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Augusto Valencia Rodriguez

Gerente de Tecnologia da ArcelorMittal BioFlorestas

Op-CP-27

O potencial da biomassa residual

Não restam dúvidas sobre a imensa capacidade tecnológica da silvicultura brasileira. Nos meios florestais mundiais, há consenso de que a silvicultura clonal do gênero eucalyptus no Brasil supera, em muito, as demais iniciativas de outros países. Prova disso está no grande incremento da produtividade florestal ao longo de quase 50 anos de silvicultura intensiva e na qualidade da matéria-prima gerada para as mais diversas aplicações.

Somente no setor de carvão vegetal, a produtividade saltou de 10-12 m³ /ha/ano de IMA (Incremento Médio Anual) para mais de 50-60 m³/ha/ano nesse período. A densidade básica da madeira passou de cerca de 350 a 400 kg/m³sólido (densidade básica) para mais de 600 kg/m³sólido em alguns materiais de hibridação controlada, alguns deles utilizando até três materiais genéticos (os chamados tricross). Obviamente, a evolução tecnológica foi baseada em diversas áreas do conhecimento.

Florestas homogêneas de eucalyptus passam a produzir biomassa, dentro de um novo conceito de suprimento de matéria-prima para as indústrias de base florestal. A nova denominação passa a ser importante num contexto ampliado de cadeias produtivas, alinhando-se, por exemplo, com o setor canavieiro, que tem, em sua produção de biomassa própria, imensas oportunidades de aproveitamento supraenergético, além daquela intrínseca do negócio.

Muito se tem falado sobre até que ponto iremos conseguir maximizar a produção florestal, através dos plantios clonais de eucalyptus, dentro de uma matriz de sustentabilidade, que mantenha a competitividade do setor.

Por outro lado, a evolução nos sistemas de colheita, retirada de madeira e transporte para as unidades de produção, teve um boom também representativo nos últimos 20 anos, o que ajudou a consolidar a eficiência do setor florestal com alta produtividade e custos operacionais competitivos.

A importação de máquinas e, posteriormente, a tropicalização de equipamentos e sistemas possibilitaram a profissionalização da atividade em volumes crescentes e na qualidade requerida. Sem a mecanização, seria impossível atender às demandas industriais colocadas.

Especificamente no setor de carvão vegetal, a mecanização da colheita com sistema feller-skidder e garra traçadora (o mais tradicional do setor) traz para análise a possibilidade de aproveitamento da biomassa residual, quer seja do material intrínseco da atividade, que vai para as plantas de carbonização na forma de galhos e cascas, quer seja no material remanescente da retirada das árvores, que podem ser utilizados em diferentes níveis.

A análise de um potencial aproveitamento desses resíduos deve estar intimamente ligada à questão da sustentabilidade do sistema solo-planta, tratando-se não só da questão nutricional, através da reciclagem, como das interações com as características físicas do solo e da umidade e com as características do material a ser aproveitado (cascas, galhos finos, grossos, folhas, etc).

Inventários têm sido feitos no sentido de adequar a melhor matriz de produção nesse sentido, procurando a melhor resposta de equilíbrio entre a manutenção e a retirada da biomassa residual.

A cadeia deve, então, ser avaliada da perspectiva mais ampla na qual, após definir o que e em que nível aproveitar o material, se sabe como ele será processado e beneficiado.

Tomando-se, novamente, um modelo baseado na produção de carvão vegetal, em que tecnologias em desenvolvimento avançam no sentido do aproveitamento dos gases de pirólise, na geração de energia térmica e, em pouco tempo, na produção de energia elétrica, sistemas suplementares de biomassa compõem um importante suprimento, quer na primeira rota (energia térmica para secagem da madeira), melhorando os índices de transformação madeira/carvão, com consequente economia de florestas e recursos, quer na agregação de combustível, para os sistemas de geração termoelétrica.

Além disso, ainda há a agregação da própria produção de carvão vegetal, mesmo que nas frações mais finas, plenamente utilizáveis nos sistemas de injeção na maioria dos altos fornos de produção de gusa (inclusive aqueles que utilizam o coque mineral).

Mais uma vez, a mecanização dessa nova vertente de produção de biomassa deverá integrar sistemas, máquinas e implementos aos atuais modelos produtores de toras ou árvores inteiras a todo o fluxo logístico que impacta o binômio floresta-indústria.

Processadores, pré-trituradores, trituradores, picadores, enfardadeiras, classificadores, carregadeiras, e outros, deverão ter portes, potências e desempenhos adequados para operarem no campo, nas estradas e nos pátios de processamento e/ou abastecimento, de acordo com tipo e volume de matéria-prima e produto final pretendido.

Estudos preliminares apontam para um aproveitamento dessa biomassa da ordem de 5% do volume clássico inventariado em uma floresta de produção, falando-se apenas de pontas e galhos grossos. O conteúdo energético dessas porções terá importante participação num contexto maior de produção de biomassa, energia e modelo sustentável de produção, de forma equilibrada e com bom senso no aproveitamento dos recursos e de geração de valor.