Coautores: Damáris Gonçalves Padilha e Valmir Werner, respectivamente, Professora de Floresta de Precisão e Professor de Máquinas e Mecanização Agrícola da UF-SM
Com o passar do tempo, acompanhamos significativas mudanças no setor florestal, que, em sua maioria, vêm marcadas por quebras de paradigmas aliadas a muito trabalho das empresas e das instituições de ensino e de pesquisa. A evolução traz consigo várias dúvidas e incertezas que podem ser minimizadas ao inserirmos táticas de controle e gerência nos processos de planejamento.
No planejamento florestal, essa evolução demanda de novas estratégias que têm originado um novo panorama na gestão da cadeia produtiva, focando, basicamente, nas exigências do mercado consumidor com relação à qualidade e à disponibilidade dos produtos florestais. Os processos de certificação florestal também têm pressionado a reorganização das empresas do setor, estabelecendo padrões para melhoria na gestão e na qualidade em seus processos.
Nesse contexto, o que se observa é o franco desenvolvimento de modelos de planejamento florestal, apoiados no surgimento de cada tecnologia emergente no mercado, que visam contribuir como aporte facilitador das operações. O planejamento das operações florestais transcendeu para a era digital, trazendo consigo demandas e desafios. Com o preceito de preparar os empreendimentos, em um determinado período de tempo, seguindo planos e métodos, o planejamento, na atualidade, vem potencializando a integração de diversos setores, tornando-se um facilitador para a tomada de decisões.
Ao mesmo tempo, proporciona não apenas a possibilidade de antever restrições e futuras falhas no processo produtivo, mas também otimizar as operações, melhorar a produtividade, reduzir os gastos, organizar a manutenção, incrementar a lucratividade operacional e, ainda, contribuir para a saúde e bem-estar de todas as pessoas envolvidas no processo.
Com relação às evoluções das operações mecanizadas da colheita florestal no País, estas contribuíram para que assumíssemos representatividade junto ao mercado internacional de produtos de origem florestal. Isso porque o mercado tem solicitado que os gestores de colheita interajam de forma dinâmica nos setores técnicos, ambientais e sociais, pois se tem a compreensão de que colher florestas não é somente dispor um modal no campo, organizar uma estrutura física ou planejar estratégias.
O empreendimento florestal requer a excelência na gestão das operações, logo, a meta é realizar um excelente planejamento, zelar nos detalhes e inovar sempre. Estar entre os líderes do mercado mundial não tem sido uma tarefa fácil, pois exige trabalho e dedicação constante de todos os setores, para assim manter os projetos em plena atividade. Com o entendimento de que os pequenos detalhes, hoje, fazem a diferença, o microplanejamento tem se apresentado como uma ferramenta importante no processo produtivo como um todo, ao apontar as qualidades e as possíveis falhas nas operações, pois visa ao melhor aproveitamento do tempo e ao aumento da produtividade.
Nesse enfoque, o estudo de tempos e de movimentos possibilita: determinar o tempo-padrão que se deseja alcançar em uma tarefa específica, indicar a melhor forma de executar esse trabalho, padronizar esse trabalho dentro de suas limitações e, ainda, orientar os operadores através de treinamentos, até que as metas estipuladas pela empresa sejam alcançadas. Na prática, com esse estudo, passamos a conhecer os tempos investidos na operação e obteremos os indicadores de produtividade média, rendimento operacional médio; grau de disponibilidade mecânica e eficiência operacional, considerados básicos para manter um ativo de colheita florestal.
No cenário atual, não podemos deixar de mencionar a evolução que ocorre junto aos operadores, que passaram a ser gestores das máquinas com sistemas complexos, demandando eficiência e treinamento, pois não basta apenas operar. É também necessário ser mantenedor, gerir os processos de manutenção de qualidade total e, ainda, ser capaz de transferir conhecimento.
Em função de normas e legislação cada vez mais restritas, a padronização da produção de máquinas é uma realidade cada vez mais presente no meio. A eletrônica embarcada exige dos fabricantes essa padronização para possibilitar a comunicação entre os diversos componentes, atendendo à padronização Isobus.
No Brasil, a partir de janeiro deste ano, entrou em vigor a lei que estabelece os limites máximos de emissão de poluentes nos motores fase Proconve Mar-1, com potência igual ou superior a 75 kW (101 cv) até 560 kW (761 cv) (Mar-1 2011). Para atender aos limites estabelecidos, são necessários motores com injeção eletrônica, sistemas de recirculação de gases do escapamento (EGR) e redução catalítica seletiva (SCR), bem como combustível de melhor qualidade.
Ainda na operação, não podemos deixar de mencionar o controle do tráfego das máquinas dentro do talhão. Entender e planejar o deslocamento das máquinas pode minimizar o agente negativo e a compactação do solo para a próxima etapa produtiva. Se o microplanejamento for capaz de fazer essa leitura de forma pontual e geoespacializada, as próximas interferências serão locais e precisas.
Parece pouco, mas, assim, estamos entrando na engenharia de processos conhecidos, em que podemos realizar interferências setorizadas ou pontuais, conforme demandas em cada área, compreendo, enfim, a dinâmica e a complexidade da variabilidade espacial do empreendimento (floresta de precisão).
Acompanhando a evolução do setor, podemos citar, ainda, tendências e expectativas do mercado, como automação de processos; controles pontuais; controle diário de informações em tempo real, com acompanhamento do ciclo efetivo; reconhecimento de alta precisão da variabilidade espacial dos indicadores biofísicos, antrópicos e socioeconômicos; e simuladores de realidade virtual e de cenário futuro das condições dos ativos. Essa evolução, contudo, considera a execução de um acompanhamento pleno das necessidades de mudanças de estratégias, as quais devem preconizar a viabilidade dos empreendimentos.
Aliadas a essa premissa, as geotecnologias têm disponibilizado uma gama crescente de equipamentos, ferramentas e metodologias inovadoras para a compreensão da complexidade que envolve todo o processo de planejamento florestal. Apesar de o Brasil estar na lista dos maiores produtores de matéria-prima advinda de floresta plantada, grande parte dos empreendimentos no País apresentam baixa precisão nas atividades operacionais, desde as atividades pré-implantação, implantação e manejo até as operações de colheita.
É compreensível que os questionamentos em relação à viabilidade de técnicas e da tecnologia estejam sempre presente, uma vez que estas tenham avançado a passos largos, exigindo daqueles que delas necessitam visão e coragem para ousar. Isso porque existem situações de incertezas relativas à precisão e à eficácia de algumas das informações utilizadas como parâmetros para a tomada de decisão. Cabe destacar que as incertezas tendem a ser temporárias. Na medida em que os estudos, os processos, as técnicas e os equipamentos são consistidos e otimizados, sua aplicabilidade se torna efetiva e eficiente, repercutindo na evolução da gestão e do gerenciamento das atividades florestais.
Diante desse cenário de transformações e preocupados com a exigente demanda do mercado de trabalho no setor florestal, grande parte da academia tem buscado inovar não apenas nas temáticas abordadas em sala de aula, mas também no perfil do profissional engenheiro florestal que será disponibilizado ao mercado. É salutar e primordial que o estreitamento empresa-academia seja constantemente estimulado e fortalecido, visto que muito dessa evolução já está em prática no campo.
Portanto temos a certeza de que não há como garantir formação de qualidade se desconsiderarmos as transformações e as tendências estabelecidas pelo setor produtivo e pelo mercado consumidor; e é acreditando nessa relação que o nosso grupo de pesquisa tem trabalhado.