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Helton Damin da Silva

Chefe Geral da Embrapa Florestas

Op-CP-18

Os avanços tecnológicos mundiais e as questões ambientais

A partir da década de 1960, portanto, há quase 50 anos, pudemos acompanhar um avanço tecnológico muito superior àqueles observados nos séculos anteriores. Os avanços na área de comunicação e transporte facilitaram o intercâmbio de informações e o deslocamento de pessoas entre países; essas facilidades reduziram, de certa forma, o tamanho do planeta.

Na área da medicina, os avanços possibilitaram os transplantes, e a engenharia genética está possibilitando - e dando esperança para - a cura de muitas doenças. Na agricultura, os avanços tecnológicos permitiram não só o aumento da produtividade mas também o avanço das áreas plantadas em locais antes sem potencial agrícola.

O desenvolvimento tecnológico está intimamente ligado ao conhecimento científico nas mais diferentes áreas, fato que tem possibilitado o aumento da longevidade humana, comprovado pelo aumento significativo da população, consequentemente um maior número de pessoas habitando o planeta.
Diga-se de passagem, com muito mais saúde, recursos alimentares e tecnológicos.

A ciência da computação viabiliza uma atuação conjunta com a medicina, possibilitando que médicos cirurgiões, muitas vezes sem contato algum com o paciente, operem e salvem vidas a distância. A indústria também evoluiu, desenvolveu veículos, deu maior autonomia de voo aos aviões, melhorou o conforto dos usuários, desenvolveu indústrias e incentivou a preservação de alimentos, aumentando o prazo de validade, facilitando o transporte e tornando-os disponíveis à população.

Enfim, a humanidade evoluiu acreditando em novos conceitos e tendo a coragem de assumir riscos. Por outro lado, houve uma utilização indiscriminada dos recursos naturais, notadamente solo e flora, trazendo consequências negativas à água, à fauna e, principalmente, ao ar, afetando sobremaneira as condições climáticas do planeta.

Nesse bojo, cresceram os movimentos ambientalistas que muito sensibilizaram a população sobre a necessidade da preservação ambiental. “Todos os seres vivos têm direitos e obrigações com relação ao meio ambiente, inclusive as gerações futuras.” Talvez, com essa consciência, que, entre outras medidas, estabeleceu que a proteção dos topos de morros, enquanto Área de Preservação Permanente, seria necessária para a preservação ambiental.

O conceito de topo de morro, por si só, é de difícil interpretação. Afinal, o que é topo de morro? As definições estabelecidas no código de 1965 careciam de maiores informações tecnológicas e de estabelecimento do seu alcance e das consequências da sua adoção. Hoje, presenciamos uma discussão apaixonada, e muitos não acreditam que a ciência também gerou novos conhecimentos que facilitam os entendimentos a respeito do meio ambiente.


A ciência estabelece que devemos ter uma preocupação muito maior com as fragilidades ambientais, que são muitas, mas duas em especial são de extrema importância: a água e o solo. Muitas outras têm também importância: a fauna, a flora, os polinizadores, a biodiversidade como um todo. Mas a água e o solo são fundamentais: a partir deles, os demais têm possibilidades de se recuperar de forma muito rápida.

Não estamos defendendo uma devastação geral, existem “topos de morros” que precisam ser preservados; estamos defendendo que muitas das áreas que foram destinadas à agricultura podem continuar com a atividade consolidada, outras, no entanto, precisam ser recuperadas, dentro de critérios técnico-científicos que hoje conhecemos.

Defendemos uma análise muito mais profunda do que a simplicidade da lei, editada nos anos 60. Defendemos que a ciência, hoje, tem muito mais conhecimentos e parâmetros para uma ação mais efetiva, no sentido de definir áreas frágeis. Defendemos que houve evolução também nas formas de análise e de avaliação das fragilidades. E que essas fragilidades afetam, e muito, a qualidade da água em aquíferos confinados (aquífero Guarani, por exemplo) e também nos aquíferos livres (rios e lagos).

Analisar e defender essas questões com sentimentos e garra é importante e necessário, mas estar atento a outros pontos de vista é fundamental para não chegarmos ao final da estrada e percebermos que a luta foi em vão e não gerou o resultado esperado, não que a causa não fosse justa, mas porque os conceitos estavam errados. Acredito que é hora de uma análise profunda e do envolvimento apaixonado, mas de coração aberto para dar ouvidos à evolução da ciência, que, sem dúvida, alterou os rumos da humanidade, com muitos erros e acertos. Acredito, também, que com muito mais acertos.