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Nilton Cesar Fiedler

Professor de Mecanização Florestal da UF-ES

Op-CP-51

Efeitos dos gases de exaustão das máquinas de colheita florestal na saúde humana
Com a problemática da consequência dos gases de efeito estufa em relação às mudanças climáticas globais que estão sendo bastante discutidas no cenário mundial, a quantificação das emissões de gases poluentes no processo produtivo é de grande importância para o setor florestal, visto que o mercado exige cada vez mais das empresas uma produção de bens e de serviços menos poluentes.
 
Durante o período da Revolução Industrial, a emissão de gases poluentes no Brasil tinha como principal fonte as atividades industriais (classificadas como fontes estacionárias). No entanto, com o surgimento dos motores de combustão interna, como no caso das máquinas florestais, a maior fonte geradora de emissão de poluentes atmosféricos nas cidades passou a ser os veículos.
 
Para o funcionamento de uma máquina, é necessária a ocorrência da combustão, que consiste na combinação química do oxigênio do ar com o carbono e o hidrogênio do combustível, havendo liberação de calor e, consequentemente, aumento da pressão exercida pela mistura gasosa sobre a cabeça do êmbolo do motor, gerando o trabalho mecânico. Assim, além da potência gerada, a combustão nos motores resulta na formação de gases de escape nocivos e na geração de calor ou energia não aproveitada. 
 
De modo geral, as emissões de gases nocivos à saúde humana pelas máquinas de colheita florestal são provenientes dos escapamentos das máquinas, dos desgastes de pneus, freios e embreagem e emissões evaporativas de combustíveis, associadas ao armazenamento e ao abastecimento de combustíveis. Os gases nocivos emitidos pelo tubo dos escapamentos das máquinas são constituídos pelos produtos gerados durante a reação de combustão incompleta que ocorre no motor. Na queima do combustível, os gases de exaustão são constituídos basicamente por monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos (HC) e dióxido de enxofre (SO2), que são considerados gases poluentes.
 
O monóxido de carbono (CO) é um gás tóxico, que resulta da combustão incompleta do carbono em combustíveis. Esse gás é absorvido principalmente pelas vias respiratórias. Uma vez inalado, é rapidamente absorvido pelos pulmões e, em circulação, liga-se de maneira estável com a hemoglobina, impedindo o transporte do oxigênio, podendo causar hipóxia tecidual (insuficiência respiratória). Por isso a exposição ao monoxido de carbono está também associada a alguns prejuízos à saúde humana. 
 
Podemos citar a sensação de mal-estar, cefaleia, fadiga, náuseas, vômitos, fraqueza, distúrbios visuais, vertigens, hemorragias na retina, edema pulmonar e diminuição da tolerância ao exercício físico. Em estudo realizado pelo Laboratório de Colheita, Ergonomia e Logística Florestal da UF-ES (LABCELF), verificaram-se em algumas máquinas florestais emissões variando entre 200 e 300 ppm de CO. Segundo algumas literaturas consultadas, emissões a partir de 9 ppm já podem ocasionar efeitos à saúde humana. 
 
O dióxido de carbono (CO2) pode causar distorções da visão, perda auditiva, sonolência, tontura, dor de cabeça, aumento da transpiração, falta de ar, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Esses efeitos dependerão da concentração e do tempo de exposição ao gás poluente. É aceitável uma exposição a concentrações de até 1,5% de gás carbônico no ar. A partir dessa concentração, esse gás pode se tornar nocivo à saúde humana. Nesse mesmo levantamento do LABCELF, verificaram-se emissões variando entre 2,9 e 3,7% nas máquinas de colheita florestal.
 
O termo “óxidos de nitrogênio” (NOx) se refere à soma de monóxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2). No motor, os NOx são formados devido às reações do nitrogênio presente no combustível e ao oxigênio do ar. A exposição do ser humano ao NOx faz aumentar a sensibilidade à asma e à bronquite, baixar a resistência às infecções respiratórias e, ao penetrar no organismo, pode levar a processos carcinogênicos. Além disso, a contaminação por NOx pode causar traqueítes, bronquites crônicas, enfisema pulmonar (que causa a perda de capacidade respiratória e insuficiência de oxigenação) e aumento da dificuldade de respiração.
 
Para a redução da emissão de NOx, o setor de mecanização florestal deve investir em tecnologias, como a recirculação dos gases de escape – EGR (Exhaust Gas Recirculation). Nela, parte dos gases de exaustão é reutilizada na mistura diesel e ar durante a combustão. Outra técnica para reduzir as emissões é o sistema de Redução Catalítica Seletiva (SCR), por meio da utilização do ARLA 32, que possibilita uma redução da emissão de NOx em até 60%.
 
Os hidrocarbonetos são formados pela decomposição térmica do combustível. Podem ser formados junto às paredes da câmara, onde a temperatura não é suficiente para completar a reação e em regiões da câmara em que a mistura é excessivamente rica ou pobre. Esses gases são normalmente encontrados em concentrações baixas, suspensos na atmosfera, e seus principais efeitos na saúde humana estão relacionados a distúrbios no sistema respiratório. 
 
Os danos causados à saúde humana pelo SO2 estão associados à sua solubilidade nas paredes do trato respiratório. Esse gás se dissolve na secreção úmida, chegando às vias inferiores, podendo causar irritação nos olhos, nariz e garganta, além de doenças respiratórias, alterações na defesa pulmonar e agravamento de doença cardiovascular já existente. 
 
A concentração de dióxido de enxofre na atmosfera a partir de 20 μg.m-³ de ar pode ser considerada poluente para a saúde humana. Como alternativa para a redução da emissão de SO2, podem-se utilizar combustíveis com menor teor de enxofre, tais como o óleo diesel S10, que, além de serem menos nocivos, aumentam a durabilidade do motor.
 
Além dos gases de exaustão, ocorre também a liberação do material particulado (partículas que ficam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem), que causa efeitos nocivos à saúde humana. O tamanho da partícula interfere no local e na distribuição nas vias aéreas. 
 
As partículas grossas se depositam na porção superior das vias aéreas, enquanto as menores são depositadas no trato respiratório inferior, podendo atingir alvéolos pulmonares. Dessa forma, quanto menor o tamanho das partículas, maior será o efeito sobre a saúde, causando risco de ocorrência de bronquite, tosse seca, asma, câncer pulmonar, pneumonia, doenças respiratórias e cardiovasculares e a diminuição da função respiratória.
 
Com o aumento da mecanização no processo produtivo florestal, pode-se fazer com que aconteça um acréscimo das concentrações de gases poluentes emitidos por essas máquinas. Sendo assim, esse aumento das concentrações de gases poluentes na atmosfera pode acarretar inúmeros riscos à saúde humana. Em virtude desses possíveis riscos, existe como desafio para as empresas florestais e instituições de pesquisa o investimento em novas tecnologias, visando a uma menor emissão de poluentes.
 
Aliadas a isso, as legislações ambientais são cada vez mais exigentes, fazendo com que surjam no mercado máquinas mais eficientes e menos poluentes. Entretanto, no setor florestal brasileiro, essas tecnologias ainda são incipientes. Em um futuro bastante próximo, o cenário é bastante promissor, com a utilização de motores menos poluentes, movidos a energias limpas e a híbridos. A redução da exposição dos funcionários aos gases poluentes das máquinas diminui os gastos com saúde, reduz o absenteísmo e melhora a qualidade de vida dos trabalhadores.