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Nelson Barboza Leite

Agrônomo e Silvicultor

AsCP25

Produtividade e sustentabilidade: compromissos indissociáveis
A silvicultura brasileira é, sem dúvida, um dos maiores casos de sucesso da agroindústria nacional. Avançamos com tecnologia, pesquisa e inovação, conquistando patamares de produtividade antes inimagináveis. Plantamos, colhemos e renovamos com precisão quase cirúrgica. A floresta plantada tornou-se símbolo de eficiência e inteligência operacional.
 
Mais do que isso, aprendemos a conciliar esse avanço técnico com exigências legais, ambientais e sociais cada vez mais complexas. Incorporamos certificações internacionais, respeitamos legislações rígidas e consolidamos não apenas um discurso, mas uma prática real de responsabilidade. A silvicultura nacional hoje se apoia em resultados técnicos robustos, princípios ambientais sólidos e valores éticos consistentes. Isso é fruto da competência profissional e do amadurecimento empresarial do setor, que já se tornou referência global.

Apesar desse histórico de conquistas, o setor se vê diante de um novo patamar de desafios. Já não basta produzir mais – é preciso produzir melhor, com inteligência territorial, responsabilidade social e resiliência ambiental. A produtividade continua sendo o centro das atenções – e deve ser. Mas não podemos mais medi-la apenas em volume de madeira por hectare ou ciclos encurtados.

A pergunta que nos desafia agora é: qual o ponto de equilíbrio entre o máximo produtivo e o mínimo impacto ambiental e social? Será possível, por exemplo, falar em sustentabilidade com produtividades aquém do potencial técnico? Ou, ao contrário, será sustentável um sistema que esgota o solo, consome recursos em excesso e compromete a paisagem ao longo dos anos?

A resposta passa por planejamento – um planejamento territorial inteligente e estratégico do uso das áreas a serem plantadas. Isso significa respeitar a vocação natural dos solos, proteger nascentes, recompor áreas degradadas e garantir conectividade entre fragmentos de vegetação nativa. O planejamento de paisagem não é um luxo técnico: é o alicerce que harmoniza produção com conservação e prepara o território para enfrentar os desafios da resiliência climática e hídrica do futuro.

Mas essa equação sustentável exige mais que técnica: exige também compromisso com o fator humano. Um setor verdadeiramente maduro cuida de quem põe a mão na terra. Nesse contexto, a valorização dos trabalhadores terceirizados da silvicultura operacional deve ser prioridade estratégica. São eles que realizam atividades cruciais no campo, muitas vezes sob condições adversas. Valorizar a qualificação técnica das empresas terceirizadas – que atuam com segurança e garantem condições dignas a seus colaboradores – é um imperativo moral e, também, um vetor de produtividade e qualidade.

Outro pilar importante, que deve ser resgatado e fortalecido, é o fomento florestal a pequenos e médios produtores. Essa estratégia de inclusão produtiva é ao mesmo tempo uma ferramenta de democratização da atividade florestal e de geração de renda e desenvolvimento local. Ao integrar esses produtores ao sistema florestal por meio de parcerias técnicas e comerciais, o setor distribui oportunidades, fortalece territórios e amplia sua base de sustentabilidade social. Fomentar florestas é, também, fomentar futuros.

Além disso, não há sustentabilidade plena sem atenção às comunidades do entorno das áreas reflorestadas. O diálogo com essas populações deve ser contínuo e propositivo. Projetos sociais, capacitações, incentivos à educação rural e inserção produtiva são instrumentos reais de transformação social e de construção de relações duradouras e respeitosas.

E para que tudo isso se realize com força e consistência, é preciso fortalecer institucionalmente o setor florestal. Um setor sustentável precisa estar politicamente estruturado, com capacidade de articulação, representação ativa nas esferas decisórias e legitimidade para reivindicar políticas públicas. Um universo de oportunidades se abre com o plantio e a regeneração de áreas degradadas com espécies nativas, além da crescente inserção do setor no estratégico mercado de carbono. Essas frentes exigem organização, conhecimento técnico e, acima de tudo, voz. Precisamos ser ouvidos como o que de fato somos: um setor essencial, moderno e regenerativo.

Tudo isso só enriquece a silvicultura brasileira. Mais do que escolher entre produtividade e sustentabilidade, o verdadeiro desafio agora é integrar essas duas dimensões de forma estratégica e duradoura. Um modelo de silvicultura em que a produtividade seja consequência natural da sustentabilidade – e não seu limite. Temos tecnologia. Temos conhecimento. Temos profissionais competentes e um setor cada vez mais maduro. E, agora, temos também mais uma missão: provocar a nós mesmos para irmos além.
Estamos prontos para esse novo salto?

Tudo indica que sim. E o momento é agora!