Coordenador e Líder do PROTEF/IPEF - Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal, respectivamente
Quando abordamos assuntos relativos à proteção florestal em florestas plantadas, a preocupação é a ocorrência de pragas exóticas, que encontram nessas florestas todas as condições necessárias para seu total desenvolvimento, sem a ocorrência de controladores naturais adaptados. Em relação a pragas exóticas de eucalipto, dados científicos mostram um expressivo aumento na dispersão desses insetos ao redor do mundo, principalmente após a criação da OMC – Organização Mundial do Comércio –, no início da década de 1990.
A partir desse período, o trânsito de pessoas e mercadorias só tem aumentado, auxiliando naturalmente na dispersão e introdução destas novas pragas e doenças. Diferentemente de países como Estados Unidos e Canadá, o Brasil não possui uma estatística oficial sobre a ocorrência de pragas de cultivos florestais no país. O desconhecimento dessas informações leva a um cenário perigoso, onde é impossível mensurar os reais impactos das pragas sobre os cultivos e acompanhar sua flutuação e áreas preferenciais de ocorrência ao longo do tempo. Buscando trazer mais informações sobre esse assunto, o IPEF promove, anualmente, um levantamento da ocorrência de pragas e doenças nos cultivos de pínus e eucalipto, dentro de sua rede de atuação.
Na série histórica de 10 anos, a partir de 2009, as pragas exóticas (psilídeo-de-concha, percevejo-bronzeado, vespa-de-galha e gorgulho-do-eucalipto) são as que têm causado maiores danos. Em termos relativos, até 2017, a média de área atacada era de 14%, com o maior valor registrado em 2012 (23%). Chamam atenção os números crescentes, a partir de 2016, saindo de 9,8% para 31% de área atacada relativa, maior valor registrado nesse levantamento. A principal causa desse aumento está relacionada aos surtos com lagartas desfolhadoras, principalmente na região Nordeste do País.
Para pragas nativas, como as formigas cortadeiras e as lagartas desfolhadoras, também houve avanços. Em plantios florestais, o controle de formigas é imprescindível, e, nas últimas décadas, investiu-se no desenvolvimento de sistemas de monitoramento, gestão das informações, agilidade na tomada de decisão e tecnologia de aplicação de formicidas.
Porém ainda estamos restritos a poucos ingredientes ativos, sem novas opções, há mais de 20 anos. No caso das lagartas desfolhadoras, há um leque de opções muito maior, baseado, principalmente, em bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensis e inseticidas reguladores de crescimento de insetos, além de espécies de parasitoides de pupas e percevejos predadores. Em um cenário hostil e desfavorável, com tendências de alterações climáticas e introduções cada vez mais frequentes de novas pragas, nunca foi tão importante o papel da pesquisa na busca por métodos de controle cada vez mais eficientes.
O controle químico ainda é importante dentro do manejo de pragas florestais, devido à ação rápida e eficiente para diversos grupos de pragas. Nesse método de controle, as principais pesquisas são pela busca por novas moléculas com diferentes métodos de ação e mais seguras ao homem e ao ambiente, propiciando, em alguns casos, a seletividade aos inimigos naturais. Contudo o ritmo de descoberta de novos ingredientes ativos vem caindo, e o enfoque fica naqueles que conseguem controlar bem pragas que ocorrem em diferentes culturas, aumentando sua fatia de utilização e posicionamento em diferentes mercados.
Do outro lado, o controle biológico de pragas tem ganhado cada vez mais destaque desde a última década. Apesar de sua utilização não ser uma novidade em florestas plantadas, há os casos clássicos da utilização do nematoide Deladenus siricidicola para controle da vespa-da-madeira em pínus e dos predadores e parasitoides para lagartas desfolhadoras de eucalipto. Porém há expansão pela busca de produtos e uso do controle biológico no campo, e sua atração a novos empreendedores tem gerado importantes desenvolvimentos nessa área.
A demanda por agentes de controle biológico para plantios florestais é crescente, os principais entraves atuais estão relacionados aos modelos de criação que necessariamente dependem da manutenção das pragas-alvo em laboratório; devido à especificidade de muitos desses inimigos naturais, a utilização de hospedeiros alternativos não é possível.
O aumento do uso do controle biológico para pragas florestais passa, necessariamente, pela maior disponibilidade de agentes de controle biológico no mercado. Nesse contexto, temos dado ênfase a linhas de pesquisa para geração de informações que suportem o desenvolvimento de criações massais para os principais inimigos naturais de pragas do eucalipto, como Psyllaephagus bliteus, Cleruchoides noackae, Anaphes nitens e Selitrichodes neseri.
Os trabalhos desenvolvidos por essas linhas de pesquisa estão proporcionando o aumento da utilização do controle biológico no campo, o que diretamente irá levar a uma redução das intervenções químicas, proporcionando cenários produtivos mais seguros e em consonância com os critérios de certificações, como FSC e Cerflor, além de reduzir as perdas causadas pelas pragas, trazendo mais competitividade a nossas florestas.
Esse desenvolvimento tem levado a ações mais arrojadas, como a iniciativa liderada pelo Ipef para construção de uma biofábrica para produção desses agentes para as empresas associadas. Ainda dentro do controle biológico, a adoção de tecnologias para liberação de inimigos naturais também tem ajudado a impulsionar esse mercado. Com o aumento da produção de agentes de controle biológico, é recorrente a pergunta sobre qual a melhor forma de liberá-los. Nesse contexto, tem se popularizado o uso dos VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados), popularmente conhecidos como drones.
O mercado e o ritmo de desenvolvimento de drones são enormes, atualmente é possível encontrar uma grande variedade de modelos com inúmeras possibilidades de adaptação com mecanismos de liberação, sensores, etc. Há muitas informações sobre o uso de drones no setor florestal. Empresas especializadas no fornecimento desses serviços vêm apresentando resultados consistentes e confiáveis, em áreas que vão além do controle de pragas.
Além desses dois pilares tradicionais do controle de pragas, temos acompanhando outras tecnologias que vêm sendo utilizadas e pesquisadas pela agricultura. Outra tendência é o uso da biotecnologia, iniciada pelos organismos geneticamente modificados, mas que tem recebido outras ferramentas que merecem destaque, como o caso da edição gênica, (exemplo, a técnica CRISPR-CAS 9) e a utilização do mecanismo de RNA interferente (RNAi). Essas novas ferramentas trazem consigo não somente as vantagens individuais, mas também a possibilidade de integração sinérgica com demais técnicas de controle químicas, biológicas, comportamentais e etc.
Com a evolução natural da ciência, espera-se que, cada vez mais, existam oportunidades e novas tecnologias a serem exploradas. As tendências para a evolução do manejo integrado de pragas em cultivos florestais estão cada vez mais específicas, explorando possibilidades e características inerentes a cada espécie florestal ou espécie de praga, ou seja, buscando cada vez mais soluções customizadas aos produtores florestais.
Nesse contexto, abrem-se novas oportunidades para a integração de pesquisas de áreas de conhecimento antes isoladas e agora consideradas integradoras. Isso certamente nos levará a um novo patamar de produtividade sustentável, reforçando ainda mais a missão de incentivo às pesquisas pelo nosso setor, que sempre se destacou como pioneiro, arrojado e inovador.