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Fernando Franzoni

Presidente da ANAVE

Op-CP-01

O real valor do setor de celulose e papel

A maior parte da nossa sociedade associa agronegócio, tão somente, ao plantio de vegetais, que dão origem a alimentos. Menos mal quando esta maioria assim pensa por desinformação e não conduzida por insensatez ou estratégia política. Esta colocação justifica-se quando sou convidado a manifestar meu ponto de vista sobre o suprimento de madeira, para viabilizar a ampliação da produção brasileira de celulose e papel.

Vem à memória o argumento de integrantes do MST, Movimento dos Sem-terra, que, em passado recente, invadiram uma floresta da Veracel, alegando que “ninguém come eucalipto”. O eucalipto, assim como outras madeiras provenientes de florestas plantadas que dão origem à matéria-prima para a produção de diversos produtos, não serve de alimento, mas é fonte de riqueza, que propicia condições de vida digna para muitos cidadãos.

No ano passado, em edição extra do Informativo ANAVE, de 20 de maio, em editorial intitulado: “Atitude, antes condenável, agora se torna insuportável”, a ANAVE, Associação Nacional dos Profissionais de Venda em Celulose, Papel e Derivados, entidade comprometida com a evolução e desempenho do mercado de celulose e papel, expôs publica e incisivamente seu posicionamento contrário a esse tipo de arbitrariedade.

Na época, as terras invadidas pertenciam a Klabin S/A. Enfatizamos que não se pode considerar improdutiva uma área reflorestada, que gera matéria-prima para uma indústria de reconhecida importância para o desenvolvimento econômico da nação brasileira. Lamentavelmente, seguindo a ordem inversa dos interesses nacionais, o MST viu, na arbitrária e violenta ação contra o setor de celulose e papel, a oportunidade para despertar a atenção da opinião pública e da mídia, além de constranger o Governo.

A Klabin, centenária empresa de capital genuinamente brasileiro, lidera a produção integrada de celulose, papel e derivados por conversão, em nosso país. Com capacidade de 1,5 milhão de toneladas anuais, das quais 41%, destinadas à exportação, e receita bruta superior a R$ 3 bilhões, gera cerca de 8 mil empregos diretos e, mais aproximadamente, 5 mil terceirizados, em suas operações florestais e industriais.

Além de seus 186 mil hectares de florestas plantadas de pinus e eucalipto, de alta produtividade, localizados principalmente ao sul do País, a Klabin mantém mais de 123 mil hectares de matas nativas preservadas, que se constituem em verdadeiros santuários, onde a flora e a fauna são estudadas por pesquisadores e possibilitam o desenvolvimento de programas de educação ambiental para funcionários e comunidades.

A Klabin foi uma das primeiras empresas da América Latina a receber o certificado FSC - Forest Stewardship Council, pelo correto manejo de suas florestas no estado do Paraná. Esta certificação atesta a gestão sustentada das suas operações florestais como um todo. Infelizmente, as invasões não pararam por aí. Fazendas da VCP, Votorantim Celulose e Papel, e da Veracel também foram alvo do incoerente movimento.

Estes fatos, apesar de relevantes, não são os que merecem maior destaque na abordagem da questão do suprimento de madeira para a produção de papel e celulose. Neste aspecto, o que deve sobressair é o Plano de Expansão do Setor, que estima, em US$ 14,4 bilhões, os investimentos até 2012, para ampliar a produção de celulose e papel e elevar as exportações.

A meta é audaciosa, e dobrar a área de florestas plantadas é condição essencial para que se concretize. O setor de celulose e papel é uma verdadeira “fábrica de florestas”. Toda a madeira utilizada é proveniente de árvores plantadas e cultivadas, seguindo as mais rigorosas normas de preservação ambiental. São indústrias modelares, que não minimizam esforços e investimentos em pesquisas biológicas, para otimizar o cultivo, colheita e transporte da madeira necessária para suprir a produção.

 Estas características são determinantes na competitividade da indústria brasileira de celulose e papel. Em 2004, de acordo com dados oficiais da Bracelpa, Associação Brasileira de Celulose e Papel, o setor contava com 5 milhões de hectares de áreas plantadas, sendo 69% de eucalipto, 30% de pinus e 1% de outros tipos de florestas.

O fomento florestal, envolvendo pequenos e médios produtores rurais, é uma das iniciativas bem sucedidas da indústria papeleira. Mas, por si só, não é suficiente para atender à demanda futura, não só do nosso setor, mas do moveleiro, da construção civil, da exportação de chapas etc. O setor merece a atenção adequada do Governo. Faz-se necessária a adequação da legislação que regulamenta o plantio de florestas e a criação de mecanismos de incentivo para financiar o setor florestal.

Viabilizar o suprimento de madeira para assegurar a expansão é o grande desafio a ser vencido. Questão estratégica, não só para o setor de celulose e papel, mas para nos colocar de acordo com os princípios do Protocolo de Kyoto, e segundo o pensamento mundial a respeito do meio ambiente e sustentabilidade, creditando a nação brasileira, desta forma, perante as aspirações mundiais.