Diretor de Sustentabilidade e de Relações Corporativas da Fibria
Op-CP-31
Sustentabilidade ainda é um conceito pouco compreendido pelo grande público, embora o tema apareça com frequência cada vez maior na mídia, na literatura e até no dia a dia das pessoas. Muitos acham que desenvolvimento sustentável significa crescer realizando compensações para que o meio ambiente e a sociedade, impactados pelos efeitos da expansão econômica, sejam “ressarcidos” de alguma maneira.
Na realidade, existe uma grande diferença entre tomar medidas paliativas para tentar contrabalançar os efeitos nocivos de determinada atividade econômica no meio ambiente – como plantar árvores para neutralizar as emissões de CO2, ou fazer doações filantrópicas – e ter a sustentabilidade como elemento fundamental das estratégias de negócio.
No caso da indústria de papel e celulose, e falando mais especificamente da Fibria, a sustentabilidade está na gênese da sua existência, que é baseada em recursos naturais renováveis – eucaliptos plantados, que, se não forem adequadamente repostos, levarão à exaustão da empresa. Por isso plantamos eucaliptos e, no intuito de fazê-lo bem, mantemos e regeneramos florestas nativas e temos mais de 35% de nossa área total destinada à preservação.
Em nossas unidades de produção, esses eucaliptos são convertidos em celulose, com altos níveis de controle ambiental, suprindo, a partir daí, os mercados brasileiro e mundial da matéria-prima que dá origem ao papel, que, em suas diversas formas, é um produto essencial na nossa sociedade.
Procuramos também fazê-lo apoiando o desenvolvimento das comunidades do entorno das nossas operações, por mais difícil que seja fazer isso em um país com as desigualdades e as contradições do Brasil.
Além do presente, encaramos também a sustentabilidade sob a ótica do futuro. Desde o século passado, o mundo vem experimentando uma mudança vertiginosa, e, olhando as projeções sobre como essas mudanças evoluirão no médio e longo prazo, verificamos que não há como fugir dos problemas intrínsecos ao crescimento econômico e populacional do planeta. É preciso enfrentá-los ou enfrentá-los, não havendo rota de fuga.
De fato, as projeções de influentes modelos indicam que, até 2050, a população global ultrapassará 9 bilhões, a produção de alimentos aumentará em mais de 70%, as mudanças climáticas – além de impactarem a vida em várias dimensões – afetarão a produtividade agrícola em todas as regiões do Planeta, a demanda por fibras florestais (madeira e papel) continuará a crescer e o uso de biocombustíveis requererá extensas áreas, competindo com outros usos já estabelecidos.
E, para ser sustentável, o enfrentamento desses desafios precisa ser feito de forma compatível com a proteção dos ecossistemas nativos, cada vez mais ameaçados, e a inclusão social de milhões de pessoas hoje marginalizadas.
Com esse contexto em mente, a Fibria, entre outras ações, elaborou um conjunto de metas de longo prazo (2025), que, além de fixarem compromissos, sinalizam as direções em que a empresa está empenhada em priorizar seus esforços. Essas metas, alinhadas ao planejamento estratégico da empresa, não significam o abandono de metas em outros temas, que poderão ser tratados por metas anuais, ou mesmo virem a se tornar metas de longo prazo.
São, a rigor, seis metas. A primeira diz respeito à redução em um terço da área florestal necessária para a produção de uma mesma quantidade de celulose, por meio do aumento da produtividade atual, de 10 toneladas de celulose/hectare/ano, para 15 toneladas hectare/ano.
Com isso, haverá menor concentração fundiária, maior disponibilidade de terras para outros usos e aumento de competitividade, com maior retorno para os acionistas. Essa meta tem um forte componente de inovação, pois busca dar um salto de qualidade no atual paradigma de produtividade florestal e industrial.
A segunda meta, bastante ambiciosa, mas perfeitamente factível, é a de duplicar a absorção de carbono da atmosfera, aumentando o sequestro líquido de carbono dos atuais 5,5 milhões de toneladas/eq/ano para 11,1 milhões de ton/eq/ano, por meio do aumento das áreas florestais e da restauração de áreas degradadas.
O balanço é calculado levando em conta a absorção e a emissão de carbono em todo o ciclo de responsabilidade da empresa, do plantio das mudas à entrega da celulose nos vários mercados.
A terceira de nossas metas diz respeito à proteção da biodiversidade, ameaçada pela extinção de espécies a um ritmo que nem conseguimos calcular. Comprometemo-nos a promover, até 2025, a restauração ambiental de 40 mil hectares de áreas próprias, com plantios de espécies florestais nativas e estímulo à regeneração natural.
A quarta meta objetiva aumentar a ecoeficiência de nossas operações industriais através da redução em 91% da quantidade de resíduos sólidos industriais destinados a aterros.
Trata-se de uma meta também ambiciosa, pois significa diminuir a quantidade de resíduos encaminhados para aterro de 60 kg para 5 kg por tonelada de celulose, por meio da diminuição de geração de resíduos nas fábricas, por um lado, e reutilização dos resíduos no solo, por outro.
As duas últimas metas estão no campo social e são igualmente ambiciosas. A quinta meta explicita nossa intenção de elevar para 80% o índice de aprovação nas comunidades vizinhas às nossas operações.
Hoje, essa taxa está em 50%, e, para elevá-la, será necessário melhorar a qualidade do relacionamento com as comunidades e apoiar os seus esforços de desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural.
A sexta meta, complementar à quinta, é a de ajudar essas comunidades a tornar autossustentáveis 70% dos projetos de geração de renda apoiados pela empresa – hoje essa taxa está em 5% –, fortalecendo sua independência. Para isso, trabalhamos na ampliação do modelo PDRT – Programa de Desenvolvimento Rural e Territorial.
Realizado em parceria com diversos órgãos públicos e baseado numa rede de compartilhamento de informações e recursos das próprias comunidades, o PDRT envolve a oferta de assistência técnica especializada aos moradores, a orientação para a comercialização dos produtos em programas governamentais de incentivo à agricultura familiar e cursos de capacitação profissional, tendo como premissa básica o respeito à vontade e o protagonismo das próprias comunidades.
A verdade é que as aceleradas mudanças ocorridas e sua evolução futura estão transformando a sociedade e também o ambiente de negócios, exigindo novos paradigmas para a sobrevivência das empresas. O sucesso do passado não é mais garantia de sucesso futuro, e, como ensinou Darwin sobre as espécies, os vencedores não serão necessariamente nem os maiores nem os mais fortes, mas os que melhor se adaptarem.
É preciso adaptar-se rapidamente, e é o que estamos procurando fazer, em um mundo de regras mutantes, com múltiplos atores inseridos na sociedade em rede, ambientes totalmente conectados e valores ambientais e sociais cada vez mais centrais para a sociedade.
Ao fazê-lo, acreditamos que estamos alinhados a vários outros atores – empresas, ONGs, governos, comunidades –, na tentativa de minimizar os inevitáveis ônus do desenvolvimento do planeta, ao invés de simplesmente pagar por eles depois que a conta chegar.