Presidente do Conselho de Administração da Plantar
Op-CP-29
Graças à competência acadêmica e à visão empresarial que sempre permearam a atividade de silvicultura no Brasil, conquistamos uma posição de vanguarda no desenvolvimento e na aplicação das mais modernas tecnologias de plantios florestais de grande escala no mundo: “Plantio com ciência, plantio consciente” já nos ensinou Nelson Barbosa Leite.
A fórmula “ciência mais atitudes empresariais conscientes” transformou o setor de florestas plantadas do Brasil no mais significativo exemplo de aplicação das avançadas leis ambientais do País, superando, em muitos casos, as próprias exigências oficiais. Com isso, o setor abriu caminho para o reconhecimento público, inclusive de esclarecidas ONGs no Brasil e no exterior, com reflexos positivos em importantes organismos multilaterais.
Faltava-nos, no entanto, a “tecnologia” de mensurar, verificar, monitorar e, especialmente, atribuir valor econômico aos benefícios climáticos gerados pelas florestas plantadas, que fosse globalmente aceita. Hoje, temos satisfação em dizer que o projeto pioneiro de reflorestamento da Plantar deu uma grande contribuição para o desenvolvimento dessa “tecnologia”.
O Projeto Plantar, muitas vezes polemizado injustamente em alguns foros onde o assunto fosse o Protocolo de Kyoto, teve, finalmente, no mês de abril deste ano, seus créditos florestais, os tCERs, emitidos pela UNFCCC, braço da ONU para o tema mudanças climáticas.
Foram os primeiros créditos florestais emitidos no mundo. Com isso, a ONU se juntou ao governo de Minas Gerais, do Brasil, ao Banco Mundial e a muitos outros parceiros do Grupo Plantar nesse projeto, no que se refere ao reconhecimento oficial do potencial de combate ao aquecimento global e às boas práticas florestais, ambientais e sociais realizadas pelo nosso setor. Hoje em dia, também temos tido a satisfação de ajudar outros parceiros desse e de outros setores, por meio da Plantar Carbon.
Foram 14 anos (dois ciclos produtivos do eucalipto) em que prevaleceram a fé, a persistência e o propósito firme de não aceitar que o desconhecimento de bem-intencionados e posições ideológicas desprovidas de base científica impedissem o reconhecimento de práticas de produção sustentáveis e dos benefícios da floresta plantada para o planeta, seja via sequestro (remoções líquidas de gases de efeito estufa) ou redução de emissões pelo uso da madeira plantada como matéria-prima renovável. Com essa aprovação da ONU, foi evidenciada mais uma fonte de produtos e de energia renovável no portfólio tecnológico brasileiro.
Apesar de o caminho ter sido longo, o momento em que esse fato ocorre é também interessante e representa o desafio da transição. No plano externo, já estamos entrando no segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto, mais modesto em função da ausência de alguns países, porém muito importante para a continuidade dos acordos multilaterais e do próprio mercado. Ao mesmo tempo, começaram as negociações de um novo instrumento legal, aplicável a todos os países, com base na chamada Plataforma de Durban.
O processo negociador deverá terminar até 2015, para que um possível novo acordo passe a vigorar a partir de 2020. Enquanto isso, o mercado mundial de carbono, tal como o resto da economia, encontra-se em crise, com os preços mais baixos da história.
Mais uma vez, entendemos que podemos aplicar o ditado de que é na crise que surgem as melhores oportunidades. A real demanda por reduções de emissões não só tende a crescer como também precisa disso, e muito, para que a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera volte a níveis seguros. Mais de 80% da matriz energética mundial ainda é baseada em fontes fósseis. No Brasil, 45% da matriz já é renovável, mas o desmatamento e a necessidade de mais crescimento nos desafiam.
No cenário doméstico, o Brasil continua com um déficit de madeira plantada para vários fins e trabalhando em políticas públicas e diversas iniciativas voluntárias de combate ao aquecimento global. É fundamental, portanto, incrementar os esforços de valorização do carbono florestal para que o setor e seus stakeholders, desde as comunidades locais até os acionistas, possam contribuir em larga escala para uma importante relação ganha-ganha.
