O setor florestal brasileiro tem passado por transformações significativas nos últimos anos, impulsionado pela necessidade crescente de mecanização das operações, pelas oscilações cambiais e pelo aumento expressivo nos preços das máquinas e insumos. Empresas que operam no segmento enfrentam desafios estratégicos para equilibrar investimentos e otimizar custos operacionais sem comprometer a produtividade e a sustentabilidade de suas atividades.
De acordo com o Relatório Anual da Indústria Brasileira de Árvores – Ibá, em 2023 o valor bruto do setor de árvores cultivadas alcançou R$ 202,6 bilhões, representando cerca de 0,9% do PIB nacional, com 10,2 milhões de hectares de florestas plantadas. Essa expansão reforça a importância da mecanização para atender à demanda crescente por eficiência produtiva. O mercado global de equipamentos florestais apresentou crescimento expressivo, com previsão de expansão de US$ 10,59 bilhões em 2023 para aproximadamente US$ 12,98 bilhões até 2028, registrando uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 4,15%. Esse cenário mundial se reflete diretamente no mercado brasileiro, especialmente devido à alta dependência do país em relação a equipamentos importados.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – Abimaq, o Brasil importa cerca de 65% das máquinas florestais utilizadas no país. Esse cenário expõe as empresas brasileiras aos riscos decorrentes das variações cambiais, que aumentam consideravelmente os custos operacionais.
Dados do Banco Central do Brasil revelam que, entre 2018 e 2023, houve uma valorização cambial média acima de 50% no dólar. Essa oscilação impacta diretamente o planejamento de investimentos das empresas florestais, que enfrentam custos elevados para a aquisição de máquinas novas e para peças de reposição.
A mecanização das operações florestais é um fator essencial para a competitividade no mercado. No entanto, a elevação dos preços das máquinas e equipamentos tem sido uma preocupação para os gestores do setor. Segundo a Abimaq, os preços das máquinas florestais tiveram um aumento de até 25% entre 2021 e 2023. Essa elevação foi impulsionada por diversos fatores:
• Escassez global de matérias-primas, como aço e componentes eletrônicos, elevando os custos de produção;
• Aumento nos custos logísticos decorrente da crise global de contêineres e dificuldades no transporte marítimo;
• Desvalorização cambial, encarecendo máquinas e peças importadas, uma vez que boa parte dos equipamentos florestais é adquirida no exterior.
A idade média das máquinas em operação também se tornou um desafio para as empresas, visto que muitas têm postergado investimentos em novos equipamentos, elevando custos com manutenção e reduzindo eficiência operacional. Isso gera um dilema para os gestores, que precisam decidir entre realizar compras antecipadas para evitar altas futuras ou adiar investimentos na esperança de um câmbio mais favorável.
Estratégias financeiras, como o leasing operacional, vêm sendo amplamente adotadas para renovar a frota e mitigar o problema. O “aluguel de equipamentos” oferece benefícios importantes como a redução do desembolso inicial, permitindo maior disponibilidade financeira para outros investimentos.
Além disso, ao fixar as parcelas em moeda nacional, proporciona proteção contra a volatilidade cambial, contribuindo para uma gestão financeira mais previsível e segura. A renovação constante da frota viabilizada por este tipo de locação também diminui os custos com manutenção, garantindo máquinas mais modernas e eficientes em operação.
Por outro lado, é essencial considerar que o leasing pode trazer algumas desvantagens, como custos totais potencialmente maiores ao longo do prazo contratual em comparação com a aquisição direta. A rigidez contratual do leasing operacional, com possíveis penalidades por rescisões antecipadas, pode limitar a flexibilidade das empresas diante de mudanças rápidas na demanda ou no mercado, exigindo uma análise criteriosa das cláusulas antes da contratação.
Além dos desafios financeiros, a mecanização traz a necessidade urgente de capacitação profissional específica, uma vez que equipamentos modernos requerem profissionais qualificados para garantir eficiência e segurança nas operações. O Relatório Anual da Ibá destaca que a capacitação contínua é fundamental, especialmente devido à rápida evolução tecnológica das máquinas empregadas atualmente no mercado.
Esse é um desafio considerável, já que a formação de operadores especializados envolve investimentos substanciais em infraestrutura, contratação de instrutores qualificados, aquisição de simuladores sofisticados e realização de treinamentos contínuos.
Isso exige desembolsos financeiros elevados que se somam aos custos operacionais já existentes. O retorno desse aporte em capacitação é, geralmente, de médio a longo prazo, uma vez que a formação técnica especializada demanda tempo até que os profissionais atinjam o desempenho esperado.
A mecanização das operações tradicionalmente manuais oferece benefícios importantes ao setor florestal, como aumento da segurança no trabalho, redução significativa dos riscos de acidentes, melhoria das condições ergonômicas e maior conforto para os trabalhadores.
A mecanização também se torna uma alternativa eficaz diante da crescente escassez de mão de obra rural, realidade vivenciada em diversas regiões produtoras do país. Apesar disso, a substituição de atividades manuais por processos mecanizados ainda enfrenta resistência, visto que alguns ainda apresentam custos elevados.
Entretanto, a mecanização é uma realidade necessária para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das soluções florestais. Ocorreu desta forma com a atividade de colheita florestal e não será diferente com a silvicultura.
Para lidar com a demanda de capacitação de mão de obra, diversas empresas têm estabelecido parcerias com instituições técnicas e fabricantes de equipamentos, oferecendo cursos especializados e programas estruturados de treinamento contínuo. Iniciativas bem-sucedidas incluem academias corporativas, treinamentos práticos em simuladores de última geração e certificações técnicas reconhecidas pelo mercado.
Embora esses programas representem uma solução eficaz a longo prazo, o alto custo inicial e o tempo requerido para qualificar plenamente os profissionais são desafios adicionais que as empresas precisam considerar em seus planejamentos financeiros.
O setor florestal brasileiro precisa se reinventar para lidar com a situação imposta pelo aumento dos custos de máquinas, flutuações cambiais e a necessidade de mecanização. A busca por soluções estratégicas, como adoção de novas tecnologias, financiamentos flexíveis, otimização no uso de equipamentos entre as operações florestais, combinada com a capacitação de profissionais especializados, representa o caminho mais seguro para o sucesso das operações florestais.
Diante desse cenário, empresas que conseguirem equilibrar inovação, mecanização e gestão eficiente de custos estarão mais bem posicionadas para superar essas adversidades econômicas e operacionais, garantindo produtividade, sustentabilidade e competitividade nos próximos anos.