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Maria José Brito Zakia

Diretora da Práxis Assessoria Socioambiental

Op-CP-36

A gestão da rotina da sustentabilidade

Conforme o tempo passa, vamos aprendendo que nossas maiores virtudes são também nossos maiores defeitos. Com as empresas, isso também pode ser verdade. Uma das maiores virtudes de uma boa empresa é ter a chamada gestão da rotina. A gestão da rotina de trabalho é uma metodologia essencialmente prática, de aplicação imediata, para que todos gerenciem suas atividades  objetivando os resultados esperados.

Um dos requisitos para o gerencimanto das atividades é o estabelecimento de metas claras e com indicadores mensuráreis. E, dessa forma, é importante  entender o que significam "Resultados" em tempos de sustentabilidade e como estabelecer metas com indicadores mensuráveis.

Então, quando pensamos em colocar em prática o conceito de sustentabilidade, há que se ter como reconhecer uma empresa sustentável. E é nesse momento que a grande virtude é também um defeito, pois os procedimentos e a gestão ajudam a organizar a realidade, mas atrapalham a percepção de coisas novas.

Então, quando pensamos em colocar a sustentabilidade em prática, há que se seguir alguns passos, os quais apresentamos abaixo:
Passo 1:  Engajamento do conselho de administração: há a necessidade de ajustes na Missão, na Visão de Futuro e nas Políticas do empreendimento. Ou seja, se, na Missão e nos valores da empresa, não houver compromisso com sustentablidade, já  haverá  um problema para colocar em prática o conceito.

Passo 2: Conscientização: há a necessidade da sensibilização para os conceitos de responsabilidade social e para a importância da abordagem de sustentabilidade empresarial em todos os níveis da empresa.

Passo 3: Capacitação: há que haver domínio das particularidades e das implicações  sobre o tema sustentabilidade.

Passo 4: Redesenho de processos internos: Incorporar elementos da sustentabilidade nas operações (rotina) da organização.

Conforme afirmei, os procedimentos e os modelos seguidos são ótimos e são necessários, mas podem ser um obstáculo para que novas ideias e novos procedimentos sejam colocados em prática. E, quando as novas ideias são aceitas, tudo o que  desejamos é que virem procedimentos e modelos a serem seguidos e que façam parte da rotina.

A figura em destaque, de forma esquemática, mostra os  componentes da gestão da rotina. Não há dúvida de que cumprir os três primeiros passos é mais fácil (mas não menos importante), mas, depois, há que se mudar as  “operações”  e, nesse momento, torna-se imprescindível a tal da “métrica”. Quem nunca ouviu a frase “sem métrica não há gestão”?

Não há como fazer gestão (ter rotina) baseada unicamente em sentimentos, desejos  e visões. Há que se apoiar as decisões em fatos confiáveis, provenientes tanto das empresas como da sociedade. E o que é, então, essa métrica? São indicarores e valores de referência. Mas atenção: é muito fácil chegar a métricas erradas, caso se faça uma análise superficial da situação.

Um pouco sobre indicadores: Para começo de conversa, vamos a uma citação: “Na prática, nem sempre o indicador de maior validade é o mais confiável; nem sempre o mais confiável é o mais inteligível; nem sempre o mais claro é o mais sensível; enfim, nem sempre o indicador que reúne todas estas qualidades é passível de ser obtido na escala espacial e periodicidade requerida“. (Jannuzzi, Mello, Tibau e Arruda - Curso Indicadores sociais e políticas públicas. Citado por Vilarelli, 2005). Os indicadores, portanto, são meios para obtenção de informações objetivas, qualitativas ou quantitativas.

Indicadores são parte de um processo de busca de respostas a questões formuladas sobre o desempenho ou resultados esperados e não podem ser  pensados em si, de forma isolada. A partir do trabalho de Vilarelli (2005), pudemos adaptar  quais seriam as características de um bom sistema de indicadores:


É coerente com a visão que a empresa tem dos objetivos centrais e das dimensões  do manejo florestal;

Considera as particularidades do contexto – em especial social e ambiental;

Define indicadores que captam os efeitos atribuíveis às ações, aos serviços e aos produtos gerados pelo manejo florestal;

Tem indicadores bem definidos, sem ter pretensão de dar conta da totalidade;

Está orientado para o aprendizado, estimulando novas reflexões;

Prevê e especifica os meios de verificação que serão utilizados, bem como os responsáveis pela coleta de informação, pela análise e pela tomada de decisões;

É simples, capaz de ser compreendido por todos, e não apenas por especialistas, sem ser simplista;

• É viável do ponto de vista operacional e financeiro;

• Fornece informações relevantes e em quantidade que permitem a análise e a tomada de decisão;

Aproveita as fontes confiáveis de informação existentes, poupando recursos, tempo e energia do projeto;

• É progressivamente internalizado na organização e apropriado por todos, no cotidiano das ações que desenvolvem;

Como falar é fácil, difícil é fazer, vamos apresentar um exemplo de indicador e métrica:
1. Meta: plantar 300 hectares de mata nativa em 2014. Para cumprir essa meta, há que se fazer um plano de ação com os hectares a serem plantados mês a mês. Portanto temos um indicador = hectares plantados por mês e o item de verificação, que é o número de hectares planejados para serem plantados por mês . E, assim , mês a mês, faz-se o acompanhamento.

2. Meta: Cumprir 100% do planejamento ambiental em todas as fazendas com operações de colheita em 2014. Observem que essa meta pressupõe:
a. A existência de um procedimento para o planejamento ambiental de cada fazenda;
b. Que, evidentemente, esse planejamento deve ser concomitante ao planejamento da colheita;
c. Que haverá uma análise pós-colheita, na qual vai ser verificado se o que foi planejado foi realmente realizado.

3. Meta: Podem-se usar também indicadores para criar novos procedimentos: Implantar um sistema de atendimento de demandas da sociedade até outubro de 2014.  Essa meta exigirá um plano de ação com todos os passos até que se alcance a implantação do sistema, e, nesse caso, o que se monitora mês a mês é a % do plano cumprida.

Pode-se criar também um índice em que várias verificações conjuntas fazem mais sentido, como o índice de desempenho ambiental, ou também o índice de desempenho socioambiental. Por exemplo, um índice de desempenho socioambiental pode ter metas sobre:
1. Desempenho nas auditorias externas;
2. Número de reclamações recebidas;
3. Tempo de resposta para as demandas das comunidades locais.

Exemplos de metas podem ser consultados nos relatórios de sustentabilidade das empresas, em especial aquelas que fazem seus relatórios com base no GRI (Global Reporting Initiative), que promove a elaboração de relatórios de sustentabilidade e busca uma economia global sustentável, em que organizações podem medir seus desempenhos e impactos econômicos, ambientais, sociais, bem como os relacionados à governança, de maneira responsável e transparente.