De um lado, existe a necessidade de recursos adicionais para a expansão das florestas plantadas em bases sustentáveis, que também promova a conservação das nossas matas nativas. De outro lado, essas florestas retribuem com a geração de benefícios climáticos e socioambientais para o Brasil e o mundo, derivados da alta tecnologia de produção. Essa é a essência do MDL, instrumento de fundamental importância, que continuará no segundo período do Protocolo de Kyoto, apesar dos desafios das crises.
Mesmo quando pensamos em instrumentos e mecanismos alternativos ou complementares para o futuro, o ponto importante é que a base metodológica foi criada, com sucesso, por um trabalho de muitas mãos e serve de fundamento para a continuidade dos trilhos atuais ou para alternativas, sempre a partir dos rigorosos princípios da integridade ambiental.
Sem isso, não há credibilidade nem legitimidade. Vale destacar que mercados de carbono representam oportunidades de receitas adicionais, correspondentes ao serviço ambiental, e podem ser conjugados com outras contrapartidas econômicas, que valorizem a variável clima numa perspectiva ampliada.
Para além do uso de carvão vegetal renovável na siderurgia, os demais segmentos da base florestal, como celulose e papel, chapas, painéis, móveis, etc., também apresentam grande potencial de mitigação. Nesse sentido, além da “tecnologia”, é importante incrementar substantivamente os esforços de coordenação com as diversas ações governamentais.
Na prática, estamos em um novo ciclo de criação de marcos regulatórios, que podem gerar incentivos positivos para uns e negativos para outros. No Brasil, por exemplo, busca-se implementar a Política Nacional de Mudanças Climáticas e seus diversos instrumentos.
No cenário internacional, ocorre a discussão sobre a continuidade dos mecanismos existentes e de novos mecanismos, inclusive de mercado, que podem auxiliar países em desenvolvimento em seus esforços de mitigação, com base no princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas.
De fato, os desafios são crescentes e proporcionais à natureza do problema “mudanças climáticas”. Mas a tecnologia insiste em fazer das nossas árvores verdadeiras maquininhas de reciclar CO2, e, quanto mais produtiva a floresta, mais CO2 ela recicla. A valorização contínua e ampliada dessa propriedade, para que o setor supere as diversas barreiras existentes, depende de esforços de longo prazo, que não sucumbam às pressões do imediatismo e que sejam tão sustentáveis quanto o que buscamos praticar no campo.
Tivemos a satisfação de dar os primeiros passos em prol do reconhecimento econômico desse benefício. Agora, é possível usar a base criada para ampliar possibilidades e evitar ameaças futuras.
Certamente, a complexidade de tudo isso é muito grande e, para os céticos, presságio para a desistência ou para a busca de alternativas que aparentam ser mais fáceis, mas podem não se sustentar no tempo. Quando começamos, há 14 anos, não existiam metodologias, mercados, leis ou políticas de mudanças climáticas, muito menos um regime multilateral pronto.
Hoje, ainda falta muita coisa, mas bem menos do que já faltou um dia. Foi criada a “tecnologia”. “Tecnologia” que vai muito além das boas práticas de plantios de árvores. Muito obrigado a todos pelo apoio. Agora, é ir adiante!
Artigo publicado do site do Banco Mundial:
Projeto de reflorestamento do Brasil é o primeiro no mundo a receber créditos de carbono florestais (tCERs). “Esse é um excelente exemplo de uma indústria que trabalha de forma sustentável, plantando árvores e protegendo florestas nativas. Estamos trabalhando com o Grupo Plantar há uma década, e o fato de eles serem a primeira empresa no mundo a gerar os tCERs é um testemunho de sua inovação e dedicação,” disse Joëlle Chassard, Gerente da Unidade de Financiamento de Carbono do Banco Mundial.