A nossa relação com as florestas obedece a uma necessidade ancestral. No entanto, ao longo dos últimos séculos, o Homo sapiens, exercendo a sua pretensa condição de “espécie superior”, vem suprimindo os ambientes naturais, levando-os a um processo denominado fragmentação. Entre os fragmentos remanescentes, surgem lotes, casas, bairros e cidades. Represas, minas, fábricas e estradas. Roças, pastos e plantações.
A depender do tamanho, da distância que guardam entre si ou daquilo que surge no espaço que os separam, esses fragmentos de vegetação nativa podem não garantir mais a conservação da biodiversidade que ainda abrigam ou dos serviços ecossistêmicos que prestam. Nesse ciclo negativo, perdas geram mais perdas, resultando em sistemas naturais e econômicos menos resilientes.
A sociedade e a sua economia, porém, confrontadas pelos desafios climáticos, ambientais, energéticos, hídricos e sanitários, parecem ter despertado para os riscos que correm e, juntando-se aos conservacionistas (seres que possuem o estranho comportamento de gostar da natureza “de graça”), agora se unem para dar força a uma importante tendência para o enfrentamento desses desafios, o que também representa grandes oportunidades.
Essa tendência contempla não apenas a tarefa de estabelecer estratégias mais eficientes de conservação e do adequado uso dos recursos naturais, mas também pressupõe a necessidade da implantação de estratégias de restauração ambiental de parte do que foi perdido, de reconexão dos fragmentos remanescentes e, tão importante quanto, de reaproximação da nossa espécie com a natureza.
E é possível que, mais uma vez, as empresas de base florestal se tornem a ponta de lança de um grande movimento. Isso pode acontecer por meio da conjunção de algumas estratégias já disponibilizadas pelas ciências sociais, econômicas e da conservação. A primeira delas é manejarmos os fragmentos remanescentes de forma mais eficiente. Isso significa a redução da pressão antrópica não apenas pela intensificação da vigilância e do monitoramento clássico, mas também pelo desenvolvimento da bioeconomia em áreas de reserva, educação para sustentabilidade, ecoturismo e envolvimento comunitário.
Possivelmente, em um futuro próximo, sejamos capazes de monetizar valores semelhantes nas áreas nativas e na base florestal plantada. E, já que podemos manejar melhor as áreas de reserva, incluindo as já identificadas como áreas de alto valor de conservação, por que também não incentivamos a criação de mais RPPNs – Reservas Particulares do Patrimônio Natural nas regiões onde já atuamos, de forma a oferecer grande reforço ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação?
Na sequência, entram em cena a presença e a capilaridade nos territórios e a consequente capacidade de mobilização dos stakeholders das empresas, de forma a permitir arranjos que promovam a reconexão dos fragmentos por meio da restauração florestal e da implantação de corredores ecológicos, não apenas em suas próprias áreas, mas também nas regiões de influência direta. Além de possibilitar o melhor trânsito da biodiversidade, isso permitiria a ativação de uma economia florestal baseada na cadeia completa da restauração.
O ciclo relativamente longo da atividade de silvicultura possibilita a adoção de práticas de manejo diversificadas, ao menos nas áreas caracterizadas como prioritárias para conservação. Essa ação, em adição às reservas e aos corredores, conferirá às plantações florestais um ambiente mais seguro em relação à ocorrência de pragas e doenças, além de torná-las mais permeáveis para a biodiversidade.
Por fim, poderemos oferecer grande contribuição para a reconexão do ser humano à natureza, tornando nossas áreas florestais mais amigáveis e acessíveis para as comunidades, criando uma cultura florestal transformacional voltada para a conservação, a saúde e a qualidade de vida e para o enfrentamento dos grandes desafios da sociedade.
Movidos pela constante inquietação e visão de futuro, a Suzano anunciou, recentemente, o seu compromisso para a conservação da biodiversidade. Ele expressa a tarefa de reconectar 500 mil hectares em áreas prioritárias para a conservação, nos biomas mata atlântica, cerrado e Amazônia até 2030. Elaborada em conjunto com o Instituto Ecofuturo, essa meta deverá conter boa parte dos elementos expostos acima. Certamente, será um enorme desafio, mas à altura da nossa responsabilidade e do nosso propósito.