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José Zani Filho

Diretor da Agriflora e Consultor Florestal

Op-CP-03

Produção de mudas florestais

As recentes estatísticas revelam que os plantios florestais, em 2005, foram na ordem de 553 mil hectares e a previsão para 2006 é de 600 mil hectares (SBS). Para atender esta demanda de área de plantio, estima-se que foi necessário produzir em torno de um bilhão de mudas florestais, mobilizando mais de 110 mil empregos diretos e movimentando 200 milhões de reais em custeio.

Para atender este crescimento de consumo, as empresas atualizaram e ampliaram seus viveiros florestais. Porém, estas medidas não foram suficientes para atender à demanda de mercado. Foi necessária, a terceirização da produção. As principais mudanças ocorridas nos viveiros foram a modernização das estruturas físicas e as melhorias no processo de produção (clonagem).

Estruturalmente, os viveiros ganharam um novo lay out, semelhante às linhas de produção industriais. A reorganização do fluxo de produção de um viveiro é de fundamental importância, pois a mão-de-obra participa com 60 a 70% dos custos das mudas. Portanto, numa produção em escala comercial, não pode haver pontos de estrangulamentos no processo, pois podem ocasionar redução dos rendimentos operacionais.

Os ambientes físicos dos setores de produção, como Jardins Clonais, Enraizamentos e Aclimatação, foram protegidas em Casas de Vegetação, com automação dos controles ambientais, fertilizações e irrigações. Em regiões onde o clima é mais desfavorável, com altos riscos de geadas, chuvas pesadas e ventos, os viveiros são protegidos com estruturas metálicas com tetos móveis e, às vezes, com aquecimento ambiental.

O uso de tubetes de 50 cc, acopladas em bandejas plásticas e apoiadas em canteiros suspensos do piso, facilitou a mecanização de várias etapas da produção, reduziu a incidência de doenças e facilitou os ajustes ergonômicos das operações. Também os funcionários foram atendidos com exercícios laborais, ferramentas anatômicas para o trabalho, altura de bancadas, luminosidade de ambientes, entre outros benefícios.

Outros avanços consideráveis no processo vieram das pesquisas com substratos e materiais genéticos. Os testes clonais para escolha adequada dos materiais produtivos a determinados “sites”, aliados aos altos rendimentos fabris para produção de celulose, consolidaram, em escala comercial, nas grandes empresas, o uso da propagação vegetativa como método de produção de mudas.

Ganhos importantes também foram obtidos no cultivo intensivo das matrizes clonais em jardins com ambientes controlados. Os clones são manejados em canteiros suspensos, com fertilizações, irrigações controladas e manejos adequados das cepas, para produção das miniestacas. O domínio e a padronização da qualidade dos propágulos (miniestacas), trouxeram muitas vantagens para produção, como aumento do enraizamento, redução de doenças, redução de tempo na formação das mudas e melhorias consideráveis na qualidade das mudas produzidas.

Apesar dos avanços ocorridos, os viveiros ainda carecem de outras melhorias, como: treinamento e capa-citação de operadores, para otimizar as novas estruturas e processos; redução no consumo de água das irrigações, pois favorecem a multiplicação de doenças, prejudicando o desenvolvimento dos sistemas radiculares e aumentando a lixiviação das fertilizações; criação de indicadores sociais, ambientais e econômicos, para favorecerem o monitoramento e evolução da atividade.

A parte complementar da produção de mudas, para atender à demanda de mercado no plantio florestal esteve sob responsabilidade dos viveiros terceirizados. A instalação de um viveiro economicamente viável deve iniciar com uma produção em torno de 350 a 400 mil mudas mensais, com uma taxa de ocupação de 50 a 60% ao ano. O investimento inicial neste empreendimento é da ordem de 700 mil reais, com retorno em 5 anos. Por ser uma atividade com alto consumo de mão-de-obra, a relação de investimento para geração de empregos é na ordem de R$22.000,00/emprego.

Os viveiros terceirizados trouxeram grandes benefícios ao setor florestal, tais como: contribuíram com grande parte da produção de muda, para atender a demanda de plantio; empregaram mão-de-obra com baixa escolaridade; facilitaram o acesso do pequeno produtor na compra de mudas florestais, pois os agricultores e proprietários rurais não aprovados nos critérios dos programas de fomentos e arrendamentos das empresas não tinham acesso às mudas e ao plantio florestal; também ajudou na democratização dos conhecimentos e na divulgação de técnicas de formação de florestas produtivas, como a de pinus e eucaliptos.

Por outro lado, com a utilização de alguns poucos clones na produção massiva de mudas, buscando o atendimento dos programas de fomentos das empresas e de novos clientes no mercado, não houve o devido esclarecimento dos riscos e ressalvas técnicas de plantio de mudas clonais, em sites desconhecidos. Tal prática pode gerar frustrações nas produtividades esperadas, prejuízos e levar os programas de plantios florestais ao descrédito.

É de conhecimento técnico que a máxima produtividade de um clone só é obtida com a máxima interação do genótipo x ambiente. Se o ambiente de plantio for inadequado, corre-se o risco de se obter baixas produtividades ou até mesmo perda total da floresta, em casos onde ocorram forte déficit hídrico, geadas, doenças etc.

Assim sendo, recomenda-se, para minimizar os riscos dos plantios clonais, que os novos “fazendeiros florestais” utilizem as variabilidades genéticas oferecidas pelas espécies e procedências, que são transmitidas pelas mudas formadas com sementes melhoradas, as quais oferecem produtividades semelhantes e, às vezes, superiores, além da maior diversidade de uso da madeira das florestas.