Não é de hoje que se fala e se relata a incansável busca por fontes alternativas de energia às fósseis tradicionalmente utilizadas. Essa se tornou uma questão extremamente importante para o futuro do desenvolvimento sustentável econômico mundial. Nesse contexto, a peletização, ou seja, o processo de compactação da biomassa visando produzir um combustível sólido granulado com propriedades mais homogêneas e com densidade energética – quantidade de energia por unidade de volume – superior à da matéria-prima que lhe deu origem, se torna atrativa e vem ganhando espaço a cada dia.
Esse combustível granulado, denominado pellets, pode ser produzido a partir de um amplo portfólio de matérias-primas, tais como os resíduos dos processamentos primários ou industriais de culturas agrícolas ou florestais. O aproveitamento da biomassa “residual” para a produção de pellets agrega valor a essa fonte energética e evita o passivo ambiental do seu descarte de maneira indevida no ambiente.
Além das biomassas residuais, chama atenção, particularmente no Brasil, o potencial de produção de biomassa dedicada exclusivamente para esse fim, como exemplo as florestas plantadas de rápido crescimento, chamadas “florestas energéticas”. Cabe considerar que em 2016, segundo dados do IBÁ, a área ocupada por florestas de eucalipto para diferentes segmentos totalizou 5,7 milhões de hectares, com uma produtividade média de 35,7 m³/ha ao ano, destacando o Brasil no ranking mundial de produção florestal.
A produção de pellets é um processo relativamente simples, todavia, a qualidade do produto pode ser bastante variável de acordo com as propriedades inerentes à própria biomassa e aos fatores relacionados ao processo de produção. A densidade, os teores de cinzas e de umidade são algumas das principais propriedades a serem avaliadas da matéria-prima, enquanto a utilização de vapor e de aditivos aglutinantes são os principais fatores do processo.
Devido a essa variabilidade, foi criada uma série de normas que estabelecem as propriedades, os procedimentos e os padrões dos pellets a serem atendidas em função da sua destinação final, destacando as normas DIN-EN (europeias), ISO 17255/2014 e ISO 18122/2015. Nesse sentido, pode-se observar o crescente e cada vez mais competitivo mercado de pellets.
Os empresários brasileiros interessados em investir nesse mercado devem começar a prospectar a otimização da matéria-prima, bem como do processo produtivo de pellets, tendo como objetivo principal atender aos padrões de qualidade atribuídos pelas normas internacionais de comercialização desse produto.
Nesse cenário, principalmente no que se refere à qualidade dos pellets, as universidades e demais centros de pesquisas podem desempenhar um papel fundamental, avaliando diferentes biomassas, parâmetros de compactação, bem como a aplicação da técnica de torrefação dos pellets.
Um exemplo são os trabalhos desenvolvidos pela Universidade Federal de Viçosa/LAPEM, com pellets torrificados e técnicas para reduzir o teor de cloro na biomassa, visto que a sua quantidade presente na biomassa de eucalipto pode vir a inviabilizar o seu uso, principalmente para atendimento ao mercado externo, que é o de uso residencial.
O objetivo geral dessas pesquisas é conseguir produzir pellets com índices de qualidade satisfatórios para atender tanto o mercado interno quanto à exportação. De maneira geral, o que se busca são pellets com alta densidade energética e durabilidade mecânica, além de baixos teores de umidade, cinzas e de componentes químicos indesejáveis para o uso combustível, tais como cloro, enxofre e nitrogênio.
Quanto ao mercado, vale ressaltar que a Europa destaca-se como maior produtor e consumidor de pellets para atendimento à demanda de energia tanto residencial quanto industrial para geração de calor e eletricidade, detendo, em 2016, aproximadamente 58,29% da produção, seguida pela América do Norte, com 32,13%.
Já as outras regiões, contribuem com 9,58% da produção. Em 2016 houve um crescimento de 5,25% na produção mundial de pellets de madeira utilizados como combustível, de forma que, em 2016, essa produção alcançou 28,6 milhões de toneladas, fomentada pela expansão do consumo europeu.
No Brasil, em 2014, a produção de pellets foi de aproximadamente 49.000 toneladas, sendo que, dessas, 24.368 toneladas foram destinadas ao mercado externo. Já em 2016, o Brasil produziu 75.000 toneladas de uma capacidade instalada de 275.750 toneladas, provenientes de 13 fábricas operando, concentradas, principalmente, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tendo preços de venda variando de R$550,00 a R$ 700,00/ton.
Vale salientar que os últimos dados mostram a existência de 23 fábricas, porém 10 delas em status de projeto ou stand by. Apesar de muitas fábricas estarem operando abaixo da capacidade produtiva, o setor está se estabelecendo em vista dos investimentos e acordos firmados pelas grandes indústrias de base florestal no País e da demanda externa por energia renovável respeitando os acordos do clima estabelecidos, ou seja, a redução do consumo de combustíveis fósseis.
Desse modo, cada vez mais é possível observar a movimentação de substituição da matriz dos combustíveis fósseis pelos pellets, diminuindo a dependência dos mesmos e colaboração para minimizar os impactos do clima, além da competitividade nos custos. Ainda existem vários obstáculos para o desenvolvimento da produção de pellets no Brasil em escala industrial, destacando-se o déficit em infraestrutura de transporte, visto que predominantemente utiliza-se o sistema rodoviário como principal meio de transporte de cargas ligando os principais polos produtivos ao sistema portuário.
Além disso, há toda a burocracia para exportação, falta de matéria-prima certificada e a descentralização dos resíduos; a falta de incentivo a estudos técnicos e científicos mais aprofundados; falta de incentivos governamentais fiscais ou subsídios; linhas de crédito específico e escala de produção insuficiente para conseguir baixar os custos fixos para aumentar a competitividade.
Apesar dos desafios existentes para a consolidação de uma cadeia produtiva de pellets no Brasil, as oportunidades, em contrapartida, são muitas. É notório que o Brasil destaca-se como país emergente no cenário internacional de pellets, uma vez que há disponibilidade de matéria-prima florestal e de resíduos agroflorestais e industriais para tal finalidade em decorrência da sua abundância – devido à aptidão para estabelecimento de culturas agrícolas e florestais favoráveis pelas condições edafoclimáticas.
Além disso, vale citar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305) que estabelece destinação ambientalmente adequada de resíduos incluindo a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético, sendo essa última, uma forma de incentivo à utilização dos resíduos para produção de pellets. Nesses cenários, existem perspectivas positivas de franco crescimento para o setor a curto, médio e a longo prazo, tanto para o mercado interno quanto para o externo.