A história nos mostra que os estudos e pesquisas sobre plantios florestais de rápido crescimento, para a produção de madeira para usos específico, se iniciaram nos primeiros anos do século XX. Foram os trabalhos conduzidos por Navarro de Andrade, no interior do estado de São Paulo, focando, principalmente, a obtenção de madeira para uso energético.
Considera-se, no entanto, os anos de 1960 como marco do início da pesquisa com florestas plantadas orientadas para a obtenção de matéria-prima de uso industrial. Isso ocorreu graças à política governamental estabelecida para o setor, rapidamente respondida por ações empresariais, fazendo com que o Brasil saísse de uma insignificante posição, para se tornar uma das mais importantes referências mundiais nesse campo da atividade econômica.
Um aspecto importante e muito peculiar que, desde o início, identificou o setor foi a introdução do conceito da condução de pesquisas no modelo cooperativo, proporcionando sinergia entre empresas e universidades. Isso se estabeleceu mediante a criação de instituições, como o Ipef, que foi o pioneiro, para atuarem como agentes de facilitação e gestão de recursos e a indução dos estudos, de modo que os resultados atendessem, objetivamente, às demandas do setor. Esse modelo foi altamente relevante para a rápida geração e difusão tecnológica.
A sinergia entre técnicos das empresas e o quadro acadêmico teve um papel fundamental, conduzindo o setor de florestas plantadas para um patamar superior de referência quanto à aplicação de boas práticas, no que, ainda hoje, ele é destaque no campo da produção agrícola.
Hoje, o setor de florestas plantadas para obtenção de madeira para fins industriais se encontra totalmente consolidado, num nível de reconhecimento internacional. Ele tem oferecido uma importantíssima contribuição econômica, ambiental e social para o País, e sua atividade se encontra em franca expansão.
No entanto é evidente que os desafios não cessaram. Não é por acaso que tenha ocorrido a agregação de novos aspectos a serem tratados, comparativamente aos que existiam nos estágios iniciais dos plantios florestais em nosso País. Atualmente, é difícil imaginar a produção de madeira para abastecimento industrial sem que a ela estejam incorporados temas como alta especificidade de clones, manipulação genética, precisão e eficácia da nutrição, do manejo e da proteção, microbiota e produtividade por site específico, especificidades na relação matéria prima x processo x produto final, desempenho e impacto de máquinas, tecnologia da informação, modelagem, drones, satélites, sustentabilidade, recursos hídricos, efeitos climáticos, certificação e ESG etc. São assuntos altamente relevantes, que estão a exigir um novo esforço de estudos, para os quais a manutenção da sinergia entre atores será fundamental para as respostas rápidas e otimizadas que deles resultarão.
Sabemos que, para a evolução da pesquisa, faz-se necessária a disponibilização de recursos, tanto financeiros como humanos. Em geral, hoje, os recursos aplicados em pesquisa no setor de florestas plantadas têm suas origens de pleitos realizados pelos interessados, junto às chamadas “valas comuns”, de apoio oriundo dos órgãos oficiais de fomento. Têm sido escassos ou mesmo inexistentes programas de estímulos específicos para o setor.
Seria muito oportuno que eles existissem, o que, mediante a sinergia da participação do governo, ampliaria o potencial de respostas no campo da pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. O setor tem se mostrado bastante capaz de a isso responder, mediante resultados eficazes e altamente significativos de desempenho e de contribuição para o País, em seus componentes econômicos, sociais e ambientais.
Em se considerando as empresas, elas sempre estiveram atentas à pesquisa, mediante a manutenção de equipes e estruturas próprias. Além disso, foram estrategicamente capazes de participarem da implantação e, ainda hoje, mantém estruturas de apoio externo, visando ao desenvolvimento de ações cooperativas, como é o caso do Ipef, com seus mais de 50 anos de existência, onde a sinergia é total e amplamente praticada.
No contexto do capital humano, principalmente considerando a pós-graduação, o setor encontra-se bem contemplado, pelo menos no aspecto quantitativo. Existem cerca de 20 programas de pós-graduação na área florestal, bem distribuídos, considerando as regiões onde se concentram as atividades vinculadas ao setor de florestas plantadas.
Mais da metade dos programas oferecem formação em nível de mestrado e doutorado, a maioria deles desenvolvendo ações de pesquisa na área de florestas plantadas, em suas mais variadas vertentes. No aspecto qualitativo, no entanto, melhorias poderiam ser incrementadas, sobretudo no sentido da definição de uma matriz central bem estruturada de temas de interesse para o desenvolvimento das dissertações e teses. A sinergia de trabalhos entre as instituições de ensino também precisa ser mais estimulada.
Não há dúvidas de que ainda existem desafios importantes a serem enfrentados pela pesquisa florestal em florestas plantadas. Certamente, a lista seria grande e mereceria um capítulo à parte. Há, no entanto, alguns aspectos estratégicos que a encabeçariam.
O setor desenvolveu e ainda mantém um modelo próprio e bem estruturado para condução de pesquisas no formato cooperativo. Conforme já mencionado, isso tem oportunizado o diálogo, a integração e a sinergia de atores, tanto das empresas como das universidades e instituições de pesquisa.
Tal situação tem permitido o estabelecimento de um senso comum de necessidade e demandas de estudos, fazendo surgir uma espécie de Plano Diretor de P&D. Esse modelo, no qual o Ipef se insere, representa uma importante parcela do setor de florestas plantadas no País. Pode-se afirmar, contudo, que isso não tem sido suficiente para englobar todo o rol de demandas dos demais participantes na produção do setor.
Há uma parcela significativa de produtores, que, não integrados a esse modelo, não têm sido contemplados com a definição de um claro direcionamento de ações de P&D que possam responder às suas necessidades. Na mesma proporção, não se desenvolveu nenhum modelo de sinergia entre seus componentes, considerando espaços para colocação de demandas e respectivas respostas. Nesse contexto, encontram-se os pequenos e médios produtores florestais, os quais, por exemplo, poderiam ser alvo de atenção das instituições governamentais de pesquisa na área de florestas plantadas.
É fato que, no Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas, estabelecido em 2018, pelo MAPA, é uma importante iniciativa de orientação para o setor. Contudo ele mereceria ser revisitado e aperfeiçoado, em relação ao pequeno capítulo dedicado à pesquisa, particularmente, no sentido da maior clareza e complemento das propostas e, nesse contexto, ações específicas que induzissem à sinergia de ações.