Diretor Florestal da Eco Brasil Florestas
Op-CP-32
A silvicultura brasileira deixou de ser, há muito tempo, uma simples atividade agrícola. É muito mais. Alimenta enorme cadeia produtiva e gera inúmeros serviços à sociedade. Daquela atividade voltada exclusivamente à produção de madeira, inúmeros benefícios adicionais foram sendo observados na medida em que o profissionalismo foi se instalando no setor.
Proteção de recursos hídricos, conservação da biodiversidade, empregos de qualidade, integração com comunidades são alguns dos inúmeros benefícios gerados pela silvicultura. Mais recentemente, passou até a instrumento de marketing dos programas de sustentabilidade de grandes empresas. Novidade, de fato, é ser usada como plataforma dos programas de sustentabilidade.
As demais atribuições são inerentes à silvicultura bem-feita. Dos tempos dos incentivos fiscais, quando teve uma grande alavancagem, aos dias atuais, a atividade apresentou significativas mudanças. Com pesados investimentos em pesquisas, a produtividade saltou de 15/20 metros cúbicos/ha/ano para mais de 50 em algumas regiões.
Esse desenvolvimento tecnológico proporcionou musculatura para o setor crescer, desenvolver-se e aprender a valorizar, permanentemente, a pesquisa, as experimentações, a ciência florestal. E a silvicultura competitiva transformou-se também em excelente alternativa de negócio. A competitividade deu oportunidade para que empresas brasileiras se transformassem em líderes no mercado internacional, e o bom negócio serviu como atrativo para inúmeros produtores independentes.
É, indiscutivelmente, a atividade rural que mais se preocupa com o Código Florestal e com respeito às questões sociais e ambientais. Esses aspectos ficaram consolidados com os processos de certificação florestal e mais valorizados ainda pelos acordos internacionais que tratam da sustentabilidade dos processos produtivos e dos quais o Brasil é signatário.
No entanto, com toda essa riqueza de contribuições, a silvicultura brasileira vive paradoxos preocupantes. A quantidade de exigências legais que recaem sobre o setor, a apatia do Governo Federal na definição de políticas públicas e a quantidade de obrigações marginais que vão se tornando regras no dia a dia dos silvicultores são algumas das preocupações que impactam no brilho competitivo e econômico da atividade.
Não há dúvida de que, para que a silvicultura cresça e continue atrativa para pequenos, médios e grandes empresários, é imprescindível que se mantenha interessante do ponto de vista econômico. Sem viabilidade econômica, a silvicultura vai se limitar às obrigações legais das grandes indústrias. Um jogo em que todos perdem: os que a desejam como negócio e os que se beneficiam de seus serviços sociais e ambientais.
Os custos marginais adicionados à formação das florestas crescem continuamente e não acrescentam nenhum valor ao processo produtivo e aos serviços prestados à sociedade. Quanto às exigências legais, é flagrante a diferença entre o que se cobra da silvicultura e o que se cobra de outras culturas.
Essa diferença – para um, tudo, e, para outros, quase nada – fez até com que muitos passassem a defender ferrenhamente o Ministério da Agricultura como endereço institucional do setor. Cria enorme perplexidade o descaso com que a silvicultura é tratada dentro do Governo Federal. Não há quem assuma a responsabilidade pelas definições de suas políticas públicas.
E, nesse vazio institucional, criam-se exigências e penduricalhos legais que não contribuem em nada para aumentar o valor das florestas. Com respeito à disponibilização de financiamentos, outra grande diferença: para a atividade agrícola, orçamentos crescentes, negociações de dívidas e vamos que vamos...
Para a silvicultura, poucas alternativas e com enormes dificuldades. Fala-se em financiamentos, mas só quem se atreveu a procurá-los pode imaginar as dificuldades para se obter. Dificílimo para o grande e de um sacrifício desanimador e quase impossível para o médio e pequeno produtor. Na verdade, a silvicultura vive e se desenvolve sem financiamento.
E as dificuldades se sucedem. Talvez a silvicultura tenha se transformado em símbolo de grandes e poderosas empresas e, com isso, carrega obrigações e responsabilidades incompatíveis com a atividade. A grande indústria que consome madeira tem sido obrigada a credenciar-se aos mais diversos certificados: de manejo florestal, de qualidade, de respeito às legislações trabalhistas e ambientais, etc.
Em contrapartida, mais recentemente, a floresta tem servido como instrumento para programas de sustentabilidade. Tem sido, em muitos casos, a inspiração e o grande mote para as estratégias comerciais. Essa é uma constatação louvável e não cabe nenhuma recriminação. Mas há de se determinar o limite em que, de fato, tudo isso contribui para o enriquecimento técnico, econômico, social e ambiental do empreendimento florestal.
Para o pequeno produtor, a sustentabilidade vai um pouco além da porteira da fazenda, enquanto, para a grande indústria, a sustentabilidade roda o mundo. Desse contexto, surgem importantes questionamentos: como fazer para contemplar esses interesses, sem discriminar a silvicultura do grande e a do pequeno produtor? Como manter a silvicultura isenta de penduricalhos improdutivos? Como fomentar a silvicultura para geração de serviços ambientais e sociais sem perder o valor econômico? Será que não estamos no momento de reiterarmos o velho pleito por um nicho institucional próprio?
Há muitos que não perdem a convicção de que a silvicultura só terá suas questões resolvidas quando isso acontecer. Um ministério? uma secretaria especial? ou o redesenho e o fortalecimento do Serviço Florestal Brasileiro? Há muitos que não perdem a esperança de que isso aconteça. Daí, com certeza, vamos ter uma silvicultura cada vez mais à disposição e a serviço de toda a sociedade.