Considerando o quão relativamente recente é o tema “Internet das Coisas”, incluindo o cenário de hiperconectividade com a internet de ultravelocidade, vale uma contextualização conceitual, geral sobre o tema, que é baseado na relação estreita entre componentes, como objetos ou dispositivos inteligentes, a massa de dados gerada por eles (Big Data) e o processamento em nuvem.
A “Internet das Coisas” reconhecida pela sigla (IoT – Internet of Things), em um dos conceitos admitidos, pode ser descrita como a interação contínua entre diversos aparelhos, máquinas e sensores dotados de inteligência artificial e também pessoas, sendo essa interação, possível através de algoritmos, responsável pela tomada de decisões autônomas, pautando avaliações e ações que, antes, eram tomadas exclusivamente por humanos.
Muitas pessoas já devem ter se deparado com aquele exemplo da “geladeira do futuro”, que vai detectar quando determinado alimento está chegando próximo ao prazo de validade ou o estoque está acabando e incluí-lo como item em uma lista de compras. Pois bem, esqueçam isso, pois esse é apenas um exemplo simplório das muitas possibilidades que virão com a IoT.
A internet das coisas vai muito além do que uma geladeira conectada; essa é uma cultura recente e que, como no restante da sociedade, na área florestal trará impactos que ainda não são inteiramente conhecidos; ademais, toda essa hiperconectividade entre aparelhos, sensores, máquinas e pessoas deve alterar a forma como agimos e tomamos decisões.
A IoT é uma grande promessa para aplicações florestais digitais. Eficientes sistemas de gestão podem ser desenvolvidos para o gerenciamento de recursos e tomada de decisões, como no inventário florestal, sensoriamento remoto e em sistemas de alerta e prevenção a incêndios.
Aliás, incêndios florestais são uma ameaça real para o manejo sustentável de florestas nativas e plantadas, e a tecnologia da IoT em ambiente florestal pode ser usada para identificar ou diagnosticar, comunicar, analisar e tomar decisões. Contudo as aplicações dessa tecnologia no manejo florestal carecem de sistemas bem integrados para a detecção em tempo real.
Além disso, os eventos climáticos impactam as estradas, os sistemas florestais que também são vulneráveis, por exemplo, a inundações, escorregamento e deslizamentos. Nesses casos, uma previsão precisa desses eventos, por meio do sensoriamento remoto e das comunicações da IoT, torna o monitoramento uma ferramenta útil à sustentabilidade e à otimização das operações, mas, para isso, há a necessidade de soluções com estações conectadas de monitoramento do clima, umidade, pressão atmosférica e outros parâmetros integrados a uma plataforma de nuvem para a tomada de decisão, em tempo real, na gestão de áreas florestais.
A gestão de plantios comerciais de florestas plantadas ou o manejo de florestas naturais possuem as melhores possibilidades de apropriação de ganhos e avanços com a utilização de ferramentas que conectem diferentes dispositivos e sensores. Devemos ter, a médio prazo, uma silvicultura digital que ligará todas a facetas de informações florestais por meio de uma rede digital organizada.
Existem muitos desafios, incluindo mudanças climáticas, distúrbios causados pelo homem, incêndios, controle de espécies invasoras e controles ligados a gestão operacional de ativos. Um exemplo em que a internet das coisas poderá ser muito útil é auxiliar em desafios que impactam a produtividade dos plantios na gestão das florestas em uma zona de interface chamada de wildland-urban, que pode ser traduzido como as zonas ou regiões em que as florestas estão próximas a centros urbanos e comunidades.
Esta mistura de ambientes ou proximidade é, por exemplo, uma importante fonte de incêndios florestais ou outras formas de degradação. Para superar os desafios de uma gestão que avança em mecanização e automação, serão necessários esforços em diferentes níveis para que a tecnologia possa preencher as lacunas no gerenciamento de dados florestais, fornecendo dados confiáveis que podem ser usados para criar mapas e outros relatórios mais avançados.
Objetivamente, alguns exemplos onde a “internet das coisas” poderá ser mais promissora em suas contribuições a médio prazo:
• Monitoramento das condições sanitárias de florestas, a partir da detecção de mudanças nos metabólicos celulares vitais, para a identificação de estresse precoce das árvores, o que pode auxiliar a definição de ações e opções de tratamento;
• Monitoramento de estoques florestais e aprimoramento das predições;
• Gerenciamento de dados climáticos e riscos de incêndios;
• Estudos dos padrões fenológicos para a orientação de materiais genéticos apropriados aos locais de plantios, em função das mudanças de produtividade;
• Ampliação da capacidade de coleta e processamento de dados das frentes de colheita para a otimização dos processos em logística;
• Gestão das propriedades e da terra, com a
detecção de atividades ilegais, poderão ser feitas por meio de sensores com microfones que
podem detectar sons relacionados a motosserra,
circulação de tratores e movimentação de transporte. Essas informações, por exemplo, poderão ser comunicadas em tempo real a um centro de proteção, vigilância e fiscalização;
• Sensores nos solos poderão monitorar como as atividades de máquinas estão alterando as propriedades físicas dos solos, (como compactação, tamanho de poros e densidade), pelo estresse mecânico produzido pelas máquinas.
Esses são exemplos da contribuição da Internet das Coisas para o setor florestal que tendem a se consolidar com o avanço da transformação digital nas atividades do dia a dia. Não se trata mais de uma sensação difusa sobre o avanço tecnológico que estamos vivenciando, mas, sim, de uma certeza, de que uma revolução deve acontecer logo à frente.