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Luiz Gylvan Meira Filho

Pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP

Op-CP-16

É importante adotar medidas para conter as emissões

Não entendo por que se diz meio ambiente, quando a palavra ambiente já expressa, de forma mais concisa, o conceito de “aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas”. Há algum tempo, o ambiente em questão era o do ambiente natural, descrito pela climatologia, oceanografia, pedologia, botânica, etc, ou em geral, os ramos do conhecimento dedicados a descrever o estado do ambiente, implicitamente aceito como estático.

A preocupação das últimas décadas está associada ao fato de que a humanidade demonstra uma capacidade crescente de modificar o ambiente, e, em muitos casos, o ambiente modificado é menos propício para a vida humana (e de outras espécies). Não somente a intensidade dos impactos das ações humanas sobre o ambiente tem crescido, mas sua extensão geográfica se ampliou e hoje abrange toda a Terra.

Os exemplos apareceram aos poucos: o estudo, na década de 1980, sobre o inverno nuclear, a destruição da camada de ozônio por substâncias sintetizadas pela nossa indústria, e, finalmente, a mudança do clima.
É interessante notar que a Conferência de Estocolmo, em 1972, foi intitulada de “O Homem e o Meio Ambiente”, concentrando suas atenções em problemas locais ou, no máximo, regionais.

Passou desapercebido um relatório da Academia de Ciência da Suécia, de 1971, sobre “Impacto do Homem sobre o Clima”, no qual a questão do aquecimento global figurou. Somente em 1992, com a Conferência sobre “Meio Ambiente e Desenvolvimento”, que o tema de impactos do homem em dimensão planetária recebeu a atenção devida. Ainda assim, o produto da Conferência, a Agenda 21, trata, em geral, dos problemas ambientais, sem um foco nos desafios globais.

É sintomático que as duas grandes Convenções abertas à assinatura em 1992, sobre Mudança do Clima e Biodiversidade, foram negociadas em processos separados da redação da Agenda 21, por mandato direto da Assembleia Geral da ONU. Embora a base física da mudança do clima pelo aquecimento global causado pelo aumento do dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera já fosse bem conhecida há algum tempo, a decisão política de fazer algo a respeito foi adiada até que se pudesse afirmar, o que ocorreu em fevereiro de 2007, que a mudança do clima já havia sido detectada de forma inequívoca.

Para lograr essa detecção, foi necessário esperar que a temperatura média global da superfície aumentasse mais do que a variabilidade natural e que essa última fosse melhor explicada pelos modelos do clima. A implicação dessa decisão política, que aparentemente é generalizada no mundo, é que as emissões globais deverão ser reduzidas em algo como 60%, em relação aos níveis de 1990, para evitar que o clima continue mudando.

A única liberdade à nossa disposição é a escolha de quando iniciar o processo. Se o fizermos logo, ainda será possível limitar a mudança do clima a 2 ºC. Se esperarmos poucas décadas, 3 ºC e assim por diante. Os danos causados pela mudança do clima tendem a ser maiores se estabilizarmos o aumento de temperatura em níveis mais altos.

As medidas para limitar as emissões de gases de efeito estufa, diferentemente do que é dito de forma apressada, não deverão criar constrangimentos para o desenvolvimento econômico do Brasil. O potencial de ampliação significativa de produção de biocombustíveis, desde o etanol já maduro e com potencial de expansão de área plantada e de desenvolvimento de tecnologias ainda mais avançadas do que as atuais, o biodiesel ainda em fase incipiente e, portanto, com grande potencial de crescimento, e o biocombustível sólido, que é o carvão vegetal oriundo de florestas plantadas, na produção de ferro e aço, devem constituir fatores de desenvolvimento econômico para o país.

Registre-se que a pecuária brasileira, fonte de emissão de metano, é frequentemente citada como um fator de mudança do clima, cerca de seis vezes maior do que realmente é, pelo fator errôneo de equivalência entre a emissão do metano e aquela do dióxido de carbono. Concordo com a avaliação do editorial do jornal O Estado de S. Paulo, de que não faz sentido esperar pelas grandes negociações de tratados internacionais sobre as responsabilidades de cada país pelas medidas necessárias para conter as emissões, sendo importante adotar, desde já, as medidas necessárias e, com isso, influenciar as negociações internacionais, para que a contribuição que o Brasil pode dar para resolver o problema da mudança do clima seja refletida em remuneração condizente com a magnitude dessa contribuição.