LARF com a Reparação Bacia Rio Doce e com a Vale têm contribuído com a recuperação de áreas atingidas por rejeitos, na região de Mariana e de Brumadinho.
Em comum estes projetos têm possibilitado a formação de corredores ecológicos e contribuído com a mitigação das mudanças climáticas através do sequestro de carbono.
Portanto, diante da dimensão do território brasileiro, destacamos que cada região e área propriamente representam realidades específicas, devendo ser analisadas e planejadas como tal, quando o conhecimento técnico pautado em experiência prevalecerá. Somente a partir disso é possível classificar o nível de degradação, identificar as técnicas de intervenção e o seu melhor propósito.
GRADIENTE DE DEGRADAÇÃO: